Contra os canhões… Pedalar, Pedalar!

Um Velopata tenta continuar sua pacata vida, esconder e abandonar no refugo da maionese cerebral as idéias de parv… Aventuras a pedal, severamente castradas por este virulento jugo opressor dos cóvides.

O Velopata acorda sobressaltado.

No ecrã da televisão ele não reconhece as imagens televisivas da transmissão de mais uma etapa do Giro deste marafado ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de 2020.

Semi-cerrados bonitos olhos castanho-esverdeado percorrem o restante sofá para encontrar a Srª Velopata de fumegante comando na mão que ainda em antes de raciocínios e questões tomarem consciência, ataca numa cadência lancinante;

– Estavas a dormir. Nem penses que me vais obrigar a ver aquilo.

O canal é mudado.

O Velopata já não protesta.

Que momento A Quinta Dimensão foi este?

O Velopata abdicando assim, de manete beijada, o visionamento de uma etapa de uma Grande Volta?

Motivação, dirão uns.

Falta de Cerveja, recomendarão outros.

Falhas de lactato na cadência do treino do Mesociclo? – questionarão outros.

O Velopatazinho que não deixa dormir? – as preocupadas fãs.

E depois aconteceu isto.

E mais isto.

E a cereja no topo, isto.

É um sentimento esquisito.

Porque deverá o Velopata sentir orgulho nos afazeres, derrotas e conquistas de outros, apenas porque todos nasceram naquela mesma região deste Terceiro Calhau a contar do Sol?

Talvez tudo isto mais não seja que fruto de uma fase embrionária e juvenil de larva velocipédica que coleccionou uma variedade de Códigos Postais. Nenhum bairro, rua ou beco são seus. As raízes não se querem profundas.

Ma´ que raios?

Qualquer coisa existia ali.

Afinal… Eles não eram apenas Ciclistas Profissionais.

São Ciclistas Profissionais que à semelhança dele (o Velopata), conhecem as agruras de pedalar sob o jugo opressor tirânico do enlatado. Do enlatado PORTUGUÊS.

Isso mesmo, aquele enlatado que ainda não percebeu que a Bicicleta não é obstáculo, pertence por Direito Divino ainda em maior que o do enlatado à estrada. Pertence ao tráfico, até diria Pedro Lamy.

São Ciclistas Profissionais que enfrentam a mesma variedade de chliques metereológicos que a rameira do São Pedro consegue congeminar nos seus dias de menstruação mais complicados.

(Nota do autor: este último parágrafo é mais pela beleza poética da coisa do que verdade – todos sabemos que o Algarve é que é o segredo mais bem guardado do Mundo e talvez até da Europa para pedalar.)

E um deles, é nativo das Caldas da Rainha.

É óbvio que se um moçe das Caldas da Rainha consegue chegar ao mais ressabiado escalão do Ciclismo Profissional, então é porque vai lá fazer estragos.

E nem é necessário tecer aqui considerações sobre o artesanato lá na terra do moçe.

Boas notícias.

Ter heróis velocipédicos portugueses ao lado do melhor português do Mundo a dar pontapés num objecto esférico de poliuretano tem ainda em mais valor. Um je ne sais quois mais forte.

Este pode muito bem ser um modo através do qual a nobre arte velocipédica se pode infiltrar nas pobres mentes enlatadas – heróicos feitos no desporto.

E de repente, num instântezinho, num vapt-vupt geracional, amantes de TODOS os desportos até já simpatizam com Ciclistas.

A outrora Team Sky e o Governo Britânico fizeram mesmo isso – fez parte da estratégia governamental como promoção do uso da Bicicleta, o patrocínio à equipa inglesa, retornando vitórias que se promoveriam nos canais necessários para mexer positivamente com aquela mente básica de primata com menos pêlo.

Portugal parece estar no despertar da aurora e coiso poético e tal da Velocipedia.

Multiplicam-se Ciclovias, mas daquelas mesmo Ciclovias a sério, até parecem desenhadas e pensadas e estudadas e ____________ (inserir mais bons adjectivos á vontade), por todo o lado.

Veja bem, mui querido leitor, que até agora enquanto ele arranha as teclas, o ensurdecedor som de máquinas pesadas em movimento ecoa por todo o bairro e cérebro velopático, resultado das novas obras para uma Ciclovia totalmente dedicada à Bicicleta, numa das mais movimentadas ruas farenses.

E se és de Faro, és farense.

Motivação.

“Se eles conseguem, porque não conseguirá ele?”

Pensa um Velopata para com o fecho ecláir de seu jersey, as resinas da Estrela Vermelha vibram à espera da primeira revolução do pedal.

Uma só aventura em antes do final deste marafado ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de 2020 ele tem de fazer – merda mais o Strava que fazer rotas agora é a pagantes.

Obrigado, João Almeida e Rúben Guerreiro.

E obrigado aos estrangeiros lá de fora que pagaram para vos podermos ver distribuir carochas assim tão alto.

Será esse o patamar final da revolução velocipédica que falta a este pequeno rectângulo à beira-mar mal plantado com eucaliptos em monte?

“Cof. Cof.”

O Velopata lança-se ao alcatrão, enquanto solta seus bofes na tosse da fuligem citadina e olha para a licra da pançoca, esticada para lá dos índices de resistência das fibras carbonatadas.

Abraços (à segura distância higiénica e agora parece que terá de ser com máscara) velocipédicos,

Velopata

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