Ontem foi um dia de emoções. O Velopata acompanhou a Srª Velopata à farmácia e qual não é o espanto quando ao olhar para a fila do lado quem é que o Velopata vê? O Sir Bradley Wiggins!
Óbviamente o Velopata, enquanto fã de ciclismo que é, decidiu desafiar o vencedor da Volta a França de 2012 para uma cafézada e vários dedos de conversa. Claro está que o Velopata bebeu café enquanto Sir Bradley Wiggins, como bom british que é, bebeu chá.

VP: Antes de mais parabéns pelo recorde da hora. Como é que foi treinar para isso?
BW: Foi extenuante. Muitas horas no velódromo e muitas mais a estudar o G..
VP: Quando dizes o G. estás a falar do teu colega de equipa, o Geraint Thomas?
BW: Não, estou a falar do hamster da minha filha. Passei muitas horas a estudar a sua posição aerodinâmica na rodinha que ele tem na gaiola. Aquilo é que é endurance, sempre a noite toda a rolar. Aprendi muito a observá-lo.
VP: Então agora que acabaram os 6 dias de Gent, essas espectaculares provas de pista, sempre te vais reformar?
BW: Sim, vou pendurar as rodas. Até ao próximo ano e as próximas corridas.
VP: Como? É impressão minha ou já é a terceira vez que dizes que te vais reformar mas depois regressas à competição?
BW: E então? O Dopalero também disse que se ia reformar e afinal vai competir mais um ano.
VP: Desculpa, mas quem?
BW: O Dopalero. Ou Pistolero como vocês lhe chamam. O Contador.
VP: Ah, sim.
BW: Ou mesmo como os The Cure que ainda há uns dias tocaram no teu país. Todos os anos eles anunciam o final da carreira e passado uns tempos voltam a editar um álbum e a dar concertos. É uma das coisas que temos em comum, os músicos e os rockstars como eu, todos temos contas para pagar.
VP: Então e esta polémica dos hackers do Fancy Bears ou como lhes chamamos em Portugal, os Ursinhos Supimpas?
BW: O que é que tem?
VP: Bem, na tua língua materna poderíamos dizer they´ve got you by the balls.
BW: Porquê? Não fiz nada de errado.
VP: Bem, na realidade não, mas tens de admitir que tomar um esteróide de conhecidos efeitos dopantes (tramadol), imediatamente antes das principais provas que venceste, alegando estares doente, no mínimo, soa estranho.
BW: Isso eu tenho de agradecer à minha mulher.
VP: Explica lá isso.
BW: Antes das grandes provas o boss da equipa, o carecão, tem sempre uma reunião com a minha mulher onde decidem qual o modo adequado para que eu adoeça. Por vezes ela deixa o ar condicionado no frio durante a noite toda, outras já me alimentou com carne estragada; depende sempre da exigência da prova e do objectivo da equipa.
VP: Isso não te parece injusto?
BW: Injusto para quem?
VP: Bem, para os restantes ciclistas.
BW: Não tenho culpa que as suas respetivas mulheres não os apoiem na sua carreira. E que as suas equipas não tenham deale… médicos com know-how técnico-táctico.
VP: E há ainda uma outra questão, o facto de referires na tua biografia que nunca haveis tomado nenhum injecção que não vitaminas e outros suplementos legais.
BW: E mantenho o que escrevi, não tomei.
VP: Podes explicar como é que haveis tomado o tal esteróide injectável, o tramadol?
BW: Por supositório.
VP: Como?
BW: Supositórios. O boss carecão fez estudos no túnel de vento e descobriu que os buraquinhos que as agulhas deixam na pele te fazem perder 0,0000005 watts em cada 300 quilómetros, ou seja, não são aero. Por isso ele faz questão que tomemos todos os medicamentos e suplementos em supositórios. E é ele mesmo que os introduz, para verem a confiança e o respeito que ele deposita nos seus atletas.
VP: Ah, já sei, é a tal história dos ganhos marginais.
BW: Nem mais.
VP: A meu ver continua a parecer injusto.
BW: Outra vez? Mas injusto para quem?
VP: Para os restantes ciclistas.
BW: Então mas se um gajo está doente tem de tomar qualquer coisa que torne a coisa mais justa e possa competir em igualdade com outros, não? Olha o caso do meu ex-colega, o Froomster. Ele tem asma desde puto logo tem de tomar qualquer coisa que lhe permita competir com os melhores.
VP: Estás a falar do Tour da Romandia e quando ele foi filmado a usar um inalador.
BW: Sim, claro. Se bem que o boss carecão não deve ter gostado nada disso, mas em prova era difícil parar para que lhe pudessem aplicar o supositório. Ainda por cima para além das motas a filmar poderiam estar crianças a ver.
VP: Bem, qualquer dia teremos um amputado a pedalar com vocês com uma perna cibernética auxiliada por um motor.
BW: Não vejo porque razão isso seria um problema.
VP: Como não?
BW: Então só porque o rapaz não tem uma perna isso não significa que não tenha direito a competir e tentar vencer a camisola amarela. Isso seria pura e simples discriminação!
VP: Mas não achas que este tipo de atitudes torna o desporto de alta competição menos prestigiante?
BW: As regras da União Ciclísta Internacional são simples. Todos os ciclistas devem estar em igualdade. Se tu não tens pernas para te aguentar então instala um daqueles motorzinhos na bicicleta. Ou toma qualquer coisa que te permita estar com os melhores. É simples.
VP: E em relação ao tal pacote secreto que se descobriu ter-te sido entregue durante o Tour? Queres elaborar?
BW: Não tenho nada a esconder e a verdade é muito simples. Esqueci-me do maço de tabaco em Londres e vieram-mo entregar.
VP: A sério, tabaco?
BW: Sim, tabaco e um xito marroquino que era cá uma pomada…
VP: Desculpa mas tinha a ideia que a cannabis também estava na lista de substâncias proibidas a ciclistas.
BW: Estava e está. Mas como sou amigo do Arnaldo ele arranjou aos dealer…aos médicos da minha equipa uma daquelas receitas para quem sofre de ansiedade. Assim fiz um requerimento à UCI e eles deixam-me fumá-la.
VP: Desculpa mas quem é o Arnaldo?
BW: O Arnaldo Schwarzenegger.
VP: Ah…
BW: É que isto de fazer corridas de bicicleta cria muita ansiedade num gajo. E é como já disse, eu fico ansioso e outros não ficam, logo tenho de tomar qualquer coisa para ficarmos todos em igualdade.
VP: Ok, ok…e já agora, se é que posso saber, o que haveis comprado na farmácia?
BW: Vinha comprar Brufen mas não comprei.
VP: Não tinham?
BW: Tinham sim, só que não havia em supositório.
Abraços velocipédicos,
Velopata
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