Em antes de iniciar as hostilidades, o Velopata deve, desde já, deixar uma nota ao mui querido leitor; se aqui vindes em busca de uma publicação subordinada à prática do Amor Bom, podeis ir tirando a Bicicletinha da chuva.
Segurança.
Nome feminino.
Acto ou efeito de segurar. Qualidade do que é ou está seguro.
Conjunto das acções e recursos utilizados para proteger algo ou alguém.
Pelo menos é o que está escrito na Internet, no Diccionário Priberam de Língua Portuguesa corrigido de acordo com o Novo Acordo Ortográfico, versão apta para glutenofílicos e tudo.
Mas parece correto ao Velopata.
Conjunto das acções e recursos utilizados para proteger algo ou alguém.
E depois aconteceu isto.
Aparentemente, o militar embriagado enlatado ainda sofreu uma suspensão de licença de condução durante 2 anos.
E simplesmente a coisa resume-se a isto;
MAS ANDA TUDO A GOZAR COM ESTA PÔRRA OU QUÊ?
Um militar.
Alguém que jurou sob a bandeira; proteger país, seus conterrâneos, lei e constituição.
Por “acidente”, deu por si com 1,7 gramas por litro de alcóol.
Nota velopatóide: o mui querido leitor deve notar que o “acidente” ocorreu na Era Pré-Covid, portantos, a absorção de carga etílica pelas manápulas aquando do manuseamento de alcóol-gel não pega.
Numa sórdida partida do Destino, o militar alcoolizado deu por si conduzindo um enlatado.
Não é que ele quisesse efectivamente conduzir.
O mui querido leitor dono de uma dessas vis conspurcantes máquinas admita; quantas vezes não haveis estado sentado no conforto do lar diante da TV que até já é inteligente, e vossa consciência ter deambulado apenas para quando regressardes ao corpo, estais conduzindo um enlatado?
Pode acontecer a qualquer um.
Lá está, um “acidente”.
ACIDENTE É DEIXAR CAIR O PÃO COM A PARTE DA MANTEIGA VIRADA PARA BAIXO PÁ!
Apanhares uma piela, pegares no teu enlatado e assassinares outro bicho humano não é um “acidente” – é uma consequência directa da tua falta de… Falta de… Pôrra pá, falta de tudo!
O militar embriagado deu por si sem a certeza se embatera com o enlatado em algo.
Porque um objecto na estrada aí com, pelo menos, 1 metro e meio de altura e em movimento é complicado de ouvistar. Confunde-se com os eucaliptos da paisagem.
Usufruindo de toda sua experiência adquirida a lidar com as mais adversas situações, o militar decide então nem sequer parar para investigar a razão do que certamente não foi grande alarido – deve ter-se ouvistado ali uma pancadinha no guarda-lamas e pouco mais.
Que mais poderia o militar embriagado fazer?
Se querem falar ou escrever sobre Segurança, tudo indica ao Velopata que não é assim que vamos lá.
Metafórico-velocipédicamente escrevendo, o acordeão deste Juíz é um pouco como pedalar com ambas as duas de cãmbras de ar vazias.
Esquecei a Pena Suspensa.
Certamente que o ocorrido deverá ficar registado nos anais da História, para além de toda e qualquer documentação associada e necessária à identificação deste indivíduo/militar..
“Prender”, como em “enviar para a choldra” parece ao Velopata, de todo o desfecho penal desejável e correcto para este tipo de situações, não obstante o facto de condução sob o efeito do alcóol ser crime.
Enfiá-lo na choldra durante uma dezena de voltas completas ao Sol seria só lançá-lo numa espécie de Universidade do Crime.
Com todo o cuidado para não entrar em devaneios de ordem esclavagista, parece ao Velopata que o derradeiro cumprimento de uma penitência para crimes semelhantes podia passar pelo cumprimento de Serviço Comunitário numa qualquer unidade especializada em traumatismos… Tipo aí em Alcoitão.
Onde encontramos os traumatizados da estrada.
4 anos de Pena Suspensa?
E que tal 4 anos de um Curso de Cuidados de Saúde Básicos a moçes e moças sem braços ou pernas, estropiados por tantos outros “acidentes”?
Não seria esta tarefa mais nobre; não apenas punir o militar embriagado enlatado mas sim ensinar-lhe o correcto valor da vida? As consequências de suas acções?
E depois existem os 1000 eirios de Multa.
Mil eirios pôrra.
Tudo bem que o Estado deve ser ressarcido de todos os inconvenientes causados mas… E a família do atropelado?
Segundo o Velopata apurou, o falecido Ciclista deixa uma Mãe viúva e um Filhote orfão.
E se o militar embriagado fosse obrigado a ajudar nas despesas de Saúde e Educação até à entrada na idade adulta do recém-criado orfão de Pai?
Como ressarcir a falta de um Pai?
Finalmente… Tu bebes, conduzes, matas e foges.
Só alguém na sua perfeita insanidade pode alegar que este indivíduo deve poder voltar a munir-se de uma lata ao fim de 2 anos – uns míseros trocos, tendo em conta que a esperança média de vida aumenta de dia para dia.
– Ah mas e quem depende de conduzir um enlatado para trabalhar? – notará o mui sábio leitor.
Ele que aprenda a utilizar uma Bicicleta porque enlatados já todos ouvistamos que não é com ele – o Velopata acardita-se que o moçe já provou faltarem-lhe as aptidões psicomotoras para poder conduzir um enlatado garantindo a Segurança de todos.
– Ah mas e o princípio do Arrependimento? – notará novamente o mui sábio leitor.
Conhecendo a bicharada humana como o Velopata conhece… O único arrependido em toda esta catástrofe deve ser apenas e só o Ciclista assassinado.
É que se ele soubesse, certamente teria evitado pedalar naquele dia, naquela hora, naquela estrada.
Estas e outras medidas podiam ser adoptadas pelo Governo de modo a eficazmente promover a Segurança de todos na estrada, agindo como verdadeiros dissuadores à prevaricação enlatada.
Mas esse é um assunto que o Velopata tem a certeza voltar a esmiuçar como quem esmiuça mesmo em outras publicações.
E agora com licença que o Velopata vai só ali enfrascar-se para celebrar a sua quadragésima primeira volta completa ao Sol que culmina hoje, 5 de Junho do ano de Nosso Senhor Agostinho de 2020.
Resta rezar a todos os santinhos velocipédicos para que, do nada, um “acidente” aconteça e o Velopata dê por si conduzindo um enlatado.
Abraços (à segura distância higiénica) velocipédicos,
Velopata