Os copos que não bebi
Os discos que não toquei
Os poemas que não li
Os filmes que nunca vi
As canções que não cantei
Meus amigos, importante é o sorriso
Para seguir viagem
Com a coragem que é preciso
Não adianta, deitar contas à vida
A ternura dos quarenta
Não tem conta, nem medida
por Paco Bandeira in A Ternura dos Quarenta
Todos conhecerão a melodia da canção, imortalizada pelo cantautor Paco Bandeira, mestre exímio na arte de espalhar ternura até mesmo longe das luzes do palco, no conforto do lar.
Mas não é esse o tema que o Velopata hoje traz até vós.
Aqueles de entre vós que têm a (in)felicidade de privar com o Velopata saberão, que para além de parvo e antisocial, o seu heteromónimócoiso, habitante neste sétimo calhau a contar de Plutão, celebrou mais uma volta completa em torno do Sol, nomeadamente, a sua quadragésima volta.
Quarenta anos.
Um Quatro e um zero.
É natural que a entrada na quarentonice e todas as alterações feromonais e coiso que um macho de bicho humano ultrapassa influenciem sua mente a divagar em importantes questões, daquelas existenciais, já tantas vezes colocadas por tantos outros machos no decurso dos respectivos relógios biológicos.
E isto é algo que está a bater forte e feio no Velopata.
(Nota velopatóide: não é bater como Paco Bandeira arriava na fêmea, é um bater diferente, quase tipo moca da ganza mas sem o redutor Petromax.)
Será que a aquisição de uma nova montada, com o reformar da já muito castigada Estrela Vermelha, merecerá o upgrade para Ultegra em vez de um 105? Compensará a fiabilidade aos ganhos no aero ou lá o que é?
Devia ele, equacionar a aquisição de uma montada em full aero aço, capaz de suportar com maior conforto a dureza das longas tiradas?
Ele sente o chamamento da roda tuénináiner. Para quando esse esforço financeiro?
E os ponteiros do relógio que não cessam seu matraquear.
Para um Velopata, as respostas que ao longo de gerações apoquentaram tantas outras mentes como a sua, são simples, óbvias.
Muito provavelmente ele tem menos anos de vida do que os já vividos até agora.
Se o Velopatazinho seguir a actual tendência e só providenciar progenia aquando da mesma idade do Velopata-Pai, há uma forte probabilidade do Velopata nunca chegar a se transformar em Velopata-Avô.
E isso é lixado com F maiúsculo.
Já que ele se iniciou nisto da parentalidade, agora desejava toda a experiência.
Ensinar o netinho a pedalar, por exemplo.
Quando questionado pelo cunhado velopático sobre o que fazer em relação a isso, a resposta velopática não se faz tardar, só uma palavra viável ao catalogar de sentimentos.
Por este se tratar um espaço que menores podem estar a frequentar, o Velopata escreverá apenas que a sua resposta se resume a uma só palavra, começando com “Fo” e terminando com “Dasse”.
Acrescentando a isso, inúmeras observações mostram ainda que a partir da entrada nos quarenta, os ternos quarenta, as coisas ficam mesmo mais ternurentas o que só pode ser considerado eufemismo bonito e metáfora e coiso para… As coisas ficam mais moles.
As pernas ficam moles.
O fitness vai-se abaixo.
É uma inegável realidade.
Sempre disposto a labutar como quem labuta mesmo para vossa constante evolução e aprofundar de conhecimento da nobre arte da Velocipedia, eis um boneco por ele preparado para vossa profunda reflexão.

Como pode um Velopata não ficar preocupado…
Haveis atentado à colocação da ternura quarentona no gráfico acima?
A estatística não parece de todo, agradável.
O Velopata entrou na fase Downhill da coisa.
Ternura, não.
Tenrura.
Substantivo feminino; qualidade do que é tenro.
A última fase evolutiva velocipédica que aguarda o Velopata; as outrora musculadas e depiladas quase engravadas em carbono de alto módulo pernas vão virar… Tenrinhas.
E quanto a isto novamente só ocorre ao Velopata uma resposta. Aquela uma só palavra, começa em “Fo” e termina em “Dasse”.
Talvez acometido por algum alucinado espírito com défice de autoestima, o Velopata engendrou um plano capaz de exorcizar todas estas questões que o apoquentam.
Um daqueles Desafios da Internet.
À semelhança de Baleias Azuis e MOMOs, também este pode resultar no falecimento do sujeito, no entanto, tendo em conta que o Velopata não é de todo parvo, optou por um Desafio Daqueles da Internet onde a coisa mete Bicicletas.
Um tal de Neverendingesting ou lá o que é.
O modus operandi é simples, bastando pedalar e repetir a mesma subida durante o número de vezes necessárias a completar o desnível acumulado positivo coincidente com a altitude do Monte Evereste.
Todos os oito mil, oitocentos e quarenta e oito metros de altitude.
Este é um desafio velopático ainda em mais parvo pois atente-se que o Velopata terá de repetir a(s) subida(S) nas redondezas do Barranco do Velho fazendo dA Tia Bia como sua base de apoio logístico, sanitário e médias, a sua base de operações.
Isto é coisa para se lá passar grande parte do dia e noite.
Dois segmentos strávicos serão muitas vezes repetidos.
A Estrela Vermelha está preparada.
Veremos se os quarenta do Velopata também aguentarão.
Este Desafio Daqueles da Internet terá lugar já amanhã, Sábado, dia oito do mês de Junho do Ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de dois mil e dezanove.
Se alguém quiser passar por lá e experienciar toda a miséria e empenanço e autoencarochamento providenciado pela visualização velopática in situ, é só aparecer.
Não importa a hora, ele deve pedalar por lá todo o dia.
Renunciando toda esta história da ternura dos quarenta.
Quando o Velopata terminou o briefing desta sua aventura junto da Srª Velopata, tendo aproveitado para notificar da provável hora de regresso ao lar que será pelas tantas da noite, sua opinião foi indiscutível;
– Isso não é a ternura dos quarenta. Isso é a estupidez dos quarenta.
Abraços velocipédicos,
Velopata
Pingback: Meio Evereste – Blog do Velopata
Pingback: Divisão Velopata – Maio que não der carochada, não dá coisa empenada – Blog do Velopata