O anúncio foi feito com toda a pompa e circunstância a que semelhante decisão governativa obrigava; tendo em conta o número de acidentes graves, acidentes menos graves, colisões, cacetadas, porradas, atropelamentos, caos generalizado e evidências de uma mortandade geral nas estradas portuguesas, o M.A.I. (Ministério da Administração Interna), apresentou uma nova proposta de lei que se traduz na limitação da velocidade máxima enlatada a 30 quilómetros por hora no interior das ruas, ruelas, becos, estradas e estradinhas das localidades deste país à beira-mar mais ou menos mal plantado até porque nos entretantos já ardeu tudo.
Um escândalo.
Como um mal nunca vem só, tudo indica que o equivalente ao M.A.I. dos estrangeiros lá de fora da União Europeia, com a recomendação do Conselho Europeu de Segurança Rodoviária, ainda teve a audácia de propor que todos os enlatados vendidos no espaço europeu a partir de Maio deste ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de 2018, deverão vir equipados com limitadores de velocidade.
Mas está tudo a gozar?
Após aquele anúncio de Eduardo Cabrita, nosso actual Ministro da Administração Interna, as redes sociais incendiaram-se mais que eucaliptos em Pedrogão Grande.
“ISTO É CAÇA À MULTA!” – escreviam uns em Caps Lock, indicando que berravam a plenos pulmões a sua indignação.
“Arranjem mas é as estradas em vez de virem atrapalhar a vida de quem trabalha!” – estes já não berravam em Caps Lock, mas mostravam também o seu descontentamento nas redes sociais.
Conhecedor dos devaneios deste pequeno recanto velointernético e sabendo que o Velopata é um moço que gosta muito de contribuir como quem contribui mesmo, não será surpresa nenhuma para o mui estimado leitor que o Velopata tenha imediatamente lançado mãos à obra, reunindo um sem-número de importantes recomendações e compilando-as sob forma de uma Carta Aberta a enviar aos senhores do M.A.I., tentando fazer ver a esta gente sem um pingo de noção de realidade, o quão ridículo é tentar impôr leis humanizantes a uma sociedade cada vez mais desumanizada, aproveitando para sugerir o que pode e deve realmente ser feito se queremos que menos cidadãos portugueses e estrangeiros lá de fora encontrem a morte nas nossas estradas.
1 – Limites de Velocidade.
Se com a actual lei que obriga enlatados a circular a menos de 50 km/h no interior das localidades são atropelados cerca de 5 bichos humanos semanalmente, para além das 2 mortes diárias resultantes de cacetada entre os próprios enlatados, alguém acredita mesmo que diminuir essa velocidade em 20 km/h fará alguma diferença?
Se a ideia do M.A.I. é aumentar o número de sobreviventes no alcatrão portuga, a proposta velopática e solução para este flagelo é simples – acabe-se com os limites de velocidade!
Se chegando a estas linhas o mui venerável leitor hesita ante a lógica velopatóide, por favor acompanhe o seguinte raciocínio; imaginem um moço que fica até altas horas da noite a navegar pelos instagrams, facebooks e pornhubs até finalmente arrochar. No dia seguinte adormece e sai de casa para o trabalho atrasado. O que acontecerá se o limite de 30 km/h for avante? O moço vai stressar, ficar retido num gigantesco engarrafamento, depois vai stressar ainda mais, chegar atrasado e após umas quantas repetições destes mesmos acontecimentos, terminará despedido.
Sem direito a indemnização e chegando constantemente atrasado a tudo o que é entrevista de emprego, lá está, devido ao imposto e ridículo limite de velocidade de 30 km/h, sem uma forma de rendimento e sustento que o valha, o moço rapidamente cairá numa espiral depressiva tal que começando a somatizar como quem somatiza mesmo, é afligido por uma série de maleitas, sobrecarregando o já sobrecarregado Sistema Nacional de Saúde. Aflito com os pagamentos da renda da casa, água, luz, gás e dados móveis do smartphone para pornografia, é forçado a virar-se para o mundo do crime. Termina morto após perseguição policial na Via do Infante, em fuga devido a mais um dos muitos assaltos onde era suspeito. Nessa mesma fuga ainda engendrou maneira de atropelar 3 peões, 1 ciclista e 1 pombo.
“Os peões atiram-se para as passadeiras sem respeitar o meu veículo!” – escrevem uns na caixa de comentários da notícia.
“O ciclista fez por isso porque às vezes é o que dá vontade!” – comentarão outros na caixa de comentários da notícia partilhada por esse marco do jornalismo que é o Correio da Manhã.
“RATOS COM ASAS CHEIOS DE DOENÇAS!” – escreverão ainda outros, vociferando a sua indignação e ódio porque sim.
Qual a lição de moral?
6 indirectas fatalidades provocadas por essa parvoíce que é o limite de velocidade de 30 km/h no interior das localidades.
Vivemos tempos conturbados. Anda tudo cheio de pressa; seja pressa para chegar ao local de labuta, pressa para ir buscar os rebentos à creche ou escola, pressa para ir às compras, pressa para regressar das compras, pressa para ir de férias, pressa para regressar das férias, pressa para regressar ao conforto do lar após o dia de labuta, pressa para ir ao ginásio e tirar selfies enquanto se pratica o cycling na bicicleta estática, protestando por ter chegado atrasado e perdido aquela aula com aquele Pêtê (Personal Trainer, em cámone), devido aos desgraçados dos ciclistas que só atrapalham na via pública; mas em que direito se sentem os orgãos governativos de agora obrigarem a malta a conduzir mais devagar? Não terão eles também, em dada altura das suas vidas quando ainda não eram corrup… Políticos, sentido na pele os efeitos stressantes que 2 horas no pára-arranca para perfazer uns escassos 3 quilómetros têm? Como quer o Governo reduzir o número de engarrafamentos neste país? Como quer o Governo zelar pela saúde mental dos seus cidadãos? Certamente que forçando o cidadão a conduzir mais devagar, ou melhor, quase parado não é solução para ninguém.
Quanto mais rápido melhor, o Velopata não entende como pode alguém pensar o contrário.
Segundo foi permitido apurar ao Velopata, vivemos num estado de direito democrático onde a totalitariedade da maioria impera.
Como podem agora vir os estrangeiros lá de fora da União Europeia, introduzir sistemas de controlo e limitação de velocidade na lata que um gajo quer comprar? Onde está o direito à adrenalina, a seguir o exemplo do Apóstolo Vin Diesel e o recentemente canonizado Paul Walker, esses grandes líderes religiosos da fé enlatada, onde está o direito fundamental à velocidade furiosa?
É opinião velopática que reduzir o limite de velocidade nas localidades, para além de trazer uma perda dramática da qualidade de vida dos portugueses, terá ainda maiores impactos na economia.
Taxistas e Uberistas.
Empresas de distribuição de produtos.
Equipas comerciais e vendedores.
Estas serão profissões com os dias contados ou lá terão as empresas de fazer um hérculeo esforço para pagar a quantidade de multas e coimas que vão sofrer às mãos dos tiranos Agentes da Autoridade.
Mas disto já ninguém fala ou escreve.
Reduzir o limite de velocidade para 30 km/h é arruinar uma já deficiente e presa pelo elástico economia.
2 – Autódromos e Pistas de Fórmula 1.
Já o Apóstolo Juan Antonio Flecha dizia na Eurosport que o segredo para ultrapassar um famigerado sector de pavê consistia em acelerar como se a vida dependesse disso, logo o comportamento adoptado pelos enlatados faz todo o sentido – quando o piso se encontra em má qualidade e estado de conservação, o truque é apontar em frente e… Acelerar.
Segundo os últimos relatórios da União Europeia, bem como observações in situ dos muitos estrangeiros lá de fora que visitam o nosso país, Portugal tem das melhores estradas do mundo e talvez até da Europa.
Mas essa estrangeirada lá de fora anda cega ou quê?
E se mais uma vez o mui querido leitor dúvidas tem que o mau piso das estradas portuguesas é o real factor por trás do inominável número de acidentes, atente ao exemplo abaixo apresentado pelo Velopata.
Um jovem bicho humano sai para uma noite de copofonia com os seus boémios amigalhaços, emborcando sozinho 2 garrafas de tintol durante o jantar, seguindo-se uns 5 ou 6 gin tónicos que mais parecem saladas de legumes com alcoól lá misturado, segue-se a bica com aquele cheirinho de aguardente de medronho, depois mais uns copitos de uísque para animar a festa na Sunset Disco Rooftop After-hour Party e para terminar, quando a larica aperta, nada como uma pit-stop numa daquelas maravilhosas ASAE-friendly roulotes, onde emborca uma sandes de pedaços fumados de cadáver animal, empurrando tudo goela baixo com uma grade inteira de mins.
Na estrada a caminho de casa, a cerca de 145 km/h no interior de uma localidade, o pobre coitado apercebe-se de uma enorme cratera mal sinalizada no alcatrão e é forçado a desviar-se para contramão, embatendo violentamente de frente num outro enlatado.
Morre tudo e de quem é a culpa?
É óbvio que a culpa é das Autarquias, Juntas de Freguesia, Câmaras Municipais e em última instância do Governo que nada fazem para resolver o problema que aquela cratera provoca aos condutores que por lá passam.
Não há semana em que alguém não partilhe pelo Facebook os protestos e o abandono que a região algarvia sente na pele, particularmente quando se olha para o estado da malograda Nacional 125, apelidada de estrada da morte devido ao seu mau estado fazendo o Governo pouco ou nada para evitar a mortandade que lá ocorre.
Até que os nossos dirigentes lá se enxergaram e metendo mãos à obra, alcatroaram novamente determinados segmentos que estavam realmente em deplorável estado, aproveitando ainda para inserir traços contínuos em comprovadas zonas de elevado número de acidentes, bem como aqueles divertidos pinos entre faixas de rodagem, espectaculares para qualquer adepto (e parecem ser muitos), do que o Velopata acredita ser uma possível modalidade a incluír nos próximos Jogos Olímpicos, o Bowling Enlatado.
Vendo todas estas obras finalmente serem feitas na famigerada N125, o que fizeram os algarvios?
Protestos até mais não.
Buzinões e Marcha Lenta.


Então mas agora é traços contínuos por todo o lado?
Rotundas a cada meia dúzia de quilómetros?
As pessoas não andam para aqui a brincar aos Ayrton Sennas e Alain Prosts, as pessoas andam aqui a trabalhar e agora não se pode andar a abrir… Só porque não?
O rufar da tarola desta pérola do comportamento humano enlatado é que numa das marchas lentas, um primitivo veículo de duas rodas da Autoridade Policial acabou abalroado por uma lata civil – mas os traços contínuos e os pinos é que estão mal colocados.
Certo.
Em suma, o parecer velopatóide é simples; há que substituir rapidamente todo o alcatrão das estradas portuguesas por alcatrão semelhante ao das pistas e autódromos de Fórmula 1, pois um piso da categoria e qualidade de Jacarepaguá aumenta a segurança de todos os que nele circularem.
Mas não é apenas a qualidade do piso. O alcatrão tem mais que se lhe diga.
Continuai a ler.
3 – Semáforos, sinais de Stop, Triângulos e Prioridades.
No seguimento da exposição anterior; quem foi o autocolante raro que teve a ideia de inventar o traço contínuo? Não vos parece um grave atentado ao democrático direito de livre arbítrio? Uma ofensa à liberdade individual de cada cidadão?
E mais… Quem é que no seu perfeito juízo teve essa outra infeliz ideia de criar uma estúpida e ridícula regra de cedência de prioridade à direita? Os bifes conduzem as suas latas à esquerda e isso não aparenta trazer desvantagem nenhuma. Porquê dar prioridade à direita? O Bloco de Esquerda sabe disto?
Quem foi o asno que inventou o sinal de STOP?
Que jumento foi acometido de uma disenteria mental tal que acreditou ser um Triângulo virado para baixo, um símbolo necessário à circulação enlatada?
E o que dizer dos semáforos? Não saberão os nossos dirigentes que elevada percentagem de machos de bicho humano é daltónica?
Analisando os factos acima expostos, foi então que o Velopata teve o que se pode denominar de epifania e que gratuitamente vai aqui partilhar convosco, queridos leitores e senhores do M.A.I..
Porque não eliminar por completo a sinaléctica das nossas estradas, substituíndo-a através da inclusão de um Sensor de Pressa nos enlatados?
A coisa funcionaria mais ou menos assim; antes de iniciar a sua viagem, o condutor inseria no computador da lata, a hora na qual pretende estar presente no destino. O algoritmo do software calcularia o nível de respeito que o condutor não possuía pelos restantes utilizadores da estrada, baseado numa histórica parceria entre a empresa produtora dos referidos sensores e o Facebook, onde recorrendo aos dados biográficos do utilizador recolher-se-ia informação, como por exemplo, que o filme Velozes & Furiosos é a sua película de eleição. Contas feitas e o Sensor de Pressa através de um touchscreen de plasma em lédes com nanotecnologia LCD instalado no capot da lata, mostrava o I.D.P. ou Índice De Pressa desse mesmo condutor. Chegando às bifurcações, cruzamentos e afins, a prioridade seria sempre estabelecida de acordo com a pressa de que cada um exibia no seu touchscreen com lédes em plasma com nanotecnologia LCD.
Como mais para a frente o querido leitor e senhor do M.A.I. entenderão, isto era medida a aplicar também a peões, bicicletas, skates, patins em linha, trotinetes, segways, cadeiras de rodas & CIAs, bem como animais de companhia e da natureza selvagem. Sensor indicador do Índice de Pressa num colete reflector fluorescente amarelo e voilá! Isto era medida para não só reduzir por completo o número de acidentes como também acabar com os engarrafamentos.
A única questão que se coloca é; como é que Elon Musk e a malta da N.A.S.A. ainda não se lembraram disto. E o Velopata feito cromo aqui a partilhar uma genial ideia com um possível retorno de milhares de milhões de eirios. Assim é que ele nunca mais amealha dinheiro para uma Cannondale Synapse toda Ultegra.
4 – Imposto de Circulação, Seguro e Inspeção Obrigatória.
Estrada.
Para os mui queridos leitores culturalmente menos abonados, a palavra foi inventada pelos romanos, denominando-se Via.
Dúvidas não existem em como os romanos eram um povo muito à frente do seu tempo (até já praticavam a pedofilia muito antes da clientela da Casa Pia), como tal, não será supresa nenhuma que estes tenham inventado as vias para que muitos séculos depois os enlatados as pudessem utilizar, clamando serem suas por uma espécie de destorcido direito divino.
Postos estes factos, com que direito é que essa maralha das bicicletas, skates, patins em linha, trotinetes, segways, cadeiras de rodas & CIAs acreditam agora ter direito a usufruto das mesmas, ainda por cima não pagando um único cêntimo pela utilização da via?
Uma breve e fugaz observação pela estatística do número de mortes nas estradas portuguesas, resultantes da interação entre enlatados e quaisquer outros meios de transporte, deixa claramente perceber que o problema está nos outros meios de transporte e não nos enlatados. Porque razão só ao enlatado é obrigatório o pagamento de taxas, taxinhas, impostos e seguros, quando todos fazem usufruto da mesma infraestrutura? Não devemos todos pagar?
“É sim! Esta escumalha de esquerda acha que pode andar aqui a usufruir do dinheiro dos contribuintes, é só direitos e reis na barriga e ai, ai, ais que eu sou uma bicicleta e tenho direitos, mas deveres e responsabilidades que calha a todos – nada! Uns chupistas!” – criticará razoavelmente um qualquer cidadão de bem e por sinal facho preconceituoso, na internet.
De modo a aumentar a segurança rodoviária de todos, o Velopata propõe que também bicicletas, skates, patins em linha, trotinetes, segways, cadeiras de rodas & CIAs devem pagar seguro.
Mas há mais.
Tudo e todos os que façam usufruto da via, devem pagar I.U.C., devem ser detentores de um seguro válido e inspecções periódicas obrigatórias porque a segurança acima de tudo.
Se isto parece descambido, vamos por partes e com exemplos, alguns já experienciados in situ pelo Velopata;
- um enlatado atravessa a 135 km/h uma zona residencial de prédios, parques infantins e zonas verdes em monte, quando uma dona de casa chama o seu Piduças do outro lado da faixa de rodagem. O canídeo atravessa-se e o enlatado sofre avultados danos na sua viatura;
- um ciclista segue encostado na berma, atrapalhando o trânsito em monte, quando subtilmente um enlatado se prepara para lhe espetar uma razia a 100 km/h à saída de uma localidade, sendo certamente lembrar quem seria o Rei do Alcatrão o seu objectivo, quando naquele exacto momento a errada hora, o ciclista desviou-se 10 milímetros para o lado para se desviar de pedaços de vidro no asfalto e lá terminou o enlatado com avultados danos no seu veículo;
- um enlatado segue a 150 km/h numa determinada recta de uma serrana estrada quando uma cobra se esgueira para o quente alcatrão – o enlatado derrapa na húmida tez da cobra e destrói o raile a caminho da valeta, com óbvios avultados prejuízos no seu veículo;
- quem escreve uma cobra também escreve; um coelho, uma raposa, uma ovelha, uma vaca (mais raro), uma porca (mais comum), um felino ou até um javali, qualquer animal que se atravesse no alcatrão é razão mais que suficiente para um pobre condutor se ver forçado a ter de suportar avultados danos no seu veículo;
- pombos também, e esta é bem verídica e experienciada in situ velopaticum est. Na baixa farense, o Velopata levou na face uma cacetada tal de um pombo… Agora imaginem o pobre coitado enlatado que a 210 km/h na autoestrada leva com um pombo que entretanto é liquefeito no vidro frontal da lata. É razão mais que suficiente para terminar com avultados danos no seu veículo;
- um infantil grupo joga à bola no recreio da escola e há por lá um petiz que confunde jogar esse desporto menor da bola com aquele dos meninos betos brutamontes, ainda mais menor desporto, que é o Rûguebi. A bola sai disparada do recinto I.P.S.S.-friendly e atinge um enlatado que passava em frente ao portão a 119 km/h. Não só o susto provocado pela bola mas a consequente perda de controle da lata, podem levar a avultados danos no enlatado;
- uma dona de casa estende a sua roupa acabada de lavar, no quarto andar de um prédio fustigado por um particular dia de vento (que ultimamente não têm faltado). Perde o controle de uma suas cuecas do estilo da avó, que voam, voam e vão aterrar sobre o vidro da frente de um enlatado que seguia numa zona residencial, daquelas com parques infantis e zonas verdes em monte, a 110 km/h. De cuecas avó-style a obstruírem a visão e a estrada, o pobre enlatado lá tem de suportar avultados danos no seu veículo.
Conseguem perceber onde o Velopata quer chegar?
Em todas as situações acima expostas, o querido leitor consegue enumerar 1 só em que a culpa seja do enlatado?
Claro que não.
Por tudo o acima exposto, tudo e todos devem pagar I.U.C., ter seguro e inspecção obrigatória;
- se o Piduças tivesse seguro, poderia perfeitamente pagar os avultados danos provocados no veículo;
- se o ciclista pagasse Imposto Único de Circulação, o enlatado teria certamente o direito de lhe dar maior distância de segurança aquando da ultrapassagem;
- a cobra, o coelho, o javali, a vaca e a porca – quem são os donos destes animais? Alguém tem de pagar os avultados danos sofridos ao enlatado, a estrada não é o habitat para espécies animais inferiores; que se chame à responsabilidade o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural.
- os pombos? As Associações Columbófilas da região que paguem.
- os petizes a jogar à bola? Apenas estavam a fazer o que as crianças fazem, jogando esse desporto menor da bola, logo a culpa só pode ser imputada às produtoras de bolas de futebol por as fazerem voar tão alto, logo, a produtora de bolas de futebol deverá fazer pagar um I.U.C. baseado na poluição gerada na sua produção, um seguro para o caso de algum dia ir parar à estrada e claro, inspeções obrigatórias para certificarmo-nos, enquanto sociedade, que as bolas não provocam avultados danos em veículos;
- a culpa não é da dona de casa, mulher experiente a estender roupa em qualquer condição climatérica, logo a culpa só poderá ser das marcas de roupa que as produzem extremamente leves e aerodinâmicas. As lojas de roupa que tratem de toda a burocracia necessária a colocar aqueles tops e mini-saias legais para andar na estrada.
O Velopata até propõe que também os meios de transporte de bebés, aqueles ca… Carrin… Veículos de transporte de bebés devam também pagar I.U.C., ter um seguro válido e inspecções obrigatórias porque nada como zelar pela saúde da futura geração. Ainda por cima quando se vêm por aí os preços destes meios de transporte, aparentam ter mais tecnologia e pesquisa e desenvolvimento e carbono que uma Cannondale Supersix Evo toda Ultegra, observando o seu preço.
Relembrando as sábias palavras de um Comandante da Guarda Nacional Republicana e coiso, numa épica entrevista a um canal de televisão sobre o porquê de tantos atropelamentos em Portugal;
“A grande questão é que os peões não usam muitas roupas reflectoras.”
O Velopata propõe que todo o cidadão deve ser portador de um colete amarelo fluorescente reflector sempre que sai à rua. Isto pode e deverá ser estendido aos animais, competendo ao Governo engendrar um plano nacional de pintura dos animais da natureza, proeza só antes vista no tempo de Noé, com listas amarelo-fluorescentes para maior visibilidade. Coelhos, Raposas, Cobras, Ovelhas, Vacas e Porcas, todos pintados com listas fluorescentes amarelas.
E pombos.
(Nota velopática: isto pode parecer de uma total imbecilidade mas o Velopata garante que chegou mesmo a ler um comentário na internet de um sujeito que defendia os seguros e matrículas obrigatórios para ciclistas com base neste pressuposto. Que um veículo que pesa muito abaixo dos 100 Kg e se desloca a menos de 30 km/h pode provocar avultados danos numa lata de 1 Tonelada que se deloca a bem mais de 50 km/h. E que ainda poderia fugir depois disso, deixando o pobre condutor sem maneira de pagar os danos na sua lata… A este moço, desde já, o Velopata pede uma salva de palmas.)
Se anda na estrada, deve pagar como os restantes enlatados.
“Ó Velopata, mas como vai o governo decidir qual o valor do Imposto de Circulação a pagar, se esse é um imposto calculado com base na cilindrada do veículo e da poluição que ele produz?” – questionarão os senhores do M.A.I. e os mais atentos leitores.
A lógica por trás do I.U.C. é simples. É como dizer que se pode dar cabo da atmosfera que respiramos que desde que se pague uma irrisória quantia em eirios, não há problema e a Mãe Natureza e o planeta até agradecem. O futuro da nossa espécie é que não.
Para calcular este valor em relação a ciclistas, trotinetes, patins em linha, segways, cadeiras de rodas e até peões, é fácil. Coloca-se estes numa espécie de rolo de treino ou passadeira, com uma máscara na face com sensores para as emissões de dióxido de carbono dos sujeitos, para além de uma sonda onde o Sol não brilha, permitindo assim a medição das suas emissões de metano, tão ou mais prejudiciais como o CO2 para o meio ambiente.
Isto pode também ser aplicado aos restantes animais da Natureza, bem como os de companhia; canídeos e gatos, cobras, lagartos, aranhas e bichos da seda. Se respira e usufrui ou pode um dia usufruir do alcatrão pago por todos nós, deve contribuir também.
Além de que a imagem de um pombo com uma máscara na face e uma sonda onde o Sol não brilha, dando ao litro num teste de esforço físico numa mini-passadeira, tem o seu je ne sais quois.
Calculado o I.U.C para todos, segue-se um seguro que será certamente de um valor superior aos dos enlatados porque lá está – andar a pé, de segway, de bicicleta é perigoso porque o indivíduo por trás destes meios de transporte é, por excelência, um prevaricador do Código da Estrada.
“Ó Velopata, isso já é mesmo mais absurdo. Como é que se vai definir um valor para o seguro de um peão, um coelho ou um pombo?” – questionam os senhores do M.A.I. e o concentrado leitor.
O conceito é simples. Onde causam os ciclistas, peões, coelhos, javalis e pombos, os maiores danos? Os coelhos destroem pára-lamas, os javalis podem trucidar por completo um pobre enlatado, os peões amolgam portas e os ciclistas inutilizam por completo um enlatado, para além de lhe alterarem por completo a cor para um vermelho vivo. Assim, faz apenas sentido que o valor do seguro reflita o orçamento necessário ao arranjo destas peças e partes da lata. Óbviamente que se escreve sobre apenas um Seguro Contra Terceiros. Em última instância, o coelho, a raposa, o peão e o ciclista terminam mortos, não fazendo grande sentido segurar o que quer que seja.
Coelhos, raposas e javalis, o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural faz um seguro para cada tipo de animal.
Ovelhas, vacas e porcas, o seguro deverá ser pago pelo agente pecuário responsável pela bicharada. Ou o chulo.
Todos sabemos o quanto custa o conserto e arranjo de enlatados, seus componentes, peças e derivados. Custa muito pouco quando comparado com o arranjo de uns travões de bicicleta, a mudança de umas rodinhas de um skate, a manutenção de um triciclo ou uma cadeira de rodas, por isso é que se vêm tantos acidentes com estes prevaricadores do alcatrão português. Porque não será a primeira nem a última vez, por exemplo, que o Velopata passeia na serra algarvia com ciclistas cujos travões de bicicleta não funcionam e cadeiras de rodas que descem escadas como se de uma prova de BTT se tratasse. Para segurança de toda esta gente, nada como apertar o cerco e realizar pelo menos 2 vezes por ano uma inspecção obrigatória.
Com as medidas acima apresentadas pelo Velopata, o Governo pode certamente descansar que o respeito e igualdade entre os demais utilizadores das estradas portuguesas será elevado a níveis nunca antes vistos. Não mais Portugal será o terceiro ou quarto mais selvagem estado enlatado da União Europeia.
Isso e a matrícula.
Tudo terá de ter uma matrícula ou código de barras, no caso de animais de companhia e selvagens.
Ou pensavam que o Velopata já se esquecia desse clássico bordão de enlatado ofendido na internet;
“Só os respeito quando tiverem matrículas como toda a gente civilizada. Provocam acidentes com avultados danos na minha viatura e depois fogem!” – protesta um cidadão atento e por sinal menos letrado na área da Física.
É óbvio que tudo tem de ter uma matrícula.
5 – Subsídios.
Bicicletas, skates, patins em linha, trotinetes, segways, cadeiras de rodas & CIAs; todos têm algo em comum. São péssimos para uma sociedade de consumo assente numa óptica capitalista.
Se está cientificamente comprovado que o mais nobre desporto que é o ciclismo contribui como quem contribui mesmo para um aumento da saúde dos cidadãos que o praticam, alguém já parou para pensar em como esta gente não contribui para a sociedade sem ser com selfies todos em modo fit mete-nojo, para além de paisagens mete-nojo das nossas províncias bucólicas?
Uma bicicleta na estrada é menos um utente dos transportes públicos, é menos um utente da indústria petrolífera, é menos um utente do jugo opressor tirânico do lobby enlatado, é menos um utente das oficinas e bate-chapas, é menos um utente da burocracia do estado, é menos um doente no Sistema Nacional de Saúde, é menos um utente das farmácias e industria farmacêutica, é menos um utente nos Centros Comerciais aos sábados e domingos de manhã… Em suma, é um desperdício de erário público com esta gente e a sua triste ideia das ciclovias. Prejudica o Crescimento e a Economia. E ainda por cima custam pequenas fortunas ao Governo com a construção das suas ciclovias e depois ninguém lá quer pedalar porque dizem ser uma porcaria.

Esta não é uma medida política fácil, poderá mesmo levar a perdas de votos nas urnas aquando das próximas eleições, mas algum Governo terá de pegar a batata quente pelos cornos.
A proposta velopática é simples, o Governo deve criar um fundo que permita subsidiar a compra de enlatados topo de gama para todos os portugueses, muito à semelhança da promessa eleitoral do único sério candidato a Presidente da República que este país viu nos últimos anos, Manuel João Vieira. Renovar a frota enlatada de um país é sinónimo de crescimento e desenvolvimento económico, só assim se consegue meter o motor da economia a funcionar com mais utentes da indústria petrolífera, mais utentes do jugo opressor tirânico do lobby enlatado, mais utentes das oficinas e bate-chapas, mais utentes das burocracias do estado, mais utentes do Sistema Nacional de Saúde, mais utentes das farmácias e indústria farmacêutica, mais utentes dos Centros Comerciais aos sábados e domingos de manhã.
Como é que ainda ninguém viu isto?
Mas a pensar ainda mais além, o Velopata lança ainda uma outra proposta.
O término das multas.
Com as receitas dos Imposto Único de Circulação, o aparelho governativo pode e deve abdicar de voltar a multar um único seu cidadão e contribuinte, apanhado em clara prevaricação do Código da Estrada. Coimas de pouco ou nada servem quando a Pitá Pitucha é apanhada no seu ifone X a trocar impressões com a amiga Titá Pipá sobre o novo corte de cabelo da Titá Pitucha e o recente enamorar desta pelo seu Personal Trainer (Pêtê, em português), mesmo enquanto conduzia a 130 km/h em frente a uma escola em hora de saída das turmas da Preparatória.
A Coima ou Multa é um dos vitais conceitos a ser eliminado do vocabulário enlatado, assim como outro importante conceito que deixa o enlatado a tremer de horror.
O estancionamento pago.
6 – Parquímetros e Estancionamento Pago.
Nada pode fazer maravilhas pelo rejuvenescimento de um centro de baixa local e citadino, como a remoção de parquímetros e estancionamentos pagos. Enlatados vão chover em monte com os seus condutores e suas famílias, enchendo lojas e estabelecimentos que sem a sua estimável presença, não poderiam sobreviver.
Por isso, esses mesmos estabelecimentos encontram-se fechados ao fim de semana, queixando-se que tudo e todos se vão enfiar nos Centros Comerciais.
Certo.
Acabando com parquímetros e estancionamento pago, é ver acorrer enlatados atrás de enlatados de regresso às urbes, convivendo de perto com os locais mais habitados por peões, bicicletas, skates, patins em linha, trotinetes, segways, cadeiras de rodas & CIAs, promovendo assim a sua salutar e natural habituação uns aos outros. O bom senso imperará (como sempre!), e a ordem e segurança rodoviária serão restauradas.
7 – Uaifai e dente azul.
“AAAARRRRRRGGGGHHHH!” – berrou um Velopata a frequência cardíaca máxima.
“O que foi?” – questionou a sobressaltada Srª Velopata.
“Que imagem horrível na televisão!”
O casal velopático sentava-se no sofá, agora com um aspecto não tão novo pois a Gata Gorda afiambrou-lhe e bem, quando ao ligar a televisão que ainda não é smart, o Velopata foi horrificado com imagens de um daqueles shows de ode religiosa ao enlatado.
O que ele ouviu a seguir não tem explicação;
Sempre preocupada com a segurança dos seus utilizadores, a marca XX sabe que muitos acidentes acontecem devido a distrações dos condutores, como tal desenvolveu um novo sistema que permite a colocação de cadeiras de bebés na frente do veículo, podendo assim ir virados na direção dos sempre preocupados pais…
Mas está tudo a gozar?
De acordo com esta marca, que por possíveis futuras represálias no alcatrão, o Velopata não pode aqui expôr por completo o nome mas começa com as iniciais Vol e acaba em vo, acredita mesmo que os acidentes são provocados pelas distrações dos condutores? Está tudo novamente a gozar com o pagode?
Em vez de perderem precioso tempo de pesquisa para desenvolver produtos para o bem estar enlatado, é sempre a usar a coisa para o mal, como limitadores de velocidade e radares.
O que o enlatado necessita é um touchscreen com plasma nos lédes em nanotecnologia LCD integrado no seu tabliêr, com direito a uaifai, dente azul, acesso directo às plataformas online e redes sociais, com câmeras e sensores com nove vezes dez elevado à sexta nanomegapixels de resolução com tecnologia Eye Blaster Speed-shot Blind, integradas no volante, tudo em tempo real e actualizado ao nanosegundo.
Como pode um pobre enlatado prestar a devida atenção ao alcatrão se nem uma única selfie pode tirar enquanto aguarda no interminável pára-arranca de uma matinal e chuvosa segunda feira no início do mês na IC19?
Ou para o praticante da religião enlatada, que adora tirar selfies enquanto aprecia uma boa dose de vindieselsismo a bordo da sua nova máquina de tuning, conduzindo na auto-estrada a 250 km/h.
Como podem arriscar e brincar assim com a saúde mental das pessoas?
No fundo, no busílis da questão, o Velopata foi dado a forçar a manete à palmatória, aquela marca que começa por Vol e termina em vo até tinha razão.
Um gajo ainda é livre para poder brincar com os próprios filhos no interior da lata, não?
Mesmo a 110 km/h numa localidade.
8 – As crianças e o futuro.
Recentemente foi sugerido que a Carta de Condução de Enlatados Ligeiros poderia ser adquirida a partir dos 16 anos de idade, e o Velopata não consegue entender como só agora tão tardiamente o Governo se apercebe disto.
Sempre arrojado nas suas ideias, a proposta velopatóide é simples; reduzir esse limite ainda mais.
Se dois petizes aparentemente normais e de boa saúde e famílias, pegaram num terceiro petiz e atiraram-no contra sua vontade do décimo andar de um prédio porque viram na televisão que o Super-Homem conseguia voar e queriam testar essa mesma realidade, que melhor ideia pode contribuir para o melhoramento substancial da segurança rodoviária que colocar enlatados sob o comando de crianças?
Atentos, eles já observam o dia a dia dos progenitores enfurecidos e sem respeito por nada na estrada excepto a sua pressa que todos sabemos ser maior que a dos outros. Com exemplos destes, meter um voltante nas mãos de uma criança e a coisa só poderá melhorar.
Palavra de Velopata.
Perceberam, senhores do M.A.I.?
Numa metáfora de desporto menor, a bola está do vosso lado, resta agora a coragem política para tomar as importantes contribuições aqui sugeridas pelo Velopata.
Só que ao contrário.
Se não repararam, ele é muita forte em sarcasmo.
Abraços velocipédicos,
Velopata
e M.A.I. ‘nada
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