– Ó Velopata! Estás bem? Faz dias e dias que nada publicas neste nosso acarinhado espaço de referência velointernética, não enches nossos feeds strávicos com os teus commutes e nem um bom fim de ano desejastesss aos teus seguidores… Que se passa?
Esta foi a pergunta que vós, queridos milhares de milhões de seguidores, não fizeram.
Tudo começou aí perto das dezasseis horas da tarde, o Velopata lá onde afincadamente labuta.
Uma ladaínha cerebral insistentemente lembrando sua presença, moendo como quem mói mesmo, números que se contorcem e distorcem no ecrã de um computador.
A garganta seca, não importando o número de vezes que se visita as máquinas dispensoras de água.
Aqui e ali, desnecessários arrepios de frio num ambiente severamente aquecido, nunca esquecendo que lá onde ele afincadamente labuta, grande parte dos colegas de métier são efectivamente fêmeas, como tal, constantes queixumes porque está frio é coisa que não falta. Que o Velopata até seria moçe para referir que se têm frio, talvez não fosse de todo má ideia vestir indumentária apropriada para a fresquinha época do ano, infelizmente os ganhos marginais ao nível da rebarba reduzir-se-iam e o Velopata pode ser muita coisa mas não é parvo.
Ou até é mas prontos.
Para o menos versado dos mui queridos leitores em Pneumologia, os sintomas que um Velopata experienciava podiam mais não ser que Abstinência Velocipédica, o corpo ressacando da ausência de pedalada.
Era a véspera do último dia do ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de dois mil e dezanove, trinta de Dezembro.
Talvez pela excitação urinária sentida na antevisão da última pedalada do ano, não esquecendo que nos transactos fins de semana a Estrela Vermelha não acumulou Tempo de Alcatrão, o Velopata ignorou todos aqueles sintomas e regressou ao conforto do lar, emocionado pelo tratamento Vip Spa Lounge Rooftop Gourmet que se antevia à Estrela Vermelha, merecedora de dignos actos pela distante (quase duas semanas!!!), pedalada molhada.
Momentos solenes cumpridos, Estrela Vermelha lavadinha e lubrificadinha, repousando em seu altar e…
Novamente aqueles arrepios de frio, tremores em nada justificados pelo aquecimento corporal na árdua labuta de escovagem de carretos e corrente.
Uma sensação de extremo cansaço apodera-se do corpo somali-anoréctico do Velopata.
“Que merda, quereis-me ver que ele está a chocar uma gripe?…” – pensa o Velopata para com seu pijama.
Com a chegada da noite, o tão desejado soninho recuperador bom foi substituído por uma febre tal que o constante tremelicar dos ossos velopáticos conseguiu acordar a própria Srª Velopata que, num altruísta gesto, alevantou-se para orientar um Ibuprofeno para além de um sem número de mantas e mantinhas, uma efectivamente querida mas vã tentativa de aquecer o que indicava ser um Velopata à beira da Hipotermia febril.
Seria esta a sina velopática para o último dia do ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de dois mil e dezanove; um Velopata arrastando-se para alternar entre os lençóis da cama e as mantas do sofá, febril, aeropenca para lá de entupida, dores no corpo em piores que qualquer empeno jamais conseguiria provocar.
Para piorar uma já de si malograda situação, eis que por essa mesma tarde, quando já noutros cantos deste Terceiro Calhau a contar do Sol se celebrava a entrada no novo ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de dois mil e vinte, também a Srª Velopata iniciava seus queixumes – dores no corpo, penca entupida e a incapacitante febre.
E foi assim que a família velopática passou aqueles últimos momentos deste ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de dois mil e dezanove, conseguindo pouco mais que arrastar-se até à sacada do lar velopático para, enrolados que nem umas moças muçulmanas escondidas por entre um turbilhão de mantas e mantinhas onde nem os olhinhos se conseguiam vislumbrar, poder mostrar ao Velopatazinho o fogo de artifício.
Deliciado com toda aquela explosão de luzes no céu, o Velopatazinho era o único membro saudável da família… Até cerca de dois dias depois, quando também um violento estado febril o acometeu.
Porque já diziam os antigos “filho de Velopata sabe engripar”.
Só que ao contrário de seus progenitores, o Velopatazinho promete um futuro brilhante pois não é de todo capaz de simplesmente seguir o comboio ou as pegadas. É sempre necessário algo mais, uma pedalada mais além.
Varicela.
O diagnóstico veterinário do Velopatazinho.
Portantos o mui querido leitor entende o quão espectacular foi este final de ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de dois mil e dezanove para a família velopática.
Mas por entre tanto ranho, baba, muco e borbulhinhas corporais, o Velopata deu por si acometido de uma grave preocupação – não só ele tinha falhado o desejo de um excelente ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de dois mil e vinte a seus milhares de milhões de seguidores, como não havia conseguido dedicar qualquer tempo ao arranhar de teclas – o que publicaria ele na primeira sexta-feira de dois mil e vinte? E a quarta do meme ou o meme da quarta? E?
E?…
Com as dores de cabeça exponenciadas por todas estas preocupações, eis que a epifania desceu sobre um abatido Velopata.
Porque ouvistas de fora, algo house que se alterou profundamente, escapando-lhe desapercebido.
Este queria-se um espaço dedicado às aventuras velocipédicas de Velopata e seu heterómónimócoiso, aqui e ali pontuando com pequenas notas e devaneios de outras naturezas mas sempre, sempre com a gloriosa Bicicleta como elemento fulcral e central de toda e qualquer trama.
Seguindo no seu terceiro ano de vida blogoesférico, o Velopata entende que está mais que na hora de uma espécie de regresso às origens, deixar de se preocupar com quem liga pêvas a toda a sua labuta (entenda-se Divisão Velopata, algo que dá uma trabalheira do camandro mas que ficou muito aquém do retorno que o Velopata esperava), focando-se nos objectivos a que há muito se tinha proposto; desde o Portugal Divide à tão desejada The Transcontinental Race quiçá uma Transibérica ou até mesmo finalmente conhecer as agruras pedalantes da Senhora da Graça.
Que venha um ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de dois mil e vinte carregado de aventura e muita pedalada – são os votos velopáticos para ele próprio e vice-versa e coiso e para seus milhares de milhões de seguidores.
PS velopático: pode também dar-se o caso de tudo isto mais não ser que o muco a falar/escrever em mais alto.
Abraços velocipédicos,
Velopata