Algo há que copiosamente flui da face de todo o bicho humano que experimenta a sensação do acto de revolução dos pedais. Algo acolhedor e confortante que inunda a alma.
O descartar de fatos, gravatas, uniformes da labuta quotidiana.
O dissipar de hierarquias, títulos ou qualificações, unidos sob uma mesma bandeira de força motriz.
O apelo, por vezes gélido, por vezes escaldante, da inesgotável junção de licra e borracha vulcanizada. E carbono. E lentes polarizadas que não escondem sorrisos ou dores nem por ínfimos segundos.
Fibras e músculos que torcem e distrocem, catadupas de súor libertadas enquanto nos empurramos para o cume, corações espremidos contra o esternocleidomastóideu.
Estômagos e esfíncteres contraídos enquanto se desce a pouco recomendáveis quilómetros por hora entre paus e pedras e ravinas que pacientemente desbravam todo o boculismo que anseia por ser abraçado.
Ou gentilmente pairando.
Conectados através do movimento cinético de corpos e Bicicletas.
Enquanto cada um gladia, explora e partilha as privações que todos acaba por unir.
Pedalar na direcção de lado nenhum, peito e pernas na iminente implosão.
Mais depressa.
A sensação de voar.
As sisudas faces aprisionadas no interior de toneladas de chapa.
Ziguezague.
Desfocadas, são deixadas para trás com seus esgares de inveja enquanto sonham com a libertação de seu marasmo enlatado.
Pôrra, que saudades.
Abraços (à segura distância higiénica) velocipédicos,
Velopata