O Velopata é forçado a admitir – é só um bocadinho irritante ler tanta coisa sobre os perigos de pedalar ou até mesmo como evitar escapar à morte enquanto se pedala.
E porquê?
Porque pedalar ao comando de uma gloriosa Bicicleta é só das actividades mais saudáveis à qual um bicho humano se pode dedicar.
Atentemos como quem atenta mesmo, à lista das maiores causas de mortalidade neste pequeno recanto à beira-mar mal plantado com eucaliptos em monte que é Portugal;
- Doenças coronárias. Certo. Até porque pedalar ou “andar” de Bicicleta nem promove a saúde do sistema cardiovascular…
- Cancro. Nenhum estudo conseguiu provar que a actividade velocipédica provoca cancro, no entanto, a prática de exercício físico em ambientes altamente poluídos provavelmente não é das melhores actividades à qual um moçe ou moça se pode dedicar e tal será assim até que, pelo menos o custo da inactividade seja suplantado. Mas quem anda nesta dura vida do pedal há muitos anos, sabe existir ainda uma outra questão; o cancro não potenciará a capacidade física de um sujeito? Mas não nos alonguemos nesta questão, até porque ao Velopata não assiste entar novamente em deambulações sobre Aquele-Cujo-Nome-Não-Se-Diz.
- Acidentes. Nesta categoria de mortalidade, as fatalidades relaccionadas com acidentes de Bicicleta estão incluídas mas… Adivinhem? A probabilidade e o risco de falecer enquanto se pedala é infinitamente menor que a de falecer no interior de um enlatado, não obstante o facto de existirem enlatados em muito maior quantidade que Bicicletas, verdade seja escrita, a probabilidade de estropiamento é muito maior em acidentes com e entre estes. Ou incidentes. Ou burrice.
- Doenças respiratórias. Pedalar promove a capacidade e desempenho pulmonares.
- Acidentes vasculares cerebrais. Pedalar promove a saúde vascular.
- Alzheimer. O Velopata sabe estarem em curso estudos científicos que não daqueles do Facebook, que tentam averiguar se o acto de pedalar pode apresentar algum efeito benéfico ao nível desta maleita, no entanto, uma coisa é certa – não existe nenhuma evidência que a actividade velocipédica promova o Alzheimer, apesar de existirem por aí muitos artistas do pedal que parecem padecer desta demente maleita, a avaliar pelo seu nível de comportamento perante o Código da Estrada.
- Diabetes. Não há dúvidas que a Bicicleta ajuda a combater a Diabetes. Se ainda assim tendes dúvidas, é questionar os Ciclistas da Team Novo-Nordisk ou Mr. Sock sobre as maravilhas que o Ciclismo fizeram pela sua diabéticofilia.
- Gripes e Pneumonias. Os Ciclistas são sobejamente conhecidos por ser bichos humanos de outra cepa, raramente sofrendo deste tipo de enfermidades (excepto o Velopata), por isso… Sim.
- Doenças renais. Inúmeros estudos que não daqueles da Internet mostram que a actividade física apresenta claros benefícios através da promoção de um atraso na degradação da actividade renal, contando que não andem por aí entupindo-se em proteínas uéi que são do pior que há para meter nos rins e fígado. Comei antes uma soja ou um tofuzinho. PS: Cerveja, tintol e Jack Daniel´s ou Jameson´s não são para aqui chamados.
- Suicídio. Esta tem muito que se diga e escreva, no entanto, é bom relembrar que muitos dizem pedalar porque tal funciona como uma terapia emocional e mental, permitindo o escape dos problemas do quotidiano quiçá até uma forma de meditação.
Assim, é impossível não colocar uma questão; porquê tanto foco nos acidentes e mortes com Bicicletas?
Uma razão poderá estar no facto de que ser atropelado por um enlatado de uma tonelada a cento e cinquenta quilómetros por hora não deverá ser uma morte muito agradável, já a Diabetes, por exemplo, sempre é mais simpática, ficando um moçe a definhar lentamente durante um sem-número de anos até finalmente ir partir tijolo.
Claro que os bichos humanos que definham lentamente sob o tenebroso jugo opressor destas maleitas dirão que estas são doenças horríveis e é uma vida a sofrer (que é), no entanto, só o farão até lhes ser apresentado o cenário de estropiamento por uma tonelada de enlatado em excesso de velocidade.
Existe uma sórdida razão escondida para o facto de ser tão popular falar, escrever e opinar sobre fatalidades enquanto ao comando de uma Bicicleta, algo que até qualquer “Jornalista” Estagiário a Recibos Verdes da CMTv conhece e bem – notar que o Velopata não se refere apenas ao apelo que a maioria da bicharada humana sente por notícias de desgraças.
Recorrentemente discutir os perigos de “andar” de Bicicleta demove os bichos humanos de efectivamente pegar numa Bicicleta e a verdade pura, crua e dura é simples – A SOCIEDADE PORTUGUESA NÃO TE QUER A ANDAR POR AÍ DE BICICLETA.
Se começas a pedalar, então conduzirás menos.
Se começas a pedalar, então vais pedalar para ermos e serras e não irás conduzir para te enfiar num qualquer Centro Comercial, consumindo como quem consome mesmo.
E se conduzes menos, então contribuirás menos para a estrutura social na qual vivemos, toda ela construída em função de… Conduzir.
Essa é uma estrutura não só financeira mas também social; é a mesma estrutura que separa caucasianos de africanos, ricos de pobres, saudáveis de doentes, o Gustavo Santos dos heterosexuais, o Pedro Chagas Freitas dos escritores, e começa exactamente naquele momento em que recorres à segregação, separando-te dos restantes bichos humanos enquanto te isolas no interior de uma lata de uma tonelada.
Esta estrutura foi desenhada para te manter financeiramente e emocionalmente escravo da lata e tua posição social, ou seja, para mais não seres que um hamster às voltas na espectacular rodinha Turbo GTi Fuel Injection Tdi que tão súadamente adquiriste sem perceber que foi a que te deixaram adquirir.
Para o Velopata, com ou sem Capacete, a Bicicleta será sempre segura, divertida e económica e no centro de todo este problema, não está a Bicicleta per se – o grande busílis, já dizia Sartre, são os outros e a falta de respeito, compaixão e empatia que os acompanha, dominando os tempos modernos.
E só por isso, agora o Velopata vai pegar numa das suas Bicicletas e dar uma voltinha.
Abraços velocipédicos,
Velopata