Félix e os Heróis

Hoje é um dia de celebração neste que é o vosso espaço de referência velointernética, inspiração e mantra velocipédico. Pela primeira vez ele vai aqui partilhar não um texto seu, mas sim um artigo da autoria de um seu alucinado companheiro, palhaço e amigo deste duro circo que é a vida do pedal.

O artigo original poderão encontrar aqui.

E sem mais demoras, vamos a isto.

 

1.

1.1

25/2 às 20:18

Tiririm!  (som de notificação no facebook)

Grupo Zés das Bikes.

João Manuel Pinto posted

Meus Senhores!
O grande empeno está a chegar!
Existem intenções de ir tentar fazer a marafada Algarviana do Velopata do próximo dia 10 de Março.

Para quem não sabe, são 500km pelas serras do Algarve… non stop … com a intenção de o fazer em menos de 24horas.
O Velopata já o tentou por duas vezes mas teve azares mecânicos e quedas.

Aviso:
Não existe prazer envolvido durante… será sofrer sofrer sofrer. O prazer da conquista (e esse será único) só vai aparecer 1 ou 2 dias depois da volta quando voltarem a ser novamente uma pessoa

Carlos Borrego e André Alves… segunda oportunidade de fazer algo único

in facebook, grupo Zés das Bikes (privado, só por convite. Sorry) 

 

Tchack!     (som de fechar o portátil à pressa).

Vou fingir que não vi! Esquecer isto depressa. Não li nada, já nem me lembro. Vou dormir e amanhã não me lembro de nada.

 1.2

26/2 às 13:51 (Whatsapp)

Carlos Borrego wrote:

Boas, tu vais aos 500 do Algarve?

-Sei lá! Como é que vou pedir mais um fds à família?

É muito cedo…

2.

– Nem penses que vais ficar com a Herança dos meus pais! Eu já sei o que tu lhes fizeste! És o culpado de tudo e só vou descansar quando te vir na prisão!

– Luísa! Estás louca! E o nosso amor durante estes anos todos? Não resta nada no teu coração?

…….Zzzzzzuuuuuuuuuuuummmmmmmmm….

– Qual amor qual quê? Eu nunca te amei na vida, Zé! Sempre soube que eras um escroque! Um canalha sem escrúpulos!

…….Zzzzzzzzzzzzzzzzzzuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuummmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm….

– Raio do Gajo! – Disse a Querida Esposa!

– Raio de quem, mamã? – Respondeu a Querida Filha. Do Zé?

…….Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuummmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm….

– Não, qual Zé? Do teu pai, que não larga a porcaria da bicicleta e dos rolos! Raio de coisa que eu lhe pedi para comprar! Eu só queria uma bicicleta estática para pedalar sossegadinha em casa e ele foi-me comprar uma coisa daquelas, a dizer que assim dava para todos! Estou farta destes zumbidos!

– Ó mãe! As bicicletas não são porcarias! São uma das melhores invenções da humanidade! Um sistema tão simples mas também tão complexo, capaz de transformar uma simples viagem numa descoberta de nós mesmos! Uma máquina de rejuvenescimento, que a cada pedalada faz despertar em nós os mais belos sentimentos! Dás-te conta, mamã, de como é fácil nos apaixonarmos por um ser não vivo?

…….Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuummmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm….

– Mamã! – Que olhar é esse??

– Não, é nada querida! – Vais deixar de ir com o teu pai para a escola e a partir de agora quem te escolhe as histórias para adormecer vou ser eu! E vai dizer ao teu pai que pare já com os zumbidos, que eu quero ver a novela em paz! E que lhe desligo o router e não carrega as voltas para o zwift!

(…agora mais baixo, entredentes, para a filha não ouvir…)

– Raisparta o gajo e mais a porra das bicicletas! Raisparta os rolos, os zwifts e os raio dos zumbidos, que parece que vivo numa colmeia! Raisparta a porcaria do tempo, que não melhora! Tomara já que faça sol e que o gajo desande daqui para fora e para bem longe! 500 kms se possível, para eu ter paz!

….

Toc, toc… – Pai?

Huuuuummmmmhhhuuummmmm… – Diz filha?

– Já podes parar! Vai lá agora, que a mamã está no ponto! Acho que como ela está podes pedir o fim-de-semana todo!

3.

03.03.2018 19h00

– João, o que achas de convidarmos o Velopata para vir fazer a volta connosco? Afinal foi ele que desenhou o percurso, e assim talvez consiga terminar desta vez, com a nossa ajuda!

– Epá, não sei! O gajo não é ressabiado demais?

– Acho que não. Tem aquele ar de somali-bulímico mas acho que é só porque é vegetariano e coiso!

– Então convida! E se começar a ressabiar, levamo-lo para o Barranco do Velho, paramos na Tia Bia e pedimos 3 doses de ensopado de Borrego!

– Vou falar com ele! De certeza que virá connosco! Ele é um tipo rijo, um ciclista intrépido, que calcorreia as serras e os barrancos algarvios como ninguém! É um exímio aventureiro, que percorre grandes distâncias com a sua estrela vermelha, sem nunca sentir fadiga ou cansaço! E fuma! É capaz de subir o malhão na talega à nossa frente e antes de lá chegarmos já queimou um SG ventil inteiro!

– Achas que me dá um autógrafo na minha camisola de lã de merino?

– Epá não sei…já lavaste isso alguma vez?

– Hum, só uma vez, porque tinha sal…mas ainda não cheirava a nada!

– Esquece isso. Leva antes um caderninho e lava isso antes desta volta!

4.

Felix

08.03.2018 11h16

A depressão Félix vai atingir Portugal continental a partir da meia-noite de hoje. O aviso do Instituto Português do Mar e da Atmosfera refere que a depressão se está a formar a norte do arquipélago dos Açores. Os efeitos esperados são vento forte e agitação marítima, também no continente e na Madeira.

No domingo, as ondas podem chegar aos 8 metros de altura, no continente, e aos 11 metros na Madeira.

O vento pode atingir rajadas de 90 quilómetros por hora, que chegam aos 110 quilómetros por hora nas terras altas.

Em especial a partir de amanhã, a chuva, forte e persistente, pode vir acompanhada de trovoada e de granizo.

Para além de afetar Portugal, a depressão Félix vai ainda atingir Espanha e a parte oeste de França.

5.

08.03.2018 23h46

No quarto principal da casa da Querida Esposa, algures no Barreiro.

Uma luz ténue, algum movimento no leito, por baixo do edredon com cornucópias cinzentas, com um nome sueco esquisito, tipo VARART (com uma bola grande em cima do 1º A e duas bolinhas em cima do 2º A).

Se fizerem pouco barulho e escutarem com atenção conseguem ouvir uns ruídos, uns sussurros. Não me parecem gemidos, mas mais uma conversa em tom “não fales alto para não acordares os míudos”.

– Não consegues dormir?

– Não. Estou só a pensar na viagem de amanhã. Está tão mau tempo…

– Descansa. Tens que tentar dormir.

(Esperem. Assim não percebem a conversa. Vou por legendas.)

– Não consegues dormir? – Perguntou ele

– Não. Estou só a pensar na viagem de amanhã. Está tão mau tempo… – Respondeu a Querida Esposa

– Sossega! – Aconselhou ele. – Amanhã vais ter de conduzir para Leiria com as tuas amigas e tens de ir descansada! É uma viagem arriscada, mas vais ver que tudo correrá bem! Saem um pouco mais cedo e vão com mais tempo, sem pressas! Metem-se em cada aventura!

– Ó querido marido! Desculpa deixar-te preocupada, mas é uma aventura que sinto que tenho mesmo que fazer. Já me comprometi com as minhas colegas que levava eu o carro e agora está tudo combinado, não vou voltar atrás.

– Prometes que ligas o Live-track, para que ficar descansado?

….

6.

09.03.2018 10h15

Último dia de trabalho antes da aventura.

Ele tenta manter a concentração ora no ecrã da direita, onde linhas de várias cores se cruzam no modelspace, ora no ecrã da esquerda, onde espreita uma worksheet cheia de números e áreas brutas, algumas privativas, outras dependentes, tentando manter a sua mente focada no trabalho.

Chega o Raúl com um pacote castanho e um sorriso que dá duas voltas à cara:

– Olha o que te trouxe para o fim-de-semana! E lá passamos a hora seguinte de roda do pacote, descobrindo todo o que cabe dentro de uma ração de combate!

Faço um laço com uma corda grande, como a dos Cowboys, e num lance certeiro apanho a minha mente e volto a sentá-la em frente ao computador.

Mas algo me diz para ir ao Facebook. Abro o separador e nem imaginam!

Não imaginam? Tentem lá!

Imaginem lá uma cena muita boa (nada disso, nada de moças sul americanas com asas deltas e tangas pele-de-leopardo). Uma cena mesmo boa que gostassem que vos acontecesse. Hum?

Não, não foi a página da meteorologia a noticiar o desvanecimento do furacão Félix…

Também não foi nada de prémios no trabalho ou euromilhões….foi muito melhor!

Foi uma cena mesmo fugaz, tipo um relâmpago, que tive a felicidade de assistir. Uma cena daquelas de estar no sítio certo (podia estar num outro sítio qualquer, desde que tivesse Wifi ou os dados ligados) e à hora certa. One in a billion!

Acho que já adivinharam, com tantas pistas:

Um tipo com um avatar tipo Batman (mas sem o capuz das orelhas em bico) a informar que tinha sido representante da Apidura e que ia terminar o negócio, mas que tinha umas coisinhas em stock e que vendia a metade do preço!

Rápido…. Rápido, procurei a tecla: “Compro tudo”. Mas as mãos tremiam freneticamente e não encontrava a maldita tecla. Ia ter que escrever tudo… por mensagem privada ou ali mesmo? Em maiúsculas ou minúsculas? Como se desliga o Capslock? Já está!

Começa então a escrever: Bom dia, Sr Pedro Conceição. Eu estou interessado em adquirir o fabuloso material que disponibiliza para venda…

AAAAAIIIIIIIIII… Quem foi o c@3r#0 que diz que compra 2 foodpouch? Não pode! Nem disse boa tarde, excelentíssimo Sr Pedro…

Ok. – Responde o Batman (sem touca com orelhas em bico)

AAAAAIIIIIIIIII… Apaga tudo…

Escreve rapidamente:

Eu fico com o outro! E como tudo o resto!

Arrumo tudo e saio para o almoço. O dia está ganho, e posso finalmente ir pensar na aventura que aí vem!

Qual enviar por transportadora ou CTT, qual quê?

Conto ao João e logo ele combina ir lá buscar tudo ainda hoje, a tempo de estrear amanhã! Às onze e tal da noite, sob uma chuvada monumental, um velocipedista sai de um qualquer ISCTE e dirige-se ao Lumiar, onde se encontra com o tal Batman de óculos de triatlo que lhe passa o precioso embrulho. E esgueirando-se por entre filas de carros parados pela chuva, e escapando à ira dos invejosos que ambicionam apoderar-se de tão valiosa carga, o habilidoso velocipedista consegue abrigar-se no seu lar e finalmente admirar a beleza do foodpouch, do handlebar pack e dos dois acessory pockets!

7.

Agora digam lá:

– Acham que deixávamos de ir fazer a Odisseia só por causa do tempo? Do mau tempo? Da meteorologia? Umas gotas de chuva? Uma brisa mais forte? Uma tempestadezinha com nome de gato?

Vocês sabem o que custa convencer a Querida Esposa a autorizar uma aventura destas? Um fim-de-semana de bicicleta!

E não é só isso. Imaginem só esta cena:

Uma qualquer edição da Transcontinental Race (pode ser a 5ª ou a 4ª). No topo do Kapelmuur, em Geraardsbergen, o grande Mike reúne a malta. Um silêncio sepulcral, toda a malta ansiosa por ouvir as palavras do mestre. Ouvem-se o bater dos corações, sente-se o nervosismo no ar, como uma bomba prestes a explodir. E o grande Mike, consciente do peso que as suas palavras terão nas centenas de ciclistas que se prepararam empenhadamente para esse momento, que sonharam com este dia,  levanta-se e prepara-se para falar:

– Meus amigos. Está a chover e prevê-se bastante frio. Estamos a pensar anular a prova e ficar no aconchego do lar a ler histórias ao Velopatazinho. O que vos parece?

O Kristof Allegaert levanta-se e diz também: – Eu acho sensato! Até porque vocês vão passar mais tempo a pedalar de noite que de dia!  – ah… e outra coisa. – se dá a mínima probabilidade de chuva para o Algarve… então é certo que na serra vai chover a potes. E na Fóia!

Todos os ciclistas abanam a cabeça em sinal de aprovação.

A Melissa Prichard pede também a palavra: – Eu Concordo! Há aí zonas onde a berma está estragada pelas raízes de pinheiros. É queda certa passar lá em cima! E a estrada entre o Porto de Lagos e Silves (quando saírem da N125)! Essa é das piores estradas no reino dos algarves! é só buracos por todo o lado e vocês já a vão fazer à noite.

Todos concordam! Arrumam as bicicletas a um canto e fazem uma roda gigante, de mãos dadas, cantando o hino da alegria! Depois, vestem os pijamas de flanela e os roupões e jogam dominó belga e petanca enquanto esperam pelos dias mais quentes do Verão.

(O Velopata que nos desculpe, mas foi impossível resistir a partilhar com os leitores este episódio que bem poderia ter acontecido lá no único sítio alto perto dos países baixos. Ele sabe que a admiração que estes moços sentem pelo espírito do Velopata é verdadeira e ficaram com muita pena de não terem tido como cicerone.)

8.

O plano era simples.

Um fim-de-semana inteiro por nossa conta. Eu, o João e as bicicletas. Sair de Lisboa nas calmas. Chegar ao Algarve pelas 12:30. Almoçar bem e …. Partir! E ir avançando etapa após etapa, não pensando nos 500 kms, mas na próxima subida ou na próxima paragem.

E levar todos os tipos de packs na bicla (frames, rears, top tubes e foodpouchs, tipo Ultraciclistas da TRC), com mudas de roupa para todos os gostos, sem nos preocuparmos com o pandam. Se chover muito pára num abrigo, despe-roupa-molhada, veste-roupa-seca, espera-que-a-chuva-passe e põe-te-a-andar-até-à-próxima-molha. E ter mais uma carga de roupas interiores, casacos, impermeáveis, jérseis de manga comprida, capas, coletes e coiso no carro, para renovar o stock a meio da volta.

Como o percurso faz uma espécie de infinito (um 8 deitado, para quem teve nega a matemática) e como nos dava mais jeito, para andar menos de carro, o plano era começar no vórtice. Para os leitores com mais dificuldades na materialização espacial destes conceitos, o vórtice fica em São Bartolomeu de Messines (no Café Académico, para ser mais preciso).

Porque raio poria o Velopata o centro do vórtice da Odisseia Algarviana num restaurante que não tem comida vegetariana? E porque raio tem boa classificação no tripadvisor, se o prato do dia era Cabidela com batata cozida? Querem que um gajo comece já a volta mal disposto, ainda antes de chegar às partes inclinadas da Fóia?

O ARRANQUE (Se é que já não começou lá bué para trás)

– Frango assado com arroz, uma garrafa de água e um jarrinho de tinto, sefachavor! – I asked!

É nestas alturas que se distinguem os verdadeiros aventureiros, aqueles que sabem apreciar o momento, que sabem a importância de ir colando uns post-its na memória, daqueles que gostam de pensar que são aventureiros, mas ainda nem começou e já estão sem unhas e a tremer por baixo dos pernitos, a pensar que mais vale começar já esta porra, antes que comece a chover a potes, porque ali o céu está azul, mas para ali, para onde vamos, está mais negro que o pêlo da minha gata (que é mesmo preta mas que se chama branquinha).

– E foi então, que o João levanta o dedo indicador direito, chamando o  funcionário do estabelecimento de restauração e bebidas e com uma voz suave mas firme, declara: – Jarrinho não! – Isto merece um vinho adequado à ocasião.

Taruuuzz! Doeu-me à farta! Cair em mim e perceber que estava a ser um parvo do caraças. Foi uma cena tipo Tantra versus Ejaculação precoce. Eu ali ansioso por saltar para cima da bicla à bruta e desatar para ali a pedalar, com pressa de acabar tudo num instante e o puto com toda a calma, a dizer: – Tem calma, já começámos! Podes ligar o teu GPS que a aventura já começou…E eu que não sou nada destas coisas! (pelo menos no leito, sou um granda macho. A sério, mas não perguntem à QE)

Não deve ter sido do vinho (foi apenas uma marquês de Borba tinto 2017, 14º, de 37,5 cl para os dois) mas o calor começou a apertar. E apertou tanto que me obrigou a despir o casaco e a ficar de underlayer aerofit 900 preta de manga comprida, que uso para temperaturas negativas.

– Queres que te empreste a minha camisola de merino, Tiago?

– Deixa João! Obrigado, mas até estou confortável assim…

Por sorte tinha um jersey de manga curta no carro (de emergência para a 10ª muda de roupa em caso de acontecer a 10ªa molha) e foi de calçanito e de jersey de manga curta, sem luvas e sem capas de sapatos, que arrancámos então, rumo ao desconhecido.  Que saudades de pedalar nestes trajes menores, bronzeando a pele ao sol forte que se fazia sentir. Faltou apenas o protector solar, para ser um início previdente (mais um item para a check-list).

0 – 20 kms

13:40 São Bartolomeu de Messines – 14:30 São Bartolomeu de Messines

Passámos por baixo do viaduto do IC1 e o João propôs a mesma tática da EPIC RIDE do Neves (a minha), em que escalámos pelo talude, passámos pela cancela, saltámos o rail e abreviámos caminho (é o que dá, ver os mapas de cima. Parece que os cruzamentos são todos ao mesmo nível). Eram praí 13:50…

– Nada disso! Depois somos desclassificados pelo Velopata, que deve estar atento à nossa prestação.

E assim, cada um com o seu sorriso nos lábios, pedalámos confiantes tentando encontrar a entrada para o IC1. 1º engano, volta atrás. E pedalámos novamente ainda mais confiantes rumo a umas rotundas, e depois para Oeste, contra uma leve brisa que nos empurrava para trás.

– Raio do vento!

– Faltam quantos quilómetros, João?

– João! Não deviámos estar no IC1, a pedalar para Norte?

– Porra! Raio do vinho…

14:30 – Nova passagem por baixo do viaduto do IC1. Salta da bike. Pega na bike. Sobe pelo talude.

– Epá, já não me lembro como é que se abre a cancela!

– É assim. Tipo baloiço.

Passa pela cancela. Bicicletas por cima da vedação. Por cima do rail. Sapatos cheios de barro. Siga!

20 kms feitos a mais. Gostamos de aquecer antes de começar a sério, entendido?

20 – 30 kms

14:30 São Bartolomeu de Messines – 15:00 São Marcos da Serra

Fiu, fiu, fiu….

Sol, calor, vento lateral, percurso ondulado, sem grandes subidas, bermas largas, o que mais se pode pedir para a felicidade ser completa?

Fiu, fiu, fiu…(trauteia a melodia do Verano Azul)

30 – 50 kms

15:00 São Marcos da Serra – 15:40 Nave Redonda

Fiu, fiu, fiu….

CM1190 – Uma estrada fantástica, surripiando por entre a linha do comboio e uma ribeira completamente a transbordar de água. Tão bom! Sem carros, um piso fabuloso, quase plano e sempre protegidos do vento SO pela serra.

– João, olha ali o aqueduto das Águas Livres!

CM1190

Repito: o que mais se pode pedir para a felicidade ser completa?

(Já vais ver)

50 – 80 kms

15:40 Nave Redonda – 16:40 Monchique – 17:30 Fóia

30 kms a subir! Gostas? Ainda queres a felicidade completa?

Não está mal! Está sol e raras vezes tinha subido a Fóia sem chuva! A estrada vai bastante protegida até cerca de 4 kms do topo onde começa a contornar a serra no sentido clockwise. E foi nessa altura, à medida que contornávamos a serra e que olhávamos ao nosso redor, que começamos a ter uma ideia de onde nos estávamos a meter…

Malta. Queridos Leitores. Desculpem lá, mas são 4:00 da manhã e vou parar por aqui. Isto de escrever é como fazer voltas grandes. Tem de ser com calma. Tenham lá paciência e se quiserem mesmo ler mais qualquer coisa, mesmo como quem lê com atenção, mesmo com os olhos todos abertos e bem focados nas letras, leiam o outro post anterior.

“Nada se compara aos dias que antecedem uma grande volta de bicicleta. “

É uma tentativa de escrever qualquer coisa mais profunda, mesmo profunda tipo fassa das Marianas, tão profundamente profunda que precisas de ler num submarino daqueles atómicos tipo Kursk. Ás vezes também me dá para escrever outras coisas que não parvoíces (raramente).

E um dia, hei de escrever sobre os amigos! Grandes amigos que tenho…os maiores!

Vá, amanhã à mesma hora devo acabar isto…

https://www.strava.com/activities/1446732514

 

É ou não um moço versado na língua de Camões?

Não se esqueçam de navegar pelo blog deste moço que podem encontrar aqui, enquanto salivamos todos pela segunda parte desta gloriosa e incompleta aventura.

Que de certo modo, mesmo não tendo participado, até correu bem para o Velopata – assim poderá contar com mais dois alucinados para a edição de 2018 da Odisseia Algarvia, a realizar em Outubro, data a anunciar brevemente.

 

Abraços velocipédicos,

Velopata

Um comentário sobre “Félix e os Heróis

  1. Pingback: Divisão Velopata – Em Março cada dia chove um pedaço – Blog do Velopata

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