Boicote.
Substantivo masculino, criado para descrever as acções de um sem número de arrendatários de um tal de Charles C. Boycott, que na Irlanda do século XIX, se recusaram a trabalhar devido à severidade e exigências desmedidas deste Lorde que, certamente, era facho. Pode ser utilizado como verbo transitivo, onde adquire o significado de recusa como forma de protesto ou represália, terminando qualquer relação ou colaboração.
“Cambada de gatunos, chupistas e aldrabões!”
“Isto é um escândalo, um roubo e uma vergonha o que nos estarem a fazer!”
“Seus ladrões! Lá os vossos subsídios vocês não cortem!”
“Larápios! Chega de róbarem sempre o Zé Povinho!”
A indignação alastra pela internet com mais ímpeto e furor do que aquele com que uma troupe de adeptos pertencentes a uma claque de um clube desse desporto menor que é a bola, alastra pelos balneários de Alcochete.
Que o Velopata achou um piadão daqueles; afinal de contas, isto só vem reiterar o que ele já tantas vezes disse e escreveu sobre esse desporto onde meninas passam mais tempo deitadas no chão fingindo-se aleijadinhas e coitadinhas e que dói muito, do que própriamente a chutar um objecto esférico de poliuretano de um lado para o outro – a bola enaltece o que de melhor este bicho humano tem para dar.
Isto para não escrever que o cidadão comum português apresenta umas prioridades um je ne sais quois distorcidas, só aparentando meter as mãos na massa quando se lidam com assuntos realmente importantes desta vida como o desporto da bola o é.
Mas não é esse o tema que nos traz aqui hoje.
Ou até é.
Parece que o combustível, esse ouro negro que move a ainda primitiva sociedade do século XXI, à venda neste pequeno país à beira mar mal plantado que é Portugal, acabou de se transmorfar em um dos mais caros combustíveis do mundo e talvez até da Europa.
Navegava o Velopata pelo mundo facebookiano quando o seu feed se viu invadido e inundado por inúmeras partilhas do póstere abaixo;
Ao que o Velopata conseguiu apurar, parece que os enlatados se estão a mobilizar para um grande boicote nacional no dia vinte e oito de Maio deste ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de dois mil e dezoito.
O que deixa um Velopata realmente espantado com tudo isto é que até à hora em que esta publicação chega ao mui querido leitor, ainda nenhum comentário foi proferido ou escrito por um ignóbil enlatado qualquer numa qualquer caixa de comentários facebookiana, afirmando que tudo isto só pode ser culpa… Dos ciclistas.
Mas não vamos saltar etapas.
Analisando a fotografia acima partilhada por muitos, o imediato destaque prende-se com as palavras escritas a vermelho (ou encarnado), que o Velopata sempre acreditou ser a côr com que se escreve quando se está a mandar alguém para o mastro mais alto de uma nau portuguesa, o que per se indica que os autores deste póstere não estudaram na mesma Escola Primária onde o Velopata passou os primeiros anos de sua vida.
Depois aquela frase; basta de fazerem de nós estúpidos.
Pelo que o Velopata consegue entender, ninguém está a fazer ninguém de estúpido, até porque estúpido nenhum bicho humano é, simplesmente agem estupidamente.
Se alguém acredita que abrir buracos por todo o mundo, extraíndo dinossauros e vegetação arcaica liquefeita sob a forma de uma viscosidade preta, para posteriormente a queimar naquele que é um básico motor de combustão com rendimentos na ordem dos 30% (apenas 30% do combustível que lá é queimado é efetivamente utilizado na produção de força motriz, ou seja, meter a lata em andamento), libertando atmosféricamente quantidades absurdas de poluentes e compostos cancerígenos e tumorígenos apenas para cumprir diariamente uma travessia de 30 quilómetros (distância média percorrida por 1 enlatado na União Europeia), é uma solução lógica e válida para a mobilidade urbana – isto sim, é agir estupidamente. E ninguém te está a fazer passar por estúpido, já o estás a fazer por ti próprio.
Se não queres agir estupidamente, tens um santo remédio – vai de bicicleta!
Ou até… Vá, podeis ir a penantes. A pé.
É menos evoluído mas funciona quase tão bem como a gloriosa bicicleta.
Temos os combustíveis mais caros do mundo!, afirma a segunda frase deste bonito póstere.
Como este quer-se um espaço velointernético sério e independente, claro que o Velopata tratou de averiguar;
Hã?
Portantos, nem sequer em território europeu chegamos ao pódio do combustível mais caro, mas andem aí convencidos que temos o combustível mais caro do mundo. Bem, vai na volta e descobrir-se-á que estes enlatados também são daquela gente que acredita que o Planeta Terra é plano, quando na realidade todos sabemos que é assim a modos que meio oval pois essa é a melhor forma aerodinâmica planetária, segundo estudos levados a cabo pela Rotor.
Mesmo convencidos de factos erróneos, a contestação enlatada tem apenas dois simples desejos e motivações;
- um preço dos combustíveis mais justo;
- uma descida do imposto sobre os combustíveis.
Vamos lá devagarinho e por partes, etapa a etapa, para que não ocorram mal entendidos.
Inicialmente é necessária uma equipa multidisciplinar de moços e moças, altamente formados e treinados, para averiguar por onde se esconde esse ouro negro. De seguida é necessária uma bateria de testes para determinar se esse ouro negro lá está e em que quantidades se encontra. Tudo isto pode ser feito com orçamentos menos elevados quando o estudo é em solo firme, aumentando exponencialmente quando o buraco em questão é para esgravatar no mar ou em pleno oceano.
Contas feitas e aquilo até rende; há que meter mãos à obra e recrutar um sem número de funcionários, trabalhadores, colaboradores, escravos e máquinas que parecem saídas de um qualquer filme de ficção científica, para montar toda a parafernália estrutural necessária à recolha do precioso ouro negro. Claro que se esta estrutura não assentar em solo firme e se posicionar no mar (ou oceano), o orçamento quadruplica. Ou quintiplica. Ou hexaplica.
Recolhido o ouro negro, há que o transportar para a refinaria, local onde passará a ser o néctar da religião enlatada. Em suma, mais mão de obra, mais custos de transporte, mais estruturas e edifícios para suportar todo o processo.
A fase final consiste em novamente transportar e distribuír como quem transporta e distribui mesmo, o outro negro já transmorfado em combustível para usufruto da legião enlatada.
Com os tanques cheios de sumo, a horda enlatada faz-se ao alcatrão e consegue ainda a proeza de transmorfar aquela viscosidade preta em poluentes que destroem o ar que o Velopata respira, que o mui querido leitor respira, que os que fizeram like mas não lêm o blogue respiram, que os que ainda vão fazer like e follow respiram… Ei, até o próprio ar que o vil cidadão enlatado respira, ele destrói!
Em qualquer elo de toda esta oleada cadeia, uma simples falha (tipo não apertar um parafuso corretamente), origina catástrofes com impactos a todos os níveis conhecidos pela humanidade.
1,60€ por cada Litro de tudo isto.
É muito?
Mas está tudo a gozar?
“Epá, tu já me vistes isto? Agora o tabaco vai aumentar bué.” – dizia um colega de métier velopático, aquando da pausa labutar para um cigarrinho, no início deste ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de 2018.
“Pois, mas quanto ao tabaco aumentar temos é de calar e comer. Ou fumar, para ser mais literal.” – retorquiu o Velopata.
“A´tão ma que conversa é essa? Tu também fumas.”
“Exatamente por isso.”
“Hã?”
“Fumar faz-te bem?”
“Ma que raios de pergunta… Claro que não.”
“Porque para além de ser um vício nojento, está mais que provado que fumar provoca um elevado número de doenças, certo?”
“Sim, e?”
“Por exemplo, isso acarreta problemas para o nosso Sistema Nacional de Saúde, certo?”
“Epá, não gosto nada quando fazes esses raciocínios assim tão lentos!”
“É para os leitores do blogue entenderem bem.”
“Ah, ok.”
“Então posto tudo isto… Não achas que o tabaco até é barato? Não devia ser muito mais caro, absurdamente muito mais caro como o é nos países nórdicos? Que sei que concordarás com o Velopata quando ele diz que esses países até aparentam ser um pouquinho nada mais civilizados e evoluídos que nós, sangue quente latino?”
Velopata e colega de métier ficaram em silêncio, abafados pelo primitivo roncar de um enlatado Veloz & Furioso que poluíu bem mais que o fumo dos cigarrinhos, entretanto já extintos.
Perceberem?
Conduzir um enlatado é mau para todos.
Especialmente se viverem na mesma urbe e arredores do vosso local de labuta diário.
30 quilómetros é a distância média percorrida diariamente por um cidadão enlatado na União Europeia (aquela dos eirios, espaço chénguéne e coiso, não é a da Eurovisão que mete Austrálias e Israeles, essa deve ser uma homenagem à Europa dos tempos de Pangea).
30 quilómetros nem a distância de aquecimento dos pistons do Velopata é.
E agora o Velopata vê-se forçado a abrir um parêntesis que poderá muito bem custar a perda (Perca é um peixe da família dos Percídeos), de um quantos likes, follows e coiso.
Ao fim de semana, muitos da elite ressabiada enlicrada praticam voltas de bicicleta (a que chamam treinos), a rondar os cento e cinquenta ou até mais quilometragem.
Vangloriam-se disso nos Facebooks e Instagrams da vida.
Mas trinta quilómetros entre casa e trabalho é muito.
´Tá certo…
“Ah, mas e as compras e os filhos e a família e coiso?” – pensam já os muitos ofendidos com estas linhas.
Velopata 1 – 0 Leitor Ofendido.
O imposto sobre o tabaco ronda aproximadamente os 80%.
Mesmo sendo ciclista fumante, o Velopata não teria problema nenhum em ver este imposto aumentado para 99,9%.
É justo.
Poderia até dar-se o caso de finalmente ele deixar de fumar, poupando mais eirios para gastar em carbono.
60% de imposto (ou mais, muito mais!), sobre os combustíveis poderia até desmotivar um outro colega de métier velopático que recorre à lata para se deslocar de sua casa até ao local de labuta que dista… Uns brutais 1,5 quilómetros. E planos.
Combustível, Imposto de Circulação, Seguro, Inspeções obrigatórias para perfazer apenas 3 míseros quilómetros diários.
O Velopata não escreveu já que ninguém é estúpido, apenas age estupidamente?
Outra característica engraçada do bicho humano portuga é a capacidade de argumentar com exemplos dos estrangeiros lá de fora mas apenas quando lhe dá jeito.
Quando se iniciou a louca espiral de construção de ciclovias pela capital do nosso país, muitos foram os que berraram a pleno Caps Lock pelas caixas de comentários que isto não é a Holanda!
Por curiosidade, o governo holandês até aplica valores mais altos de imposto sobre os produtos derivados do pitroil, numa bem sucedida tentativa de reduzir o seu consumo.
Mas quando dá jeito, o bicho humano portuga alega outros exemplos, como o de até na América o combustível é mais barato!
“Terá o bicho humano que escreveu isto, pensando nem que fosse aí uns cinco segundos antes?” – é a questão que tira o recuperador sono velopático.
A América esbanja liberdade. Direitos civis. Sem sombra de dúvidas que a nação que elegeu para Presidente aquela espécie de bicho humano, deslavada, mal penteada e que ao abrir de boca apenas deixa ouvir execráveis dejectos, poderá servir de exemplo para seja o que fôr.
Até porque se escreve sobre um país que à mínima percepção das palavras pitroil e país, mete a máquina bélica ao rubro, fazendo sempre o favor humanitário de levar freedom até aos povos que tiverem a sorte de habitar por cima de um futuro poço.
Só uma maneira existe de obter combustível mais barato e a um preço justo – num grande esforço conjunto de GNR, PSP, Exército, Força Aérea, Marinha e a claque do Sporting, Portugal deve já escolher, apontar mira e começar a distribuir liberdade por um qualquer país do Médio Oriente, pois diz que é lá que qualquer gajo que vá ao quintal escavar uns buracos para plantar uns cuscuz, encontra pitroil.
Claro que esta não é a única solução; ao que tudo indica, parece que o reino dos algarves também é rico em bolsas de pitroil, mas não deixa de ser irónico que para o bicho humano portuga, ter exploração petrolífera nos seus mares e serras, que se poderia traduzir em preços mais baixos, seja um ultraje.
Até porque parece que essas coisas são perigosas.
E isto ninguém quer em casa.
Que seja no quintal do vizinho.
Nem importa que para isso, o vizinho até tenha de ser explorado.
´Tá certo…
Em antes que venham já daí os ofendidos anti-petróleo do Algarve e arredores, lembrem-se; o Velopata, ao contrário de vós, recorre à bicicleta todos os dias, nem dono de uma lata é, desejando apenas que todos vós; anti-petróleos, pro-petróleos, governos, gasolineiras e lobbys enlatados coloquem os vossos poços e estações petrolíferas… Naquele local onde o Sol não brilha.
Acreditam mesmo que não colocar combustível no dia 28 de Maio vai fazer moça a alguém, mudar algo que seja?
Quando na véspera ou no dia seguinte vão lá mesmo, comer novamente da mão deles, perpetuando o vil ciclo de destruição deste bonito quinto calhau a contar de Uranus?
Querem boicotar a sério?
Não ajam estupidamente.
Façam como o Velopata.
Ele vai boicotar durante os 365 dias de 2018.
E durante o resto de sua vida.
Abraços velocipédicos,
Velopata