A Lagartixa, o Jacaré e a Candidíase

Com toda a honestidade, o Velopata não leu integralmente o “artigo”.

Já tanto tempo é perdido com trivialidades e coisas supérfulas que, um Velopata perder mais uns minutos que fosse com disinterias cerebrais regurgitadas por um moçe com nocões políticas no mínimo sui generis, pareceu de menor relevância para o seu quotidiano quando, por exemplo, comparado com o visionar do novo sublime teledisco da Maria Leal.

Que consegue ser menos absurdo que o escrito e publicado por esta aventesma.

Para os afortunados que ainda não descobriram esta pérola opinativa à qual o Velopata se refere, merecedora de um lugar de destaque por entre a categoria da Literatura de Ficção Não-Científica e do Fantástico (fantásticamente absurdo, neste caso), em qualquer prateleira, o Velopata refere-se ao “artigo” escrito por Pacheco Pereira no seu espaço “A Lagartixa e o Jacaré” promovido pela revista Sábado e mentalmente defecado a sete de Abril deste ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de dois mil e dezanove.

Começemos por quem é Pacheco Pereira. Um estadista acérrimo defensor da Liberdade até ao dia vinte e cinco de Abril do ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de mil novecentos e setenta e quatro, pois após essa data optou por migrar da ala esquerda para a direita, para muitos anos volvidos chegar mesmo a defender que Portugal devia banir a actual proibição a partidos de defici… Mongolói… Atrasados ment… Fascistas.

Esta espécie de vira-casacas político até podia parecer estranho, no entanto, foi notado pela Srª Velopata, sendo mais versada nas artes da Psicologia de bicho humano, que isto podia muito bem ser uma espécie de variante de Síndrome de Estocolmo, tendo explicado ao Velopata que é mais ou menos como aquela malta que é vítima de abuso e porrada e mau-viver mas depois sai em defesa de seus agressores porque são uns coitados e incompreendidos e coiso.

Talvez por isso mesmo, Pacheco Pereira muito tenha lutado contra o regime salazarista no conforto do estrangeiro lá de fora (passar belas férias no Tarrafal era coisa que certamente não lhe assistia assim arriscando couro e cabelo na luta pelo ideal da Liberdade), por ser contra as ideias fascizóides do regime em detrimento do que ele defendia pois pela sua lógica parecem existir dois tipos de defici… Mongolói… Atrasados menta… Fascistas. Os que estão certos e os errados.

pachecopereira
Como não confiar nesta fofinha expressão de político?

Mas um Velopata já sai disparado a divagar do tema que hoje o traz até ao mui querido leitor.

Aquele “artigo” de opinião.

Iniciemos a análise ao texto de Pacheco Pereira, que só de um mero vislumbre, rapidamente se percebe o quão fit e adepto de desporto este moçe é.

“Os carros eléctricos, eu compreendo, aceito e aplaudo.”

Pois o Velopata também entende os enlatados eléctricos.

Forças de Segurança, Bombeiros, INEM, ambulâncias e afins, todos deviam ser equipados com latas eléctricas e Ponto Final Parágrafo.

Agora dotar o bicho humano comum de uma lata eléctrica parece ao Velopata uma simples maneira de… Mudar as moscas e se dúvidas o mui querido leitor tem, atente às fotografias abaixo;

engarrafamento1
Os famosos engarrafamentos do Século XXI, quando o ignóbil enlatado com um básico e primitivo motor de combustão ditava a lei.
engarrafamento1
No futuro, quando todos os enlatados com motores de combustão forem substituídos por motores eléctricos, será este o aspecto do mesmo cruzamento da fotografia anterior. Muito melhor, portantos.

Encher Lisboa de trotinetas e bicicletas e diminuir drasticamente o espaço para os automóveis, não.

Em tempos idos, o Velopata acarditava que um político, cargo demais importante na gestão de um país, tinha a obrigação de ser um ás na sua língua materna de forma a evitar mal-entendidos, assim assegurando uma correta e inequívoca comunicação com seus párias logo, o que raios é uma trotineta?

Será, de acordo com o Diccionário da Língua de Camões, uma plataforma alongada montada sobre duas rodas, colocadas uma à frente e outra atrás, sendo a da frente orientada por um guiador que se estende verticalmente a partir desta?

É que isso é uma trotinete.

Depois, e é aqui que entramos no capítulo da Ficção Não-Científica, em antes de tudo, um político devia privilegiar e salvaguardar a saúde população que o elegeu, estando atento às mais diversas divulgações científicas antes de tomar conscientes decisões ou opinar seja lá em que formato (discursos, textos, elaboração de leis), de modo a sempre garantir e acima de tudo, melhorar a qualidade de vida de seus concidadãos.

Segundo vários estudos de inúmeras universidades europeias, há um claro indicador e uma relação de causa-consequência entre a saúde da população de uma determinada cidade e o número de enlatados que nela circulam. E a relação não é própriamente feliz – quanto mais enlatados em circulação, maior o número de doenças pulmonares, alergias e muitas outras maleitas que incidem sobre a população.

Mas lá está, retirar espaço ao enlatado para permitir e promover a proliferação de outros meios de transporte mais suaves e ambientalmente sustentáveis e coiso… Isso será certamente na opinião de Pacheco Pereira, coisa de fascistas das Bicicletas e do ambiente e do salvem os golfinhos e coiso, portantos, fascistas, só que lá está, daqueles que estão errados.

Primeiro, Lisboa não é Amesterdão…

Desde já, em nome de toda a população portuguesa e quiçá visitantes de outros planetas, um Velopata agradece.

Imagine-se que um extraterrestre já tinha visitado Amesterdão e agora, já que Portugal está turísticamente na moda, aterrava seu O.V.N.I. no Bairro Alto durante uma veraneante noite de sábado.

Aquela atmosfera entupida em cheiro a ganza, aliada à parca indumentária que as fêmeas actualmente usam, mesmo não se encontrando em exibição nas vitrines, poderiam induzir um E.T. em erro quanto à sua localização geográfica.

Lisboa não é Amesterdão.

Verdade seja escrita, tal é real e imutável.

Mas nem Copenhaga é Amesterdão.

Ou Munique.

Ou Londres.

Ou Sevilha.

Ou…

O Velopata podia aqui continuar enumerando inúmeras cidades que, à semelhança de Lisboa, não são planas quando comparadas com Amesterdão, no entanto, não foi por motivos orográficos que todas estas grandes urbes decidiram resgatar suas avenidas, centros e baixas do tirânico jugo opressor do enlatado para as devolver aos bichos humanos.

E o resultado? As cidades cheiram melhor, seus bichos humanos respiram melhor mas fundamentalmente, vive-se melhor.

Lá está, mais uma vez, Pacheco Pereira opina sobre algo do qual desconhece os factos empíricos e científicos registados em muito outras urbes.

Mas não é apenas a Ciência e a Estatística que Pacheco Pereira parece desconhecer, esquecendo ainda duas outras verdades universais e imutáveis.

Filosofia não é Mobilidade Urbana.

Pacheco Pereira não é Mikael Colville-Andersen.

Atentai ao Velopata, por exemplo. Sendo licenciado em Biologia Marinha e mesmo tendo já ouvisto muitos documentários sobre Astrofísica e Física Quântica e inclusivé tendo mais ou menos percebido o final do filme Interstellar, o Velopata jamais seria capaz de se meter a opinar sobre temas como Buracos Negros ou Antimatéria.

Pacheco Pereira parece esquecer que é licenciado em Filosofia, esse curso deveras importante para as sociedades modernas e contemporâneas.

Fica então a questão; se Mikael Colville-Andersen, especialista dinamarquês em Mobilidade Urbana e altamente conceituado e reputado e coiso por entre os meandros da União Europeia, escrevesse um magistral texto onde eram esmiuçadas aquelas importantes questões da humanidade do Século XXI como “quem somos?”, “de onde viemos?” e “para onde vamos?”, seria este levado em conta por Pacheco Pereira?

(Nota velopatóide: actualmente todos sabemos a resposta às três importantes questões acima; somos macacos sem pêlo com a mania que são a última bolacha do pacote que é o Universo, todos viemos de uma patareca e vamos lançados à extinção em massa, se continuarmos na senda enlatada que Pacheco Pereira defende.)

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Mikael Colville-Andersen. Um moçe que até sabe do que fala e escreve, capaz de facilmente refutar tudo o que foi defecado por Pacheco Pereira.

“…chove ou devia chover o suficiente para as tornar um meio de transporte penoso grande parte do ano…”

O Velopata é obrigado a dar a manete à palmatória.

É impossível não concordar com Pacheco Pereira – devia chover o suficiente sim, mas não para tornar a Bicicleta ou a trotinete um meio de transporte penoso mas sim porque nas muitas voltas que o Velopata dá pelo seu serrano quintal algarvio, rapidamente se percebe que muita chuvinha faz falta aos campos e os níveis hídricos das barragens estão pelas ruas da amargura.

Até porque pedalar à chuva nada tem de penoso, mostrando Pacheco Pereira ser desconhecedor de uma das valiosas leis da Velocipedia – não existe mau tempo, só mau equipamento.

É justamente neste ponto de seu texto que o nosso mui querido licenciado em Filosofia cai em algo que esta malta filosofante muito gosta. O paradoxo. Se Lisboa não é Amesterdão, como explicar que lá se pedale tanto quando a nossa capital tem muito melhor metereologia; menos frio, menos chuva, menos vento e inclusivé, menos neve?

Serão os holandeses, um povo acometido de algum desejo masoquista?

Ou (e com esta bojarda velopática, qualquer moçe com ideais de facharia seguramente se cuspirá à grande), serão os holandeses mais rijos que os portugueses?

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Aquele que doravante será conhecido como O Paradoxo de P.P.. Porque razão se sujeitam os amesterdãonienses a isto?

“…andar de bicicleta ou trotineta, em meio urbano, e numa cidade como Lisboa, sem regulamentação de segurança, a começar pela obrigatoriedade de uso de capacetes, é perigoso…”

Sem regulamentação de segurança…

Sempre foi ideia velopática que a malta das Filosofias deve ler muitos livros, no entanto, para Pacheco Pereira, o Código da Estrada não é bem um livro, muito menos um dedicado às básicas regras de conduta e segurança no alcatrão português.

Fica então uma questão pertinente; será que à semelhança de tantos outros da nossa classe política, a Pacheco Pereira também foi atribuída a Carta de Condução através de equivalências, uma vez que quando era petiz, seu pai assentou-o ao volante da lata e deram umas voltas no parque de Estancionamento lá do bairro…

Quanto ao capacete, novamente o Velopata é forçado a dar a manete à palmatória.

Ainda nem há uns dois dias, durante o seu trajecto local de labuta-casa na urbe farense, o Velopata seguia ao comando da sua fiel montada Cappuccino quando chegou a um cruzamento onde a prioridade era sua, no entanto, vinha de lá um enlatado a bem mais de cinquenta quilómetros por hora que não respeitou a prioridade velopática, mas acarditais que um Velopata temeu pela sua segurança e vida e coiso?

Claro que não.

Porque um Velopata usa sempre capacete, adereço capaz de o salvaguardar até quando uma lata de uma tonelada que se desloca a setenta, oitenta, ou noventa quilómetros por hora o pretende levar à frente. E se Pacheco Pereira tem dúvidas do resultado físico-aritmético que semelhante encontro pode provocar, um Velopata explica; termina com um Velopatazinho orfão de pai.

(Nota velopática: em antes que venham daí os Ofendidos do Capacete protestar com um Velopata, ele deve lembrar que é um fervoroso adepto da Liberdade – cada um sabe de si, retirem etiquetas parvas às coisas, como “não beber detergente em copos de shot“, e deixem a Selecção Natural seguir seu curso.)

“…porque a seguir aos tuk-tuks, as bicicletas e trotinetas trouxeram, o caos para a cidade…”

Sendo Pacheco Pereira licenciado em Filosofia, esperar-se-ia que recorresse ao cérebro para matutar como quem matuta mesmo em antes de escrever ou publicar o que lhe vai na alma.

Se é que um político tem alma.

Em antes de se lançar a escrevinhar as linhas que o mui querido leitor agora lê, o Velopata fez o Têpêcê e decidiu coscuvilhar um pouco mais sobre a vida deste tal de Pacheco Pereira (um bem haja ao Wikipedia).

Segundo o Velopata apurou, parece que Pacheco Pereira foi Vice-Presidente do Parlamento Europeu entre os anos de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de mil novecentos e noventa e nove e dois mil e quatro. Ou seja, o moçe nem se encontrava em Portugal, vivia no estrangeiro lá de fora, rapando o tacho.

E já se sabe como é quando estamos longe do lar.

Fica-se com saudades e esquecem-se os problemas, tudo o que se deixou para trás parece mais bonito, luzidio e incólume.

Já um Velopata alembra-se bem da sua adolescência e entrada na idade mais ou menos adulta, quando vivia em Lisboa. Se ele queria ir do ponto A ao ponto B que distavam mais ou menos meia hora de viagem, tinha sempre de se acrescentar mais uma hora devido ao… caos do trânsito. Mas pelos vistos, para Pacheco Pereira tudo estava bem até que as Bicicletas e as trotinetes vieram usurpar o espaço do enlatado…

Com este seu raciocínio, Pacheco Pereira amostra ainda uma outra maleita, a qual muitos outros bichos humanos portugueses que têm experiência no estrangeiro lá de fora costumam padecer.

Parece que somos tão atrasados em relação aos nossos párias europeus que essa maravilha da inovação tecnológica que é a Bicicleta, só agora chegou a Portugal, enquanto em muitos outros países europeus, estas já circulavam deste os finais do século XIX…

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A família real portuguesa circa ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de mil oitocentos e noventa e três. Não que o Velopata seja adepto de monarquias… Onde já se viu… Prestar vassalagem a um mafarrico qualquer só porque nasceu desta ou daquela patareca…

“…porque afasta crianças, deficientes e idosos da cidade, quer no que precisam de fazer, quer no lazer que possam procurar…”

Hã?

Como é que é?

Este é certamente o ex-libris do “artigo” de Pacheco Pereira.

Quer-se dizer que é devido às Bicicletas e trotinetes que os petizes e as pessoas com necessidades especiais e mobilidade reduzida fogem das cidades?!?!?

Mas será isto um “texto” escrito a sério?

É óbvio que qualquer extremoso progenitor prefere ter petizes a brincar por entre enlatados que circulam habitualmente em excesso de velocidade e, em caso de colisão e atropelamento, a única coisa que ganham é uma manchita vermelha na lata da lata, por comparação com Bicicletas e trotinetes que, a dar-se uma colisão, muito provavelmente saem todos aleijados. Petiz e Ciclista. E mesmo que o embate não machuque muito o Ciclista, a perseguição pelo progenitor do petiz e consequente carga de porrada devido à sua ausência de zelo, certamente deixarão suas marcas. Já no caso do enlatado, este muito provavelmente faz o que muitas vezes é o modus operandi – fogem.

E é óbvio que qualquer pessoa de mobilidade reduzida prefere circular numa cadeira de rodas por entre latas de uma tonelada em excesso de velocidade do que por entre Bicicletas e trotinetes.

Mas é que é lógico, só não vê quem não quer.

O “artigo” de Pacheco Pereira fica-se por aqui, na sua edição disponível gratuitamente online. O Velopata confessa que nem tem vontade de ler mais, pois deduz que seja apenas um continuar de parvoíces escrevinhadas por quem pode perceber muito de Filosofia mas nada de Mobilidade Urbana. Ou bom-senso. Ou saúde. Ou ambiente e coiso.

Agora em quem o Velopata não consegue deixar de pensar é na grande Doutora Rute Remédios.

Já ela afirmava que as opiniões eram como as vaginas, quem as quer dar, dá, no entanto, aplicando a mesma metáfora ginecológica ao artigo publicado por este autocolante, parece ao Velopata que uma vagina com candidíase e que apresenta corrimento de cheiro fétido… Se calhar não devia andar por aí sendo partilhada.

 

Abraços velocipédicos,

Velopata

Um comentário sobre “A Lagartixa, o Jacaré e a Candidíase

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