A Lista de Cônjuge

– NEM PENSES!

Com aquele berro, a Srª Velopata encerrou a discussão e dizem na Internet que o campo magnético deste Terceiro Calhau a contar do Sol até cedeu.

A alvoroçada troca de galhardetes entre membros de um casal de bicho humano é per se inevitável.

Agora imaginai o alvoroço que não será o esquentado intercâmbio de argumentos entre membros de um casal de bicho humano onde a sobrevivência de um depende da adição que obriga a longas e solitárias horas apenas na companhia de um veículo de duas rodas sem motor, construído num plástico esquisito. As idiossincrasias técnico-tácticas que tais comportamentos não acarretam.

Aí está uma Lei Fundamental desta dura vida do pedal cuja passagem de conhecimento é inúmeras vezes sonegada aos que nela se iniciam.

O teu cônjuge odiará Bicicletas.

Isto é tipo a Lei Fundamental da Trigonometria da coisa.

Sabendo que, para além de muitos entre seus milhares de milhões de leitores, também inúmeros outros podem ter suas relações conjugais afectadas negativamente pelo vício da Velocipedia, o Velopata decidiu partir à descoberta de uma lista de coisas que teu cônjuge odeia.

 

Nota Velopatóide 1: por ser o género que mais lhe apraz, para além do maior número de experiências in situ velopaticum est, a lista foi redigida para um cônjuge do género fêmea.

Nota velopatóide 2: aquele “NEM PENSES!” mais não foi que a resposta à sugestão velopática de aquisição de um novo pneu traseiro para a Estrela Vermelha em pleno léiófe pandémico.

 

O QUE TEU CÔNJUGE ODEIA NO CICLISMO

  1. Bicicletas.
  2. Ciclistas.
  3. Toda e qualquer pessoa que ande/pedale numa Bicicleta.
  4. Todo e qualquer objecto civil/mundano  (de t-shirts a canecas), com bonecada de Bicicletas.
  5. Os preços das “coisas das Bicicletas.”.
  6. Lojas da Especialidade Velocipédica.
  7. Lojas que não sendo exclusivas da Especialidade Velocipédica, vendem Bicicletas. Ou andaimes chineses com rodas.
  8. Quando dizes “Vou só dar uma voltinha para rolar as pernas.”.
  9. Quando dizes “Ah, eu faço ________ (inserir actividade doméstica pendente aí há uns 3 anos) quando regressar da pedalada.”.
  10. Aquele longo coma pós-pedalada de Sábado.
  11. Aquele longo coma pós-pedalada de Domingo.
  12. A tua dieta.
  13. Álcool. E não apenas o etílico que usas para limpar as rodas.
  14. Quando te alimentas que nem um alarve apenas para terminar queixando-te do peso.
  15. O teu entusiasmado resumo da última volta de grupo.
  16. O teu entusiasmado resumo do último granfondue.
  17. As desculpas pelas quais foste encarochado.
  18. Quem encarochaste.
  19. As desculpas pelas quais não venceste no teu escalão do granfondue.
  20. A tua Bicicleta.
  21. Partes e componentes da tua Bicicleta.
  22. As tuas rodas.
  23. N+1.
  24. As fotos e os preços das Bicicletas que nunca terás.
  25. Quando ela responde “QUANTO É QUE ISSO CUSTA?”.
  26. Quando dizes “É um bom negócio.”.
  27. As fotos dos teus amigos da Bicicleta no Facebook.
  28. As fotos dos teus amigos da Bicicleta no Instagram.
  29. Os teus amigos das Bicicletas.
  30. O facto de te conseguires alevantar da cama às 04 da madrugada para uma pedalada mas não conseguires deixar os lençóis aí até às 11 da manhã no fim de semana dedicado à família.
  31. O teu pandeiro é mais pequeno e firme que o dela.
  32. Qualquer conversa que inicies com “Ia na Bicicleta…”, “Hoje no treino…”, “Naquela volta…” ou “Estava a pedalar…”.
  33. A frase “Estou cansado.”
  34. A frase “Devo voltar cedo.”
  35. O facto de todas as conversas terminarem no tópico Bicicletas. Isto é particularmente arruinante/humilhante aquando do contexto de sociabilização com outros bichos humanos como festas de aniversário ou até mesmo casos mais agudos como reuniões de trabalho.
  36. Estás sempre com fome.
  37. Estás sempre a comer.
  38. És magro mas não é que tenhas um aspecto saudável.
  39. A tua dismorfia corporal com pernas salientes em relação ao tronco mirrado.
  40. O teu bronzeado.
  41. Desaparecer durante horas num dia de semana. Particularmente grave se a Srª Velopa… O cônjuge estiver a trabalhar.
  42. Desaparecer durante horas no fim de semana.
  43. Aquelas “férias” dedicadas à Bicicleta.
  44. Aquela interminável espera pela passagem da fuga e pelotão de uma qualquer volta, secando ao Sol e sem nada para fazer, especialmente quando num qualquer ermo serrano onde nem acesso a rede telefónica existe.
  45. Explicações sobre como funciona a Garantia de uma Bicicleta.
  46. Explicações sobre Mecânica de uma Bicicleta.
  47. Explicações sobre como funcionam as corridas de Ciclismo.
  48. Explicações sobre em que consiste o Ciclismo de Pista.
  49. O usurpar televisivo para visionamento de longas horas de etapas e corridas.
  50. Creme para besuntamento das partes baixas em outras regiões como carpetes, bidé ou lavatório. Ou pior, na carpete do quarto. Livrai-vos de aparecer na cama.
  51. Óleo de corrente nas toalhas, balcões, electrodomésticos… Óleo de corrente e ponto final parágrafo.
  52. Aquela fragância pós-pedalada que tuas licras emanam.
  53. Aquela fragância pós-pedalada que emanas.
  54. Bidons com fragâncias bolorentas no lava-loiça.
  55. Pó para bebida isotonofílica espalhado pelo balcão da cozinha.
  56. Restos semi-digeridos de barras de energia nas gavetas de roupa.
  57. Quando deparado com um insolucionável problema velocipédico, telefonas para que te venha buscar de enlatado.
  58. Adenda do número anterior: não importa se estás a 1 ou 400 Km do lar.
  59. Aquela descarga de lastro pré-pedalada que coloca em perigo a integridade do quarto de dar banho.
  60. Eructação que pode ser medida na Escala de Richter.
  61. Flatulência que pode ser medida na Escala de Richter.
  62. Aquela sessão de choradeira às 03 da madrugada, quando acordas acometido de cãmbras.
  63. Quando pedes massagens para cãmbras.
  64. Quando usas a desculpa das massagens para cãmbras para questionar sobre o Final Feliz.
  65. Disfunção eréctil provocada por longas horas no selim. (Nota velopatóide dedicada às leitoras femininas: não vos apoquentai que isto é apenas algo que o Velopata ouviu dizer, nunca lhe ocorreu.)
  66. Acordar de hora em hora para mictar, fruto do esfarelamento da próstata há muitos quilómetros atrás. (idem)
  67. “Arte velocipédica” nas paredes do lar.
  68. A garagem ou uma qualquer outra divisão do lar, entulhada em Bicicletas.
  69. Bicicletas impecavelmente acondicionadas em paredes do lar. Não importa se uma Relíquia Vencedora dos teus Tours do Tasco ou uma clássica estilo Yé-Yé.
  70. A palavra “Carbono”.
  71. A palavra “Aero”.
  72. A palavra “Aerocarbono”.
  73. A palavra “Alumínio”.
  74. A palavra “Alumínio daquele da Cannondale”.
  75. Nem ouses sequer pensar proferir “Titânio”.
  76. Qualquer menção a marcas de quadros e componentes. Por mais simples que os nomes sejam de pronunciar.
  77. Qualquer menção a relações. Questões como 52/36 ou 53/39 não são o mesmo que um divórcio simples ou litigioso.
  78. Qualquer menção a Garmin.
  79. Qualquer menção a Strava.
  80. Qualquer menção a Zwift.
  81. Qualquer menção a Watts.
  82. Qualquer menção a Quilogramas.
  83. Qualquer menção a Watts por Kilo.
  84. Qualquer menção a Lactato.
  85. Qualquer menção a FTPmax.
  86. Qualquer menção a VO2max.
  87. Quando lhe pedes para ler uma publicação do Blog do Velopata porque “Está hilariante!”.
  88. O Blog do Velopata.
  89. Despesas hospitalares induzidas pela Bicicleta.
  90. Cuidar das tuas feridas pós-esbardalho irresponsável.
  91. Quedas – talvez seja este o único ponto onde o casal concorda; ambos os dois odeiam.
  92. Qualquer telefonema de uma unidade hospitalar que comece com “Estou sim, Senhora Velopata?”. Relevante quando o Velopata sai com o Velopatazinho para umas “pedaladas no parque”.
  93. A frase “Ah, mas o meu treinador diz…”.
  94. A frase “Ah, mas o meu Pêtê diz…”.
  95. O teu plano de treino.
  96. A Alimentação do teu plano de treino.
  97. A Suplementação do teu plano de treino. E a Prozis não te torna mais cool.
  98. O teu Crosstraining (Nota velopatóide para o Batraquiame: sois de valor!).
  99. O teu improvisado Ginásio caseiro.
  100. O Tour.
  101. O Giro.
  102. A Vuelta.
  103. A Volta a Portugal.
  104. A explicação sobre o que é uma Clássica.
  105. Explicações sobre Sprints, Prémios de Montanha e Camisolas coloridas.
  106. Explicações sobre o conceito de Contra-Relógio e Contra-Relógio por Equipas.
  107. O teu Drogad… Pró favorito.
  108. Doping.
  109. Os teus PR´s.
  110. Os teus KOM´s.
  111. Quando, mesmo sem Bicicletas, tu e os teus amigos das Bicicletas vão “beber um cafézinho”.
  112. As tuas embaraçosas licras apertadas.
  113. A visão da tua pança na licra apertada.
  114. Aquela gíria técnico-táctica velocipédica, como “atacar”, “empeno” ou “carocha”, que utilizas nos entediantes relatos das tuas voltas.
  115. O teu Rolo de Treino.
  116. A localização do teu Rolo de Treino no lar.
  117. A fragância que se entranha na divisão do lar no término de uma sessão de auto-mutilação no Rolo de Treino.
  118. As poças de súor que abundam pelo chão, finda a sessão de auto-mutilação no Rolo de Treino.
  119. O simples facto de… Ciclista. “Porque não podes ser como os outros maridos normais?”

 

Agora é labutar em melhorar tudo isto e posteriormente, desfrutar.

Não têm de quê.

 

Abraços (à segura distância higiénica) velocipédicos,

Velopata

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