– Lembrem-me só porque é que estamos a fazer esta parvoíce mesmo?
– Porque quero ser feliz.
A questão colocada por alguém cuja esbaforida voz o Velopata não reconheceu ou identificou, foi prontamente respondida pelo Neves que, acardita-se o Velopata, extravasava o sentimento transversal a toda a troupe durante uma das muitas pausas nas hostilidades altimétricas – todos procuravam aquela felicidade.
E que melhor maneira de atingir esse fim; aquele sentimento de dever cumprido, superação pessoal, nirvana velocipédico e coiso, através do completar deste desaustinante desafio oriundo das sórdidas e maquiavélicas profundezas velocipédicas internéticas- o Everesting.
Para iluminação velocipédica dos mui desconhecedores leitores, o Velopata explica a teoria técnico-táctica que compõe este desafio; algum parv… Moçe rijo alembrou-se que seria deveras engraçado encontrar um segmento strávico de subida, para posteriormente o pedalar um número de vezes suficiente para que a soma do desnível positivo acumulado de todas as subidas fosse equivalente à altitude do Monte Evereste, em toda a plenitude dos seus encarochantes e empenantes oito mil, oitocentos e quarenta e oito metros. Tudo devorado de uma só pedalada, sem interrupções para soninho recuperador bom (pausas para dar ao serrote à grande e à avec são recomendadas), tendo ainda a obrigatoriedade de subir e descer sempre no mesmo segmento.
Uma espécie de hamster às voltas na rodinha, só que numa marafada versão altimétrica.
O desafio, lançado pelO Pinto, adquiria contornos ainda em mais importantes – por cada subida efectuada pela troupe, todos doariam os eirios possíveis para auxiliar o Cantinho da Milu, porto de abrigo e refúgio para canídeos e felinos abandonados por bichos humanos daquela estripe de atrasados mentais, muito provavelmente, em tudo semelhantes aos que o mui querido leitor reconhecerá nos encontros velopáticos ao longo desta publicação que é o Prólogo.
Como poderia um Velopata recusar semelhante parvoí… Convite?
Assim, pelas oito horas do dia quatro de Outubro do ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de dois mil e dezanove, a Estrela Vermelha encontrava-se pronta a embarcar no comboio que a levaria até Pinhal Novo onde, como préviamente combinado, o Neves, providenciaria uma boleia ao Velopata até ao Barreiro, base de operações em antes da grande parvoí… Aventura altimétrica.
Como é óbvio e o mui querido leitor já habituado a estes escrevinhares velopáticos sabe, a aventura iniciou-se muito em antes do transporte ferroviário sequer ter aberto suas portas, assim permitindo a entrada dos bichos humanos que fariam a viagem para o estrangeiro do centro do país, desconhecedores do privilégio que seria viajarem na mesma carruagem que a Estrela Vermelha.

– Ó Velopata, a´tão mas ias fazer um Everesting e levavas a Estrela Vermelha assim toda carregada e pesada? – questionarão os mui atentos leitores.
Importa salientar que era firme convicção velopática levar a Estrela Vermelha preparada para as agruras do Everesting mas também para um regresso pedalante ao reino algarvio, contando que ele (o Velopata), sobrevivesse ao certamente garantido empenão everéstico.
“Senhoras e Senhores, o comboio na Linha Um com destino à Gare do Oriente em Lisboa, fará sua partida pelas oito e vinte e dois da manhã. Por favor, queiram entrar e ocupar vossos lugares na composição.”
O anúncio ouvisto no altifalante do terminal ferroviário farense foi muito bonito e educado, no entanto, um pequeno problema subsistia.
O relógio analógico da estação ferroviária indicava que eram oito e vinte da manhã mas as portas das carruagens continuavam fechadas, não permitindo a entrada de nenhum dos muitos bichos humanos que, à semelhança do Velopata, chegavam aos limites da paciência para o que indicava ser mais um atraso tipicamente portuga.
Oito e vinte e cinco, portantos, já três minutos depois da hora prevista, as portas das carruagens lá se abriram.
Seguiu-se aquela algazarra de bichos humanos todos com em mais pressa que os outros para ocupar seus lugares, devendo notar-se que muito provavelmente devido a ancestrais questões culturais, ninguém respeita o lugar que lhe foi atribuído no bilhete. Deixando passar toda aquela balbúrdia, o Velopata lá conseguiu embarcar a Estrela Vermelha, fazendo assim a complicada estreia das rodas Progress Phantom nos celebrados e acarinhados ganchos que tanto promovem a intermodalidade da mobilidade urbana sustentável da C.P. ou lá o que é, para além das delícias das lojas da especialidade velocipédica, tais não são as maravilhas que aqueles suportes que se percebem ter sido minuciosa, técnica e criteriosamente estudados para usufruto das Bicicletas, fazem pelo carbono.
E lá está, certamente pelas já referidas óbvias razões culturais, o relógio digital do telefone esperto velopático indicava oito horas e trinta minutos da manhã, portantos, oito minutos depois da hora indicada no bilhete, quando o comboio finalmente arrancou para levar Velopata e Estrela Vermelha rumo ao estrangeiro do centro do país.

Os primeiros quilómetros percorridos no transporte ferroviário foram mais do costume; apreensivo e de esfíncter restesado, o Velopata observava enquanto a Estrela Vermelha era violentamene sacudida à mercê dos movimentos ondulantes e oscilatórios e pendulares e gravitacionais e centrífugos e centrípetos e coiso à medida que a composição devorava carris.

E como se todo aquele suplício carbonatado e esfíncteriano pelo qual Estrela Vermelha e Velopata passavam não fosse suficiente, nada podia preparar o Velopata para o que sucederia durante a primeira paragem no terminal ferroviário de Albufeira.
Sempre preocupado com essa corja que são os Ladrões De Bicicletas ou até mesmo os Ladrões De Coisas Que Estão Penduradas Nas Bicicletas, o Velopata mantinha-se atento e alerta sempre que algum bicho humano entrava ou saía da carruagem – foi durante a primeira paragem do comboio em Albufeira que o Sentido de Velopata (aquele em tudo semelhante ao dO Incrível Homem-Aranha, só que em carbono), disparou avisos que ecoaram pelas sinapses velopáticas.
Um velh… Cidadão em idade vintage bastante avançada entrou na carruagem decidido a arrumar sua enorme e volumosa mala de viagem em qualquer outro sítio que não o reservado aos bagulhos (localizado na ponta oposta da carruagem), assim, que melhor opção se não arremessar violentamente seus bagulhos contra a roda traseira e desviador traseiro da Estrela Vermelha?
CRAAAAAAC!
A onomatopeia que o Velopata aqui partilha jamais fará jus ao som que o Velopata ouvistou enquanto o alumínio da roda dianteira da Estrela Vermelha se torceu e contorceu em total agonia.
O Velopata ia jurar que aquele asno cámone tinha acabado de partir a roda dianteira da Estrela Vermelha que, talvez por intervenção divina e milagre de Santo Anquetil, não saltou do gancho para se escaqueirar no chão da carruagem.
Numa fracção de nano-segundos já o Velopata saltava do seu lugar e confrontava o imbecil cámone (a seguinte porção de texto foi traduzida do anglo-saxocamónico);
– Então mas você não vê que está a dar cabo da Bicicleta?
– Hã? – o energúmeno fazia-se de desentendido.
– Se calhar tem de ter um bocadinho mais de cuidado com propriedade que não é sua, não?
– Hã?
E em antes que o Velopata conseguisse segurar ou mesmo impedir o asno, já o crápula arremessava violentamente uma segunda mala de viagem, esta ainda em mais grande que a primeira.
– OUÇA LÁ, MAS VOCÊ É PARVO OU QUÊ?
– Hã?
– Não vê que está a dar cabo da Estrela Vermelha?
– Hã? E as malas? Onde arrumo?
– Ai o… Saia já daqui e vá mas é já sentar-se seu asno do car… Ele arruma as suas malas.
E num altruísta gesto, em nada agradecido por aquela besta vintage camónica, o Velopata tratou de acondicionar devidamente as malas de viagem, mais uma vez mostrando porque é um bicho humano mesmo parvo, todo armado ao bom samaritano e coiso, quando o que aquele bife atrasado mental merecia é que o Velopata atirasse seus vis bagulhos janela fora quando o comboio atravessasse uma qualquer ponte sobre o Sado.
Ainda com o coração batendo ao FTPmax do mesociclo do lactato, o Velopata regressou ao seu lugar, procurando acalmar-se. Por sorte, ele foi afortunado nesta viagem ferroviária com muitas moças de Ermesinde que passavam pelo corredor procurando os seus lugares mas, e aqui talvez por azar, nenhuma se assentou no lugar vazio ao lado do Velopata. Ainda assim, toda aquele sirigaitar de ermesindenses de um lado para o outro conseguiu fazer o Velopata esquecer os traumáticos acontecimentos e apenas por precaução, mentalmente o Velopata rezou um Avé Agostinho, na esperança que tudo estivesse nos conformes com seu desviador traseiro e respectivas mudanças.
A viagem ferroviária lá seguiu mas nunca esquecendo a ancestral sabedoria popular; “um mal nunca vem só”, ou neste caso, “um atrasado mental nunca vem só”; não tardou para que outro exemplar asinino de bicho humano mostrasse todo o seu respeito para com propriedade alheia.
Desta vez seria um daqueles moçinhos que, pobres coitados, têm o cú tão descaído que são forçados a usar a parte traseira das calças de ganga na região dos joelhos, assim mostrando ao mundo como apreciam manter arejado o rêgo, naquela sempre agradável visão. Munido de um boné mal colocado na moleirinha e acompanhado de sua respectiva Namorada-mitra e a que o Velopata deduziu ser Progenitora-mitra de um deles, queriam seguir até à carruagem onde se localiza o Bar mas sem carregar a volumosa mala de viagem atrás.
E qual a óbvia solução que o imberbe atrasado mental mitra engendrou?
CRAAAAAACCCCC!
Mais uma mala era violentamente arremessada contra o desviador traseiro e roda traseira da Estrela Vermelha que, desta vez talvez por milagre e intervenção divina de Santo Coppi, não dilacerou o full aero alumínio das rodas ou fez a Estrela Vermelha saltar do gancho.
Nano-segundos depois, já o Velopata se preparava para defender a idoneidade carbónica da Estrela Vermelha num directo confronto com o mitra, assim arriscando o provável esfaqueamento (o mitra transportava consigo uma daquelas viris malinhas ao peito e toda a gente sabe o que lá transportam; a ganza e o respectivo xino para a cortar), só que (in)felizmente este desapareceu na direcção da carruagem-Bar, assim evitando-se um banho de sangue ferroviário.
E mais uma vez, acometido daquela vontade de atirar a mala de viagem mitra pela janela fora quando passassem uma qualquer ponte sobre o Sado, o Velopata inspirou fundo, olhou para umas quantas moças de Ermesinde que seguiam na carruagem e conseguindo regressar a níveis mais calmos de VO2max, acondiccionou devidamente a bagagem mitra.
Regra geral, uns bons minutos em antes do comboio entrar no perímetro de um terminal ferroviário, o Pica liga os altifalantes e indica qual a estação seguinte onde o comboio fará sua paragem, sempre notificando os bichos humanos que devem ter especial atenção à distância entre degraus da carruagem e apeadeiro.
O Velopata percebeu que o comboio estava prestes a entrar num terminal ferroviário, no entanto, dada a ausência de informação do Pica, assumiu que esta ainda não fosse o seu destino, a Estação de Pinhal Novo, ou mesmo que o comboio chegasse sequer a deter sua marcha.
Qual não é o transtorno esfíncteriano velopático quando nano-segundos em antes do comboio cessar seu movimento, ele (o Velopata), ouve;
“Senhores Passageiros, Próxima Estação, Pinhal Novo. Por favor tenham atenção à distância entre a carruagem e o apeadeiro.”
A cena que se seguiu era digna de um filme mudo, daqueles a preto e branco com acelerados frames por segundo e onde todos os espectadores riem da desgraça que se abate sobre este vosso companheiro, palhaço e amigo do duro circo que é a vida do pedal e personagem principal, o Velopata, enquanto a panicar como quem panica mesmo, ele tenta libertar a Estrela Vermelha daquele marafado gancho sem a danificar, quase a deixa cair, depois embate violentamente com o guiador na curva para o cubículo de acesso às portas e no instante em que se prepara para saír da carruagem… Um civil fecha a porta desta indicando ao maquinista que pode seguir viagem.
– ABRA A PORTA Ó MEU GRANDA CARAL…
Foram as únicas palavras que o Velopata conseguiu berrar enquanto percebia que ia dar por si seguindo viagem para a capital deste nosso recanto à beira-mar mal plantado com eucaliptos em monte, ainda para mais, sem bilhete.
O asno civil certamente ouvistou todos os improprérios proferidos pelo Velopata e lá se enxergou, abrindo a porta da carruagem e permitindo a fuga velopática das garras ferroviárias.
Portantos, horripilantes duas horas e meia depois, Velopata e Estrela Vermelha estavam em Pinhal Novo e nada neste universo ou multiverso ou coiso, podia preparar o Velopata para a visão que aguardava seus bonitos olhos castanho-esverdeados.

Nem os medalhados atletas de desportos olímpicos (é óbvio que o Velopata se refere às modalidades menores, não os atletas participantes nas Olimpíadas de Ciclismo), se sentem assim quando regressam ao país natal.
Com uma recepção deste gabarito e calibre, uma rápida pausa para uma cafézada e cigarrinho enquanto a conversa era colocada em dia, todo o stress da viagem ferroviária ficou para trás e o Velopata podia agora respirar de alívio e esfíncter descontraído, concentrando toda a sua mente na segunda parte do Prólogo – acondicionar a Estrela Vermelha no enlatado do Neves, uma rápida viagem até ao Barreiro, seguia-se aquela barrigada de chop-chop já a pensar no elevado gasto calórico que se avizinhava, rápida visita ao supermercado para provisões de morfes nocturnos e diurnos, preparação da Estrela Vermelha e, com alguma sorte, um soninho preparador bom teria lugar em antes de se iniciar a dura parvoí… Pedalada everéstica.
No decurso do seu ciclo de vida, por escassas duas vezes o Velopata visitou essa urbe que é o Barreiro.
Como o Velopata é, acima de tudo, um moçe honesto, à medida que a viagem enlatada prosseguia até Chez Neves, este apresentava orgulhosamente alguns dos pontos de interesse da sua querida cidade-berço, quando o Velopata se viu forçado a interromper;
– Sabes, ele já visitou o Barreiro em duas outras ocasiões.
– É uma cidade fixe, não é? Sabias que fomos considerados como uma das melhores cidades portuguesas para se viver? – entusiasmado, o Neves continuava seu métier de cicerone.
– Epá, quereis mesmo a honesta opinião velopatóide?
– Claro!
– É horrível como todos os ajuntamentos de bichos humanos o são. Caixas e caixas de fósforos decrépitas. Ruas e ruelas estreitas e sujas. Ah, e ele não sabe se já referiu mas bichos humanos em monte é coisa que não lhe assiste.
– O Velopata devia ter mais cuidado com o que diz sobre as cidades onde os seus comparsas habitam… Ou desejai ir a penantes?
– A penantes ele jamais iria pois a Estrela Vermelha vem pronta a ser pedalada.
O telefone esperto de Neves tocou e ambos os dois foram salvos pelo gongo – a discussão terminou por ali, apesar do Velopata se ficar roendo interiormente por não ter lembrado Neves que conduzir e operar o telefone esperto em simultâneo, não é própriamente uma actividade legal ao nível do Código da Estrada.
Muitas horas depois, nunca esquecendo que para o Velopata, um minuto enlatado corresponde sensivelmente a uma hora civil, o dueto chegava às profundezas da urbe barreirense onde se localizava o escritório de Neves, local onde as Bicicletas dos parv… Aventureiros ficariam em repouso até à hora da partida enlatada para o segmento strávico onde o escalafrar de pernas teria lugar.
Após uma rápida inspecção ao local, confirmando que detectores de fumo, alarmes anti-incêndio, alarmes anti-larápios, extractores de humidade e protecção contra terramotos, marremotos e tsunamis entre demais catástrofes naturais estavam em plena funcionalidade, o Velopata pode finalmente conhecer esse notável membro do grandioso clube strávico que é a Divisão Velopata, o canhão por entre os canhões velocipédicos que, segundo coscuvilhices velopáticas, segue uma criteriosa dieta à base de shots de acetona ou lá o que é, o organizador de toda a parvoí… Proeza altimétrica que os aguardava – o Pinto.
E que melhor maneira de travar conhecimento mais aprofundado com estes dois notáveis Zés das Bikes que assentados à mesa já em Chez Neves, degustando uma série de iguarias (para eles algumas mais bárbaras, no entanto, é de louvar o empenho de Neves que tratou de salvaguardar o evoluído apetite velopático providenciando um vasto leque de opções que não envolviam cadáveres animais), tudo regado com um belo tintol?
Com o nervosismo disfarçado por entre a reinante boa disposição, o trio separou-se; o Pinto continuaria por mais algumas horas na labuta remota através do seu PC, já Neves e Velopata tratariam de seguir até ao supermercado para tratar das provisões e mantimentos necessários a uma pedalada que se previa longa.
– O Velopata tem alguma preferência por supermercado? – questionou Neves.
– Epá, ele não quer gastar muito dinheiro por isso podem ir a um Lidl, sempre tem boas e baratas opções gastronómicas que não envolvem genocídio animal. Já têm Lidl aqui?
Se Neves interpretou aquela última questão velopática como uma afronta à sua cidade-berço, não o mostrou e o dueto seguiu para a aquisição de mantimentos no supermercado zee germans.
Que o Velopata sabe agora, vender apenas produtos talvez oriundos de uma época zee germans vintage, sendo muito provavelmente uma versão de supermercado temático e dedicado ao saudosismo visigótico – ao contrário do Lidl existente no reino algarvio, esta estripe de Lidl barreirense apresentava apenas opções culinárias de uma barbárie extrema (só a secção dedicada a bárbaros enchidos era a maior alguma vez ouvista pelo Velopata), e para que o mui querido leitor compreenda como o Velopata não exagera… Nem daqueles pacotinhos de banana desidratada tinham, suplemento velopático fulcral para a salutar manutenção dos níveis magnésicos e potássicos da musculatura tibial enquanto pedala.
– Este Lidl é assim um bocadinho fraquinho… – notou o Velopata.
– Como assim fraquinho? – ripostou Neves.
– Epá, é só barbárie carnívora. Onde estão uns bifinhos de tofu? Ou umas salsichinhas de soja?
– Ah, querias um Lidl gourmet, é?
– Até a secção de frutos secos é miserável… Sabíeis que nos tempos visigóticos, os frutos secos eram componente importante da alimentação? Até nisso este Lidl é incongruente…
– Frutos secos é no Pingo Doce. Queres lá ir? – indagou Neves.
Resposta velopática mais afirmativa era impossível e lá seguiu o dueto.
No celebrado supermercado de origem port… Holandesa?; Velopata e Neves puderam finalmente adquirir todos os mantimentos necessários à demanda, nunca esquecendo o mais importante de todos e constantemente lembrado pelo Velopata;
– Médias fresquinhas! Não esquecer as médias fresquinhas!
(Nota velopatóide: a seu devido tempo, o Velopata explicará como conseguiu a troupe ter acesso às referidas médias em fresquinhas.)
E findas mais uma série de horas enlatados, o dueto regressava a Chez Neves para aquelas horas finais de preparação – e que melhor maneira de acalmar os nervos se não apreciando umas belas bujecas fresquinhas numa prazerosa esplanada barreirense, enquanto aguardavam pelo término da labuta do Pinto?
Optando por não carregar exageradamente na cevada fermentada, afinal, a génese da parvoí… Aventura altimétrica distava poucas horas, o dueto decidiu regressar a Chez Neves para tentar um pouco de descanso quiçá até algum soninho preparador bom.
Providenciando um dos quartos das crias de Neves para que o Velopata pudesse repousar, ele (o Velopata), hoje sabe ter cometido ali um crasso erro – requisitou a senha do uáifái.
E de imediato, no chat criado para todos os envolvidos nesta alarvidade altimétrica poderem extravasar muita parvoíce e de vez em quando um ou outro pormenor técnico-táctico-everéstico, caía uma mensagem enviada pelo Pinto sob forma de uma fotografia e que o Velopata partilha agora com sua legião de milhares de milhões de seguidores;

Óbviamente que um Velopata já não conseguiu pregar olho – os nervos não permitiam o soninho preparador bom, como tal, o Velopata optou pela único passatempo possível.
Emborcar baldes de cafeína e fumar cigarro atrás de cigarro.
O relógio digital do telefone esperto velopático marcava dezassete horas e trinta minutos do dia quatro de Outubro deste ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de dois mil e dezanove quando o Pinto regressou a Chez Neves, tendo a troupe juntado todas as tralhas, equipado com suas melhores licras, carregado todos os bagulhos e Bicicletas na lata e pouco depois, já seguiam enlatados a caminho da Arrábida e o famigerado segmento strávico que os levaria à fama, fortuna e glória velocipédica – a Subida da Secil.

A viagem enlatada seguiu em amena cavaqueira, todos tentando de algum modo afastar medos e receios à conta de proferir muita parvoíce, no entanto, acometido de um qualquer espírito de bom senso e responsabilidade, para além de alguma saudade do Velopatazinho, o Velopata alembrou-se de uma importante questão;
– Ouçam lá, são bons conhecedores deste segmento, certo?
– Claro! – resposta em uníssono de ambos os dois, Neves e Pinto.
– Lembrai-vos de alguma idiossincracia técnico-táctica que achai por bem partilhar com o Velopata?
– Epá, tirando o cão, a raposa e os javalis, acho que este segmento nada tem de particular. – explicou o Pinto.
– Uai, como é que é? Cão? Raposa? Javalis? Mas isto é um Evereste ou um Safari?
– Não te preocupes, pode ser que o cão esteja preso, já a raposa e os javalis são uns queridos, só tens de ter cuidado é se estiveres a comer que eles começam logo a pedir. – atentou Neves como quem atenta mesmo.
– Ai a raposa e os javalis são uns queridos… – o sarcasmo é forte no Velopata.
– Sim pá, não te preocupes. Ou o Velopata, esse grande amante de animais vegetariano tem medo da Natureza?
O Velopata procurava subterfúgios a esta última cáustica questão, tendo-se salvo por uma placa sinalizadora da localidade que o enlatado atravessava.
O silêncio tomou conta da atmosfera enlatada.
Exceptuando o Pinto, que já contabilizava dois Everestings a solo nas suas pernas (ele há moçes que não aprendem…), aquela placa simbolizava o sentimento de toda a troupe.
Ia tudo à Rasca.
Fim do Prólogo
Abraços velocipédicos,
Velopata
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