O Velopata trabalhava em sintonia, através de uma vídeo-conferência com reputados cientistas, técnicos, investigadores e pensadores das mais grandes e prestigiadas Universidades deste planeta, nos complicados cálculos físico-quântico-químico-aritméticos do grandioso clube do Strava que é a Divisão Velopata, quando o ícone de um novo comentário publicado no feed facebookiano lhe captou a atenção. Clicando naquele botãozinho, nada podia preparar o Velopata para o que estava prestes a ler;
A primeira reação velopática foi a óbvia; pernas tremelicantes, súor a escorrer em monte por todos os poros, coração palpitante, dificuldade em respirar, rins e intestinos a retesar de tal modo que forçaram o Velopata a deslargar o PC para se fechar no quarto de banho, aliviando carga da bexiga e tripa, uma vã tentativa de acalmar o nervoso que de miudinho, pouco ou nada tinha.
O mui querido leitor está no direito de pensar que isto poderia apenas tratar-se de exagero velopático, o que só indica ao Velopata que certamente vós não tendes prestado a devida atenção às classificações e publicações subordinadas a este magnífico recanto strávico que é o nosso clube.
Outros leitores há ainda que se questionam o que será uma carocha, ou carochita como acima é proposta a degustação ao Velopata.
Já por várias vezes o Velopata explicou no que consiste esse velocipédico termo que alguns de nós bem demais conhecem – sabem quando no decurso de uma group ride ficam para trás enquanto assistem desesperadamente ao desaparecimento do resto do vosso pelotão de amigalhaços no horizonte à vossa frente, incapazes de forçar a perna a mais um só watt que seja para se manterem naquelas rodas, acompanhando-os? Pois é, o Velopata tem uma notícia bombástica para vocês – diz-se que nesse momento, estão a comer uma carocha. Pode também ser usado como verbo, sendo correto dizer que estão a encarochar. São carocheiros, portantos.
José Pais.
Para os lados de Biseu e arredores, onde se trocam os B pelos V e vice-versa, este é um nome que inspira terror carocheiro, não é á toa que este rijo moço é sobejamente conhecido como O Real Distribuidor de Carochas.
Aliado a este facto, deve ainda ter-se em conta; todas as provocações e achincalhanços gratuitos que o Velopata já aqui escrevinhou e publicou à marafada troupe biseuense, o facto de o Velopata ainda se encontrar na perseguição daquela sua forma físico-velocipédica invejável, após a pausa para compromissos natalícios, portantos imaginem o nervosismo velopatóide perante aquele convite para uma prometida degustação de carochedo em monte.
Os ponteiros do relógio marcavam 08:59 de uma solarenga mas fria e ventosa manhã (claro que São Pedro tinha de dar um ar de sua graça, deixando a porta escancarada com ciclónicas rajadas muitas vezes acima dos 50 quilómetros por hora), de sábado, dia 27 de Janeiro deste ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de 2018, quando o Velopata finalmente se despachou, conseguindo a proeza de chegar trinta minutos depois da hora préviamente programada com o Real Distribuidor de Carochas de Biseu, que aguardava na vulgar esplanada de um vulgar tasco em São Brás de Alportel, já seco que nem um bacalhau norueguês ao Sol.
O Velopata procedeu à explicação de que é tal e qual como Gandalf, nunca chegando atrasado e sim à hora a que é necessário que chegue, no entanto, não pode deixar de pensar que todos os motivos que o levaram a chegar trinta minutos depois da hora, mais não seriam que sinais e avisos do Além Velocipédico sobre a monumental dose de sofrimento que o aguardava.
Cafézada tomada e foram um ansioso Velopata e um sempre calmo, simpático e confiante Real Distribuidor de Carochas, que se lançaram ao alcatrão.
Aqueles primeiros quilómetros até esse lugar do Barranco do Velho onde, à semelhança de uma Roma velocipédica, todos os alcatrões parecem desembocar, foram feitos a um ritmo… Moderado. O Real Distribuidor de Carochas e o Velopata aproveitaram para iniciar esta volta em modo de treino HT-LT, que como muitos dos queridos leitores adeptos destas terminologias técnico-tácticas conhecerão como sendo o High Talk – Low Training.
Muitos temas foram abordados naqueles primeiros 15 quilómetros; as opiniões da Srª Real Distribuidora de Carochas e Srª Velopata quanto a este mais nobre dos vícios, a progenia, esta e aquela marca de bicicletas, no entanto, o Velopata não pode deixar de reparar que apesar do moderado ritmo, o Real Distribuidor de Carochas conseguia produzir complexas frases de uma só assentada, enquanto o Velopata soltava apenas umas quantas sílabas entre cada desesperado acto de sorver o precioso oxigénio.
“Daqui a pouco já se acelera, deixa aquecer o motor primeiro.” – avisou o Real Distribuidor de Carochas.
“Mas… Santo Coppi… Ele não aprende… A sua rica cama… Os lençóis quentinhos… Ai, que isto vai doer tanto…” – pensou o Velopata, preocupado demais em não perder aquela roda do que própriamente responder à clara provocação biseuense.
Atingia-se a primeira subida do dia, o mundialmente conhecido segmento strávico da Subida dos Almocreves, quando o Velopata, qual cicerone velocipédico, se aprontou a notificar o Real Distribuidor de Carochas;
“Olha, esta é a primeira subida do dia. Não é nada de especial, são só três quilómetros a três por centro de inclinação, mas é daquelas que mói.”
“Ah!Ah!Ah!Ah!” – o Real Distribuidor de Carochas irrompeu em sonoras gargalhadas.
“Uai, de que te ris?”
“Se tu achas que isto é uma subida, debias bir dar uma bolta comigo em Biseu.”
E assim começou.
No seu moderado ritmo, o Real Distribuidor de Carochas afastou-se a pedaladas largas do já esbaforido Velopata que impotente observou as primeiras de muitas gigantes e gordas e monumentais e magistrais e desconsoladas carochas lançadas na direção de seu buxo. Talvez por piedade, percebendo que o Velopata começava já a perder terreno, o Real Distribuidor de Carochas reduziu o ritmo e aguardou que o Velopata colasse novamente na sua roda.
“Então, sabem a alcachofra?” – questionou o Real Distribuidor de Carochas.
“Hã?” – o ensurdecedor vento e o cérebro já deficitário de O2, desviado mas ainda insuficiente para a musculatura das pernas velopáticas, não deixavam o Velopata perceber o que dizia o moço.
“Alcachofra!” – insistiu o Real Distribuidor de Carochas.
“O que tem a alcachofra?”
“As carochas pá! Sabem a alcachofra?”
“Uai, porquê alcachofra?”
“Bocês aqui no Algarbe não comem montes de alcachofra?”
“Ele acha que tu queres dizer é alfarroba…”
“Sim, é isso! As carochas sabem a alfarroba?”
“Porquê? As carochas lá em Viseu sabem a Castanhas de Ovos?”
“Não sei.”
“Como não sabes?”
“Normalmente eu é que encarocho a malta. Nem me lembro da última bez que me encarocharam.”
Aquela última afirmação não se revelou surpresa nenhuma para o Velopata, mas uma coisa é certa. Se algum destes dias o Velopata pedalar para os lados de Biseu e arredores, um dos muitos campeões da zona que se faça acompanhar de uma caixinha de Castanhas de Ovos para a pedalada; é que além da velopatia, ele também sofre de uma outra maleita – é conventualodoçariopata.

Deixando a magnificiente beleza da tantas vezes percorrida Serra do Caldeirão para trás, chegava-se ao Ameixial e foi aqui que o Velopata se apercebeu do que pode muito bem ser reconhecida como a criptonite do Real Distribuidor de Carochas.
Descidas.
O Velopata é um ciclista completo, na medida em que é um ciclista completo a fazer tudo mais ou menos completamente mal. Sobe mal, rola pior e a descer… Bem, já diziam os antigos que quem tem cu, tem medo, e apesar dos constantes protestos da família velopática em como ele está magro e tísico que nem um somali bulímico, já nem se notando alguma chicha que lhe valha no pandeiro- não deixam de ser uns belos e delineados glúteos os que o Velopata possui. Logo… Ele tem algum receio (a palavra receio sempre soa menos caguinchas que medo).
Se o Real Distribuidor de Carochas é um exímio rolador e a subir é assistir a carocha atrás de carocha lançadas na direção de quem o acompanha, já quando todos os santos ajudam, o moço revela-se pior que o Thibault Pinot a descer o Monte Ventoux à noite, sem luzes, com a estrada molhada e montado numa bicicleta fixie. Ao mínimo desnível negativo e o Velopata via-se forçado a recorrer constantemente aos travões de modo a não ganhar uma absurda distância do Real Distribuidor de Carochas.
“Sabes, eu não sou grande coisa a descer.” – comentou o Real Distribuidor de Carochas quando o dueto atravessou a fronteira algarvio-alentejana.
“Ele já notou.” – concordou o Velopata.
“É que já tibe uma experiência assim para o desagradábel.”
“Então?”
“Fractura exposta do perónio numa queda.”
“Ui.”
“Sim, uma semana internado no hospital e desde então decidi que não bale a pena arriscar.”
O Velopata não pode deixar de pensar que vai na volta e os antigos nem tinham tanta razão quanto isso. Não que ele estivesse a reparar no tamanho e forma dos glúteos do Real Distribuidor de Carochas (que decerto são horríveis para o gosto velopatóide), mas porque o antigo slogan de quem tem cu, tem medo, poderia muito bem ser substituído por algo mais velocipédico como; quem tem fractura exposta do perónio, tem medo.
Setenta e cinco quilómetros cumpridos e o dueto atingia Almodôvar, onde fruto do trabalho renal da cafeína nas bexigas, o duo maravilha concordou em fazer uma pit-stop na sempre habitual Pastelaria Sarita, antes de se lançar nos malogrados quarenta e um quilómetros de marafado alcatrão que ligam Almodôvar a Mértola.
Sentados na esplanada, aquecidos pelos belos raios solares que despontavam pelas parcas nuvens, o Velopata acredita agora que talvez tenha sido toda aquela bucolicidade que levou o Real Distribuidor de Carochas a uma bombástica revelação;
“Então agora também lhe andas a dar na corrida e no trail?” – questionou o sempre coscuvilheiro de perfis strávicos Velopata.
“Sim, sabes que este ano tenho um objectibo muito especial.”
“Quem é que queres encarochar?”
“Quero fazer um ironman.”
Desde já, o Velopata não pode senão deixar de enviar as mais sentidas condolências a todo o batraquiame que por aí nada, faz a parte do ciclismo e corre a penantes. Preparai-vos muito bem que de pouco ou nada servirá para evitar a distribuição de carochas anfíbias em monte que vos aguarda se o Real Distribuidor de Carochas coaxar tanto quanto pedala.
Se dúvidas ainda existiam na mente velopática sobre as reais capacidades deste rijo moço de Biseu, verdade seja escrita, foram rapidamente desfeitas nos quilómetros seguintes, juntamente com os bofes e pernas velopáticos. De treino em modo HT-LT, a coisa transmorfou-se em treino HM-LC, que o mui querido e versado leitor reconhecerá como sendo o treino High Misery – Lots of Caroches.
É que se até então o Velopata havia mais ou menos sobrevivido na roda do Real Distribuidor de Carochas, naquele segmento seguinte, a marafada ligação Almodôvar-Mértola pela ER267, com o fustigante vento lateral e o geral mau estado do que outrora terá sido alcatrão, um já semi-moribundo Velopata terminou derreado. Perdendo a roda do Real Distribuidor de Carochas logo no início do segmento, quilómetro após quilómetro ele parecia desaparecer no horizonte e o Velopata não pode deixar de lembrar os tempos em que ocasionalmente treinava com o querido Pro Ressabiado.
Que não era bem treinar com o Pro Ressabiado. Era sim pedalar com aquele ponto negro no horizonte lá à frente que era o Pro Ressabiado.
Finalizado aquele solitário suplício no estranho calor de 9 ºC que a violenta nortada consegue proporcionar, chegava-se a Mértola, entrando na N122 que levaria o dueto até Alcoutim. Por sorte, ou talvez intervenção divina de Santo Bartali, o Real Distribuidor de Carochas foi forçado a novo compromisso de redução do nível hídrico e o encarochado Velopata lá conseguiu chegar junto dele, colando na sua roda – só assim seria possível o dueto manter-se junto pois a sensação velopática é que se o temível Real Distribuidor de Carochas quisesse, o Velopata nunca mais o veria no restante dia.
Juntos percorreram rapidamente aquele segmento rolante de sobe e desce constante da N122, até ao momento em que atingiram novamente a fronteira alentejano-algarvia, onde novamente acometido de ciceronices, o Velopata avisou;
“Bem, vem aí uma das subidas mais chatas do dia. É longa; são aí uns cinco quilómetros e meio a três por cento.”
“Cinco quilómetros?”
“E meio, sim.”
“Ah, então isto não é uma subida!”
“Não?”
“Já te disse, queres ber subidas a sério bens lá até à minha terra e bais ber!”
“Pois, ele sabe… É aquela história que no Algarve não existem subidas a sério…”
“Claro que não. Bocês aqui só têm é umas rampitas mais longas como esta.”
“É o parte-pernas algarvio!”
“Hã?”
“Nada, nada. Dá-lhe gás.”
O Real Distribuidor de Carochas já nem a defesa velopática ouviu, a ligeira inclinação de 8% deixava já o Velopata em maus lençóis, perdendo a roda. Para não falecer sem pelo menos ter a praia no horizonte, engrenou a Estrela Vermelha no prato 36, e lá ficou novamente sozinho com aquela ocre sensação bocal de carocha engolida e mal digerida.
(Nota velopática: quando no decurso de uma group ride um ciclista se despede dos companheiros com um até já! é-o sempre em tom jocoso, sendo o primeiro indício que se atingiu uma subida e estará prestes a ocorrer ressabio e distribuição de carochas em monte)
“Até já… Claro que isto não é nenhum parte-pernas… O Velopata é que já tem as pernas partidas em três ou quatro sítios…” – pensou o Velopata para com a sua Estrela Vermelha.
Minutos depois, que na realidade pareceram ao Velopata miseráveis e intermináveis horas de sofrimento, o dueto lá se reuniu outra vez, para finalizar aqueles últimos quilómetros da N122 até Alcoutim, programada estava a última pit-stop da pedalada, em antes da última centena de quilómetros que os separava do regresso aos lares.
Depois de todo aquele suplício e degustação carocheira, o Velopata não via a hora de poder descansar um pouco e recarregar as já depletadas baterias de suas pernas. A visão daquela esplanada com vista para o Rio Guadiana, aquecida pelo solinho de final de tarde foi um autêntico bálsamo para alma e pernas.


Foi justamente nesta esplanada à beira-rio plantada, enquanto ambos os dois aventureiros do dia davam ao serrote e repunham os seus níveis de líquidos, açúcares e cafeína, tendo o Velopata aproveitado também para repôr alguma nicotina, que outra revelação bombástica teria lugar.
O Real Distribuidor de Carochas é… Professor de Educação Visual.
Esta é uma disciplina que o Velopata relembra sem saudade nenhuma, além de outras como Trabalhos Manuais, Trabalhos Oficinais e até, imagine bem querido leitor, Educação Física. O Velopata era o que se pode chamar de Grande Nódoa no que a trabalhos com as mãos respeita, tendo muitas vezes cometido a proeza de chegar ao final dos períodos com notas negativas nestas disciplinas, apenas salvo da ira do sempre atento às suas notas Progenitor Velopata, uma vez que o ainda imberbe Velopata excedia as expectativas nas disciplinas onde o uso do cérebro era o principal recurso.
Um ano houve em que o Velopata conseguiu a proeza de tirar positiva a Trabalhos Manuais, um 3 valores, suficiente mas maciço, aparecia na pauta. O problema é que só mais tarde o ainda projecto de futuro Velopata descobriu que aquela nota lhe havia sido atribuída pois ele era baixista na mesma banda de rockalhada que o filho da professora… E depois ainda há por aí os que acham estranha toda esta promiscuidade entre juízes, empresários manhosos e dirigentes desse deporto menor que é a bola, quando até no Ensino Preparatório estes estranhos fenómenos já ocorrem.
Mas lá está o Velopata a divagar.
Com aquela revelação, o Velopata teve o que se pode chamar de epifania.
Doravante, não mais José Pais seria referido como o Real Distribuidor de Carochas de Biseu.
Professor Carochas.
Parece apropriado.
Apesar das baterias carregadas, o Velopata sabia que percorrer aqueles escassos 100 quilómetros que faltavam até regressar ao conforto do lar, poder-se-iam revelar mais uma dose de suplício, dependendo da sempre boa-vontade de São Pedro e do facto de que rapidamente a luz solar desapareceria, não tendo Professor Carochas sobrecarregado a sua Canyoncoiso com luzes. Como tal previa-se um ritmo elevado, não esquecendo a boa dose de acumulado que ainda faltava percorrer.
São Pedro é, efetivamente, uma jóia de moço.
Se até então a meio nortada, meio nordestada em nada tinham auxiliado o dueto, claro está que quando ambos os dois esperavam o apoio do vendaval pelas costas… Alguém deixou a porta aberta numa posição lateral ao duo. Só por isso, aqueles 100 quilómetros pareceriam 200 às pernas.
E em antes que as primeiras rampas que separavam o dueto de Cachopo chegassem, ocorreu uma transmorfação – o milagre da multiplicação dos ciclistas ocorreu.
Onde antes estavam dois, agora eram três.
Professor Carochas.
Velopata.
E o velho amigo do Velopata, O Homem da Marreta.
A cacetada que o Velopata levou foi tal que nas últimas rampas que acediam ao Barranco do Velho, com a luz solar a mostrar os seus últimos raios e a escuridão e nocturno frio serrano a instalarem-se, o encarochado Velopata foi forçado a proferir uma frase que jamais em universo ou dimensão paralela, ele julgou dizer, um momento que viverá para sempre na infâmia das memórias velopáticas;
“Não dá mais… Ele não consegue… As pernas não respondem… Os pulmões parecem querer saltar do peito para fora… O melhor é seguires sozinho se não queres chegar de noite… O Velopata só te vai atrasar…”
Por entre risos, chacota e galhofa, o Professor Carochas mostrou pena do miserável e acabado e derreado e moribundo e encarochado Velopata, mantendo-se o dueto junto até São Brás de Alportel aparecer no horizonte, justamente a tempo dos últimos raios solares desaparecerem entre os montes.
Novamente sentados na esplanada do vulgar tasco onde toda a degustação de carochas velopática se havia iniciado, o dueto despediu-se com a promessa de um novo encontro de cariz velocipédico-alimentar onde seria dada toda uma nova paleta de diferentes sabores de carochas a provar, afinal de contas, o Professor Carochas ainda é desconhecedor das agruras de uma Fóia, a beleza deambulante da N122 entre Alcoutim e Vila Real de Santo António, ou até como o Alto do Malhão consegue fazer machos adultos chorar.
Nessa noite, quem tinha vontade de chorar, deitado e derrado no sofá, era o Velopata.
Ultra-mega-hiper-giga-tera-empeno.
Até o diafragma doía ao Velopata, algo que não acontecia desde tempos imemoriais.
Uma humilhação e sova destas é mesmo o que o Velopata precisa para motivar o início da época de aventuras, lá para Março.
E ainda só vamos em Janeiro.
Jersey Papa-Quilómetros
1º Fernando Coelho – 2053,4 km
2º Açoriano Ressabiado Especializado – 1681,9 km
3º Placas – 1609,7 km
Motivado por um excelente final de 2017, Fernando Coelho entra em 2018 com o pedal esquerdo e mantém a liderança da jersey que premeia mais horas passadas na estrada e no sofá lá de casa, frias noites acompanhado apenas da sua bicicleta gigante vermelha (não lhe digam, mas é laranja), e quiça uma continuação de ressabiada contenda com ressabiados portimonenses que possa justificar todo este sacrifício do bom.
A elite ressabiada especializadocoisa mantém a aposta no Açoriano Ressabiado Especializado e na sua Bike Algarve, que muito se têm preparado para as duras distâncias de 40 e 50 quilómetros de pura adrenalina e competição em estrada, com vista às participações nos percursos infantis desses dois grandes eventos que premeiam o amador pelotão algarvio bem como alguns estrangeiros lá do norte do país que por cá passam – o Almodôvar Ciqueling Chálenge e o Granfondue da Volta ao Algarve. Uma barrigada de ressabio amador prevê-se no horizonte!
Só há um problema com esta malta da Specialicoiso.
Para além do óbvio, a Specialicoiso.
Ao Velopata não faz muito sentido inscreverem-se nos granfondues pequenos ou médios, nunca metendo o pedal nas distâncias dos homens adultos.
Muito menos gabar-se de vencerem.
A essas distâncias vão velhotes e crianças, maçaricos moços e moças que só agora descobriram esta nobre modalidade e o Velopata até já viu, malta em bicicletas tandem.
Pois.
Em terceiro lugar temos o nosso já velho conhecido Placas, com quem o Velopata nem se vai aqui alongar em primeira instância, porque há aí mais cenas para ler, no texto abaixo. Parabéns pela boa entrada em 2018 mas há ai um senão que o Velopata quer esmiuçar, como quem esmiuça mesmo.
Jersey Carapau de Corrida
1º Fernando Coelho – 35,9 km/h
2º Comandante Batráquio – 35,5 km/h
3º Joel Banza – 31,4 km/h
Mais uma vez Fernando Coelho quebra a regra velopática, reiterada após os primeiros complicados cálculos científicos do transacto ano, regra essa que assenta na premissa que o moço vencedor da jersey da quilometragem, raramente pode ser vencedor na categoria Carapau de Corrida.
É quase uma impossibilidade físico-quântica, uma singularidade astro-física, só que em velocipédica.
Sendo verdade que a sua bicicleta gigante vermelha (não lhe digam, mas é laranja!), aparenta ser de um nível de full aero carbon indicado para sério ressabio, há que ter em conta que já na quantidade de metros de acumulado registados, Fernando Coelho anda escapulido às duras subidas, contabilizando muito pouca dose de sofrimento.
Quem aqui entra, baralhando e tornando a baralhar os complicados cálculos, é Comandante Batráquio, que durante o mês de Janeiro chegou mesmo a registar uma semana inteira de treinos com uma modesta média de… 45 km/h.
Média semanal de 45 km/h.
Isso é possível?
Mesmo com zero acumulado?
E com vento de costas?
Será ciclísticamente impossível e só batraquiamente possível?
Depois daquela complicada madrugada onde o Velopata confirmou junto das mais altas entidades strávicas que os seus cálculos se encontravam corretos e que Comandante Batráquio havia efetivamente registado uma gloriosa média de 45 quilómetros por hora, a vida do Velopata não mais foi a mesma. Médias de 29 e 30 quilómetros que ele considerava excelentes, tendo em conta o seu espectacular pico de forma de outrora, foram amarrotadas, enxovalhadas e cuspidas no duro alcatrão da vida.
Isto é muito sério, 45 km/h…
Em terceiro lugar temos um recém-chegado ressabiado, Joel Banza, outro forte exemplar oriundo dessa troupe ressabiada da Bike Algarve e a sua armada de Specialicoisos.
Decidido a conhecer melhor, eufemismo barato para poder escrever que o Velopata andou a coscuvilhar o perfil do moço, eis que o Velopata esbarra na foto abaixo, partilhada pelo próprio;

Esta foto representa tudo o que está errado com o ciclismo.
E o Velopata nem vai falar da Specialicoiso que o moço segura orgulhosamente na mão, nem um pingo de vergonha à vista na face.
Atente à foto da esquerda, querido leitor. O que vê?
Exactamente! Um jovem na flôr da idade, sorriso simpático e pancinha pândega, sempre pronto a partilhar alegria e felicidade nos Tours dos Tascos & Sandes de Presunto. Um homem com um feliz futuro pela frente; bom emprego, carreira próspera, talvez mulher e filhos à espera.
Na foto esquerda?
Um meio somali, meio etíope cujas pernas sofrerm de hipertrofia muscular, provavelmente solteiro ou divorciado porque a mulher e filhos já o abandonaram há muito, fruto dos avultados gastos com o vício da Specialicoiso. Acabaram-se as mins e as gordurosas e criminosas sandes de presunto, agora é só manteiga de amendoim e proteínas uéi. Já ninguém o acompanha nas group rides porque não tem piada – só conhece dois ritmos de treino; o sempre a abrir e o toca a carregar.
Diz que é preparação para os granfondues e coiso.
Vem aí sério ressabio. Estejam atentos.
Jersey Cabra da Montanha
1º Placas – 20128 m
2º Açoriano Ressabiado Especializado – 19696 m
3º Luís Abrantes – 15729 m
Outra importante premissa virada regra velopática é a respeitante à contenda entre algarvies e biseuenses no que aos metros de acumulado respeita.
O Velopata já escrevinhou que para um algarvie tentar sequer almejar algo que o valha nesta classificação, tal obrigará a um sem número de visitas a esse monumento à destruição de pernas e distribuição de carochas que é a Fóia.
Placas, vivendo lá perto, e o Açoriano Ressabiado Especializado, com vista a preparar as doses de sofrimento que irá sofrer nos ritmos ressabiados dos granfondues e chálenges, não deixam a coisa para menos e passaram boa parte de Janeiro pedalando em torno da Fóia e arredores.
Se até agora um único membro da encarochante troupe biseuense ainda não havia marcado presença num dos pódios deste mês, Luís Abrantes, picou o ponto em nome da sua troupe.
Claro que tinha de aparecer um moço de Biseu algures… É tipo outra regra velopática já percebida no decurso de duras madrugadas strávicas com matemática avançada.
Jersey Alucinado Diário
1º Carlos Aboim – 33 voltas
2º Pata Negra -32 voltas
3º Fernando Coelho – 27 voltas
Pois, mui estimado Placas.
Aqui a manete torceu o cabo.
Após todos os complicados cálculos com recurso a maquinaria pesada de simulações astrofísicas da NASA, o Velopata leu no seu ficheiro de Excel final, que Placas contabilizava um total de 36 voltas durante este mês de Janeiro. Não sendo necessário ser-se um Stephen Hawking da Matemática, o mui querido leitor decerto se questiona porque razão o Placas não aqui é aclamado o grande vencedor da jersey mais amiga do ambiente que existe.
O problema já o Velopata aqui referiu e a verdade é que nunca recebeu nenhum feedback, justificação ou até algum arrependimento mostrado por Placas e o seu claro abuso de poder, tentativa de prevaricação e tráfico de influências numa espécie de Operação Lex, só que no reino do Strava.
Numa típica volta, Placas consegue transmorfar 1 em 3 voltas;
1- ida até ao ponto de encontro com os restantes enlicrados (mais ou menos 3 km);
2- a volta propriamente dita (é sempre a bombar acima dos três dígitos! Assim é que é!);
3- regresso do local de separação do grupo ao lar (mais ou menos 3 km. Outra vez…).
E isto parece pura e simples prevaricação dos valores encutidos pelo Strava e que o Velopata quer ver reproduzidos, enquanto curador deste clube.
Tipo ist´é pénalte!, numa metáfora com esse menor desporto que é a bola.
Então, o Velopata tomou a decisão de dividir todo o total de pedaladas diárias registadas por Placas num único mês, pelo simples numeral de três, ficando-se este mês numas REAIS 12 pedaladas.
Queixas? E-mail no final da página.
O nosso Guerreiro Brexitiano, Carlos Aboim e Pata Negra mostram mais do mesmo que já vimos em edições anteriores, continuando a revelar-se verdadeiros commuters a quem o Velopata desde já agradece que continuem o bom exemplo social.
Mas uma sombra paira sobre estes 2 campeões.
Através da carta astral do Correio da Manhã, o Velopata soube da existência de uma profecia que refere que por entre a crescente horda velopática strávica, um moço do estrangeiro lá do norte do país parece ter chegado que leva esta história do Alucinado Diário muito a sério. Com direito a blog e tudo, se o querido leitor deseja ver como escreve um versado na língua de Camões, mas a sério, pode sempre dar uma olhadela aqui.
Com tanto quilómetro pedalado não será surpresa nenhuma o facto de termos um terceiro pódio para Fernando Coelho. Está imparável e muito provavelmente apenas a sua respectiva terá poder de o refrear, com a promessa de uma noite longe do sofá e de regresso ao quarto e à cama. Espera-se que tal não tarde, caso contrário temos aqui um sério caso de distribuição de carochas strávica criando eco pelos próximos meses.
Jersey Melhor Batráquio
1º Comandante Batráquio – 1440,2 km
2º O Grande Batráquio – 1333,4 km
3º O Senhor das Águas – 943,2 km
Sentado na sempre carismática esplanada do Germano Biciarte Café, aproveitando o solarengo dia estava o Velopata acompanhado de O Grande Batráquio, quando este reconheceu o quão privilegiados todos sermos por poder viver e pedalar no Algarve com este belo clima. O corolário de tal afirmação eram os constantes apupos e achincalhanços do qual era alvo por parte dos estrangeiros lá do norte do país, cada vez que coloca uma selfie sua a pedalar neste nosso ameno clima.
Os Batráquios queixavam-se da chuva, percebeu o Velopata.
Sério?
Portantos, a ver se o Velopata percebeu.
Vós quereis que ele acredite que vestis jaquetas de full hidro carbon, lançando-se na água tudo à mólhada para depois andarem lá à barbatanada, pontapé e chapada uns nos outros, tentando não morrer afogados, para depois, pingando salitre por todo o lado, vestem-se mal e à pressa, não honrado variadas tradições velocipécidas; como o uso dos óculos por cima das fitas do capacete, alguns nem meias usam(!), para percorrer meia dúzia de quilómetros em cima de um belíssimo e honrado velocípede, a que desonradamente chamam de parte do ciclismo, enquanto, e esta é que é a parte importante – todos ensopados pingam água salgada por todo o lado?
Mas é a chuva que lhes faz confusão?
Hã?
“Eh, ó Velopata… Não vejo grande diferença entre pingar água salgada ou súor para cima do quadro!” – afirmará o menos versado leitor em tradição velocipédica.
Súor é sinónimo de sofrimento. Dor. Respeito. Somos um com o carbono e sofremos com a nossa montada subida acima.
Água salgada é só desprovido de fundamento ético e técnico e táctico e religioso.
Mas piora.
Há provas anfíbias cuja parte da natação, ocorre em piscinas.
Água com Cloro.
Mas o batraquiame está em destaque neste mês de Janeiro do ano de Nosso Senhor Joaquim Agostinho de 2018.
O Grande Batráquio foi finalmente destronado do nenúfar pelo Comandante Batráquio, que o Velopata desconhece presencialmente mas, para já, parece alguém cuja idade já lhe deveria ter incutido o bom senso de abandonar este duro circo da vida do pedal, enquanto que, por outro lado, o Velopata almeja um dia poder parecer tão bad-ass e distribuidor de carochedo (anfíbio), como Comandante Batráquio se apresenta;

Em destaque está também O Senhor das Águas, que por sua iniciativa, e empurrado pela infeliz ideia (admitiu posteriormente A Senhora das Águas), decidiu calcorrear as estradas e lugares de um tal de 1º Brevet dos Randonneurs do Audace do L´Antique de 2018 da coisa. Com partida em Vila Franca de Xira ou lá onde era.
Vamos relembrar que o Velopata escreve sobre Batráquios, moços e moças anfíbios e triatletas em geral, praticantes da parte do ciclismo a pedalar qualquer coisa como 200 quilómetros de uma só assentada, juntando-se a outros para quem essas distâncias não passam de míseros trocos.
Mas onde é que este mundo vai parar?
Jersey Lanterna Vermelha
Eu Vi A Luz
O Velopata confessa que todos os meses pede muito tempo analisando quem de direito a esta mui desejada jersey.
Após um prolongado período de ausência, motivado por razões desconhecidas para o Velopata, foi com nostalgia que ele assistiu ao regresso à dura realidade do pedal por parte de Eu Vi A Luz.
Regra geral, três tipos de eventos podem levar a um rápido abandono desta mais nobre das modalidades; o atleta que já comprou tudo, melhor quadro do mercado, melhores rodas do mercado, melhores pedais do mercado, melhor medidor de cadência esfíncteriana do mercado, e perde a pica. Há o atleta que finalmente percebe que isto nunca vai melhorar, é uma vida sempre a sofrer, como bem afirma Professor Carochas, e cansado abandona o espírito da coisa. Depois há o terceiro atleta que é o esbardalhado. Com óbvias razões para desistir.
E um esbardalhanço que termina com a visualização da luz no fundo do túnel, mais respect emana.
Foram poucos quilómetros mas tem de se começar por algum lado e devagarinho.
Carrega, campeão!
Jersey Melhor Macho Ressabiado
1º Fernando Coelho
2º Açoriano Ressabiado Especializado
3º Comandante Batráquio
Finalizados os complicados cálculos químico-astrofísicos, os três lugares do pódio acima entregues parecem mais que justos ao Velopata. Ponto final parágrafo.
Jersey Melhor Fêmea Ressabiada
1ª Aprediz de Ressabiada
2ª Lioness of Porches
3ª A Senhora das Águas
Mais uma grande surpresa aguardava o Velopata, atingindo-se esta que é a classificação preferida dos machos hominídeos adultos entre os 35 e os 45 anos.
Com um auspicioso 2018 pela frente, tendo recentemente enveredado com um cariz mais sério pela roda tuénináiner e o bêtêtê, a estimada Lioness of Porches viu as suas aspirações a um arranque de ano fulgoroso e dominador desta classificação pelo ataque da jovem Aprendiz de Ressabiada e a sua clara apetência para tudo o que é granfondues, trails, raids, dum duns e maratonas. É a típica vontade de querer de uma jovem que sente ter muita carocha para distribuír.

Promissor é que também elas vão ressabiar entre si nas já referidas provas que decorrerão durante o mês de Fevereiro.
E ver fêmeas enlicradas a ressabiar é e será sempre muito melhor que ver machos.
Alguns que ainda por cima, nem se depilam.
Ponto final parágrafo.
Já sabem; queixas, reclamações, sugestões ou apenas para dizer ao Velopata o quão espectacular ele é, mesmo quando encarochado, é no sítio do costume;
eunãotenhovidaeprecisodeatenção@vaicomercarochasmail.com
Abraços velocipédicos,
Velopata
amigo Velopata, da parte que llhe toca, fica “moço” deveras honrado pela menção.
Anda um gajo a laurear a pevide pelo vasto oceano cibernético e descobre as desvairadas escrituras velopatianas que até se esquece da bicicleta à chuva.
Abraço
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Crónica brutal 😂😂😂😂
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