Ah… As maravilhas do Campismo. Só que não.

Campismo.

Ou fazer quiçá até praticar o Camping para aqueles que preferem tudo o que é actividade com nomenclatura em anglosaxocamónico porque dá logo aquela pinta mais técnico-táctica à coisa.

Refere o Wikipedia que Campismo define-se como o local onde se estabelecem barracas ou tendas, geralmente com proximidade à Natureza, sendo toda a infraestrutura levada pelos próprios. Os campistas, portantos.

No caso específico da família velopática, nem toda a infraestrutura foi carregada pelos próprios, por exemplo, eles contavam que o Parque de Campismo criteriosamente seleccionado fosse dotado de uns lavabos onde seria possível dar banho com um mínimo de higiene e claro, um local reservado às necessidades fisiológicas que não o ancestral atrás da moita.

(Nota velopatóide: sabes onde podeis meter essa outra modernice anglosaxocamónica do Glamping? Sabeis?)

Ainda segundo fontes wikipédicas, Campismo é também sinónimo de Acampamento.

Hoje, à data a que esta publicação chega até vós, mui queridos milhares de milhões de leitores, seguidores e fãs e coiso, o Velopata descobriu que Campismo tem muitos mais significados e sinónimos. A ver;

  • Levarás aproximadamente 5 horas a carregar a mala do enlatado com a quantidade de tralha que levas para uma estadia de… 1 noite. Isto é tão certo como o Princípio de Conservação da Energia ou Matéria ou lá o que é. Matéria essa que, por muito que te esforces para a conseguir acondicionar devidamente naquela bagageira de enlatado capaz de carregar sabe-se-lá-quantos litros, o Velopata terá sempre a sensação que a Estrela Vermelha e seus sacos, sacolas, malas e malinhas do Bikepacking acondicionariam tudo em melhor. E o Velopata nem se vai aqui alongar na discussão sobre a quantidade de tralha a transportar – o que leva o mui querido leitor ao ponto seguinte.
  • As fêmeas só não levam o alisador de cabelo, o secador de cabelo, o fogão e a máquina de lavar louça porque não cabe na bagageira do enlatado. Mas se Velopata e Velopatazinho sugerem levar uma Guitarra Acústica… There will be escandaleira.
  • Mesmo com toda a felicidade genital do arranque para umas férias longe do alvoroço citadino, a viagem enlatada é sempre… Bem, enlatada. Exponenciando a sensação aí vezes infinito porque o enlatado vai… Bem, enlatado até mais não (se o Velopata ousasse sequer mover ligeiramente sua perna direita para aliviar a pressão exercida por aquela geleira, a esta hora estaria cego da vista esquerda devido ao resvalar do Campingaz).
  • Quando finalmente termina o suplício da viagem enlatada, o Cheque Dentro (Check-in, em anglosaxocamónico), é efectuado e o mui querido leitor escolhe o local onde estabelecer seu condomínio – sentir-te-ás um Bear Grylls do camandro.
  • Sentir-te-ás um miserável Bear Grylls de trazer por casa quando perceberes que demoraste 2 horas a montar a tenda enquanto os vizinhos, que entraram praticamente ao mesmo tempo que tu e mesmo trazendo uma tenda com o quádruplo do volume e o dobro da dificuldade de montagem… Levaram 10 minutos a estabelecer seu estaminé.
  • Teorema de Chaveta – se o local escolhido para montar a tenda é o melhor no que à sombra, distância para os lavabos e restantes bichos humanos respeita… O solo será essencialmente pedra, levando assim ao arruinar da maioria das chavetas.
  • O dia pode estar impecável, temperaturas amenas e não mexe uma folhinha. No momento em que a tenda for estendida no solo para iniciar sua montagem, São Pedro entrará naquela época do mês do ciclo menstrual e um vendaval daqueles se alevantará.
  • Os pipos para enchimento do colchão de ar e almofadas serão sempre diferentes da bomba que levaste.
  • Utilizar uma bomba para enchimento de cãmbras de ar de Bicicleta para encher um colchão insuflável é como encher a Barragem do Alqueva. Com 1 garrafão de 5 litros.
  • Teorema de Ampere – a distância entre a tomada de corrente eléctrica fornecida pelo Parque de Campismo é o dobro do comprimento da extensão que transportas.
  • Axioma de Pimba – não importa que tenhas escolhido o lugar mais refundido do Parque de Campismo, nem 24 horas decorridas após estabeleceres acampamento chegará uma troupe constituída por várias numerosas famílias que colocarão seu acampamento na vizinhança e passarão todo o dia com a sanfona ligada ouvindo intragável “música” pimba a altos berros. Ou pior, kizomba.
  • Não importa a qualidade ou quantidade de comida saudável que a família traga – os petizes conseguirão sempre subsistir, durante um infindável número de dias, com uma dieta exclusivamente à base de salxixas (no caso da família velopática, salxixas de soja), e batatas fritas.
  • O Velopata desconfia que os noticiários não estão contando toda a verdade. Muitos dos incêndios que ouvistamos devem ser provocados por Bear Grylls de trazer por casa, enquanto tentam confeccionar o clássico Massa com Atum nos seus Campingaz.
  • Com tanta coisa para fazer, tanta Natureza para apreciar, o Velopata recomenda que a família organize uma lista do que não devem esquecer fazer;
    • Comer;
    • Insistir com os petizes para estes comerem qualquer coisa;
    • Beber vinho em copos de plástico reutilizáveis;
    • Gritar com os petizes para estes se manterem por perto e à vista;
    • Embebedar-se com vinho em copos de plástico reutilizáveis;
    • Amaldiçoar o dia em que haveis decidido ter um petiz pois este não permite 1 segundo de descanso.
    • Para esquecer todos os pontos anteriores, toca de emborcar mais vinho.
  • Assistir a comunhão dos petizes com a Natureza é algo que enche a alma. Até ao momento em que decidem urinar contra a árvore do vizinho ou se lançam numa série de agressões mútuas com paus e pedras. Talvez não seja má idéia deixá-los ficar acordados até mais tarde – não é que existam grandes pressas para o dia seguinte e assim sempre dormirão até mais tarde.
  • Dormir é um eufemismo.
  • Pesadelos com os famigerados ladrões de Bicicletas arrombando as portas do distante e não monitorizado lar para surripiar a Estrela Vermelha, Brownie ou Cappuccino, são garantidos.
  • Aquele espectacular colchão insuflável que te custou os olhos da cara é deveras e surpreendentemente confortável até ao momento em que caíres/alguém te empurrar para aquele espaçinho mínimo entre colchão e parede da tenda. Onde até está uma afiada rocha que passou desapercebida durante a montagem do estaminé.
  • Quando acordares às 3 da madrugada com a bexiga a latejar e te encontrares bêbado com frio demais para sair procurando as casas de banho, vais agradecer aquele eucalipto ali mesmo ao lado. Certifica-te é que não é o mesmo onde está acampada a família do autêntico Bear Grylls.
  • Corolário de PH – o cubículo e respectivo trono que escolheres para dar largas a tua tripa será sempre aquele onde o Papel Higiénico acabou.
  • Os Parques de Campismo aparentam ser locais sagrados onde o Conavírus não prolifera – ninguém utiliza máscara nem mesmo nas áreas comuns onde é obrigatório.
  • Apesar de se deitarem aí umas 6 horas depois da hora habitual, os petizes vaiam acordar às 5 da manhã porque… Sol. E um insuportável bafo no interior da tenda. O que leva ao ponto seguinte.
  • Irás questionar-te porque razão os Deuses te amaldiçoaram e não te deu um fanico durante a noite. Falecias mesmo ali e todo o suplício terminava.
  • 5 da manhã. Desconhecias o facto da Natureza ser assim tão brilhante e ofuscante.
  • Teorema de Piu – a cacofonia que a passarada fará nas imediações da tenda por volta das 6 da manhã é proporcional ao número de vezes que haveis referido ser “um amante da Natureza”.
  • Corolário de Piu – amaldiçoarás não ter trazido uma pressão de ar anti-aérea.
  • Não há sensação como a de uma ligeira caminhada matinal para curar a ressaca, mesmo que isso te mate.
  • Assistir enquanto os petizes correm, brincam e chafurdam até à alma enquanto se divertem a fazer aquilo que os petizes fazem é maravilhoso. Aconchegante até. Excepto quando tentam agredir com paus e pedras todos os animais que encontram. Inclusivé os canídeos da família do Bear Grylls. Que, descobrirás posteriormente, é moçe que até tem o dobro da envergadura de bíceps quando comparado com os braçinhos somali-anorécticos do Velopata.
  • Melgas. E o Velopata não se refere aos bichos humanos da cacófona tribo do Djembê ou aqueles kizombófilos que desejam partilhar seu péssimo gosto musical com todo o parque. Melgas. Numa versão quase Zeca Afonsiana da coisa – elas sugam tudo e não deixam nada.
  • Formigas. Em batalhões infinitamente proporcionais ao número de vezes que haveis referido ser “um amante da Natureza”.
  • Teorema de Xilema e Floema – a quantidade de manchas de resina proveniente dos pinheiros que mancharão irremediavelmente a glamorosa tenda é proporcional ao número de vezes que haveis amaldiçoado eucaliptais durante a viagem.
  • Moças de Ermesinde. Ou a ausência de. Mesmo quando finjes aguardar à porta dos balneários femininos pela Srª Velopata, acompanhado do Velopatazinho (todos sabemos que elas apreciam um progenitor meloso com sua cria). As poucas que o Velopata ouvista até aparentam ser ex-alunas do Instituto Superior Técnico, tais os farfalhudos bigodes que apresentam. (Nota para o próprio Velopata: na próxima, escolher um Parque de Campismo menos orientado para famílias. Ou vá… Um menos dado à geriatria.)
  • Se, por sorte, alguma Moça de Ermesinde simpatizar com o Velopatazinho, este não lhe ligará pêvas roçando até a antipatia. Já com o Apocalypse Man, aquele moçe que aparenta viver 365 dias por ano na tenda e é um misto de Sem-Abrigo com Ex-Tóxicóindependente, utilizando sempre um chapéu feito de folhas de papel de alumínio (que nem sequer é daquele da Cannondale), na cabeça e s´acardita que eles andem aí e o fim dos tempos está iminente… Velopatazinho e Apocalypse Man ficarão grandes amigos.
  • Axioma de Duche – não importa a que horas decidas dar banho. A água quente já terá sido toda consumida por execráveis bichos humanos que nem para o acto de ensaboamento a desligam.
  • No Bar ou Restaurante do Parque de Campismo, olharão para ti como se de alguma doença contagiosa sofresses quando afirmas ser Vegetariano.
  • Finalizado o Campismo e a primeira semana de férias, o Velopata acardita-se que a seguinte semana de férias será passada realizando séries entre a máquina de lavar e o estendal, tal a alarvidade de roupa imunda até à mais ínfima fibra. Alevanta-se assim a dúvida – lavar e estender ou jogar tudo fora e comprar nova?

Posto isto e verdade seja escrita, ele (o Velopata), não vê a hora de repetir a experiência.

 

Abraços (à segura distância higiénica) velocipédicos,

Velopata

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