Strava ou não Strava… Eis a questão

Terminam os acordes de guitarra acústica dando lugar à soturna voz de Johnny Cash;

…and I heard as it were, 

the noise of Empeno.

One of the Four Riders saying

“Come and See.”.

And I saw, and behold a White Bike,

and his name that sat on him was Ressabiar,

and Strava followed with him.

 

O filme conta a intemporal e épica história dessa apaixonante narrativa da psique humana, a luta entre Bem e Mal.

O conto de como um pequeno grupo de Atletas de Fim de Semana, habitantes de um reino tão distante e remoto que até dos granfondues nacionais estava isolado, encetou uma destemida viagem de Bikepacking até ao topo do Monte Evereste para aí lançar e destruir o telefone esperto que continha o original da Aplicação Cujo Nome Não Se Diz.

Algo como “The Lord of the KOM´s”.

 

Assim como no mundo civil se pode escrever que vivemos tempos de mudança – uma era Pré-Covid-19 e uma nova Pós-Covid-19 é inegável, também a Velocipedia Mundial atravessa areias movediças.

Ele foram os cancelamentos de provas em catadupa.

Ele foram imagens dos Prós nos rolos, competindo em directo na Playersta… No Zwift e Eurosport.

Ele será a primeira edição do Paris-Roubaix em versão feminina. Fêmeas envoltas em apertadas licras com publicidade a enchidos e pedalando Bicicletas como se não houvesse amanhã através dos piores pisos inventados para… Bicicletas. À chuva. O sonho molhado de qualquer classicómano.

Ele é Aquele-Cujo-Nome-Não-Se-Diz que agora lança um documentário para revelar a verdade. Aí pela terceira ou quarta vez e como se seu nome a palavra “verdade”, juntas numa mesma frase, não soassem per se estanhas.

Ele é o Strava.

Que antes era de borla e agora é o diz que disse que é a pagantes.

Tendo em conta aquele seu espírito altruísta, o Velopata vasculhou sua conta de email – certamente os responsáveis strávicos não tardariam em notificar o mui digno curador de seu mais prestigiado clube, a Divisão Velopata, de alguma alteração.

E lá estava o tal email.

 

O Velopata não leu o email.

 

Nunca esquecendo que ele (o Velopata), aprecia contribuir como quem contribui mesmo, por favor encontrai abaixo um pequeno PMF (sigla portuguesa da versão anglosaxocamónica, os FAQ´s, ou seja Perguntas Mais Frequentes), que tenta responder às questões e indignações que os mui queridos milhares de milhões de leitores se preparam para lançar junto das mais altas instâncias strávicas.

Basta ler como quem lê mesmo e compreender como quem compreende mesmo para entender como quem entende mesmo.

 

1 – O Strava vai passar a ser pago?

Não. Poderás continuar a usufruir da grande maioria das suas funcionalidades como poder pedalar na tua Bicicleta.

2 – O que passa a estar disponível para usuários pagantes e não-pagantes?

O que os responsáveis strávicos assim decidirem.

3 – Porque passou o Strava, uma rede social tão ou demais importante como o Facebook, a ser paga? 

Porque os responsáveis strávicos assim o decidiram.

4 – Mas e a vossa importância no que à Saúde Pública e motivação para a prática de exercício respeita?

O Strava não é uma instituição de utilidade pública.

5 – Hã?

O Strava é uma empresa privada.

O Strava pode fazer o que quiser e bem lhe apetecer.

Se concordas com uma actividade humana baseada na premissa do Utilizador-Pagador então tendes mais é de calar e comer. Ou calar e pedalar.

6 – Que funcionalidades perdem os não-pagantes?

As que os responsáveis strávicos decidirem.

7 – Ah! Mas há outros sites com os mesmos e até melhores serviços de borla!

O manual para desinstalar o Strava foi-lhe fornecido aquando do download do mesmo.

8 – Vocês não podem fazer isso! Fornecer um serviço de borla durante anos, viciar o Utilizador e depois cobrar pelo serviço!

Quando iniciou sua actividade velocipédica, alguém lhe deu uma Bicicleta de borla para se habituar?

9 – Isto é uma injustiça!

Injustiça é o Ramat Singh da Contabilidade e o Deepak Rajesh dos Recursos Humanos não poderem pagar as aulas de dança do ventre que suas filhas tanto pedem.

10 – Chulos! A mim é que não me apanham mais!

Obrigado por nos ter utilizado gratuitamente durante os últimos dez anos.

11 – Mas vou poder continuar a pedalar e usar o Strava sem pagar ou não?

Sempre. O Strava manterá as principais funcionalidades com seus Utilizadores não-pagantes.

12 – Hã?

O Utilizador não-pagante poderá continuar a usufruir de todas as funcionalidades da rede social Strava como pedalar na sua Bicicleta.

 

Não é Se.

É quando.

Quando outras redes sociais iniciarão seu processo de selecção de Utilizadores, requerindo a estes o pagamento de pequenas quantias a troco de diferentes e privilegiados conteúdos?

É, portantos, uma questão de “Quando?”.

Uma consequência inevitável no actual Sistema Capitalista que atravessamos.

Tipo Lei Fundamental da Termodinâmica da Coisa.

Ou queríeis uma App desenvolvida por bichos humanos altruístas que labutavam de borla?

Sem publicidade?

Como poderiam o Ramat e o Deepak pagar suas contas?

A não ser que preferissem assistir enquanto vossos dados eram vendidos a empresas com poucos ou nenhuns escrúpulos…

E é por isso que tendes mais é de calar e comer.

Ou calar e pedalar.

Também para que necessitam de valores de FTPmax do lactato?

Da anaerobiose?

Dos Segmentos?

Quereis ver que só sabendo que teu FTPmax é miserável (que é), só assim conseguireis apreciar uma pedalada?

Ainda se chegasse às estilosas orelhas dilatadas do Velopata que o preço das mins e médias ia aumentar… Isso sim, seria razão mais que suficiente para se proclamar o Estado de Calamidade.

 

Nota velopatóide: não vos apoquentai – os estagiários a Recibos Verdes provenientes de um qualquer país do Ter… Bem, aquilo nem Terceiro Mundo é, devendo ser aí catalogado como Quinto ou Sexto Mundo… Continuarão sua labuta nos complicados cálculos físico-químico-quânticos da Divisão Velopata, assim garantindo vosso gáudio e que este grandioso clube strávico continua à borlix.

 

Abraços (à segura distãncia higiénica) velocipédicos,

Velopata

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