Um extenuante dia lá onde ele afincadamente trabalha. Obviamente que o Velopata não podia simplesmente regressar a casa após tantas horas encafuado em frente a um pc, assim sendo, decidiu dar uma voltita às lindas pernas, acompanhado da sua single speed Brownie, atravessando a cicloviocoisa de Faro até ao perímetro exterior da cidade, para só depois regressar ao conforto do lar.
E foi então que ele viu.
Letras garrafais que até os astronautas na Estação Espacial Internacional conseguiriram ler. Gajos carecas com óleo de bebé espalhado pelos músculos. Mulheres que mostravam os seus belos atributos genéticos e outros dotes, estes não herdados. E enlatados. Enlatados a voar e a explodir. Enlatados que se deslocavam e explodiam a velocidades acima da lei.
Era o poster do filme que representa tudo o que o arqui-inimigo do Velopata idolatra; o filme Velozes e Furiosos. De volta à carga, agora pela oitava vez.
O que os queridos leitores provavelmente não saberão é que este é na realidade o filme que mais bilheteira e dinheiro faz em Portugal, desde o nascimento do primeiro, vão já quinze ou mais anos decorridos.
Que a malta goste de filmes de acção o Velopata até entende. Até ele, quando o cérebro está já cansado demais para pensar seja no que fôr, aprecia um bom filme de porrada; daqueles onde o herói salta de um helicóptero em chamas para o capot de um enlatado que se desloca a 200 km/h, utilizando uma pistola de 9 balas para matar 50 gajos maus, seguidamente o enlatado é atingido por um míssil russo, árabe ou coreano, o herói salta novamente, mata mais 30 gajos maus com uma pistola já sem balas, e calmamente aterra no passeio, sem um pingo de súor, roupa e cabelo imaculados, enquanto remata para a câmera um “Yipikaye madafaka!”. Espectáculo.
Mas este filme é diferente e não apenas porque orbita em torno de enlatados.
A referência ao acima descrito herói de acção será com certeza conhecida por muitos, o grande detective John McLane. Sem dúvida um bad ass mas a verdade é que na sua essência, John McLane era um polícia com bons princípios que infelizmente para ele e felizmente para a audiência, acabava sempre no lugar errado à hora errada.
Esta coisa dos Velozes & Furiosos é diferente. Os gajos carecas com músculos oleados não são heróis. São traficantes, bandidos, criminosos, pulhas e canalhas da pior espécie. Mas como vivem sob o que parece ser um código de honra macabro, sinistro e completamente distorcido da realidade, a malta parece gostar. E de algum modo, parece que conduzir latas acima dos limites impostos pela lei para segurança de todos, participar em corridas ilegais de enlatados e no processo, espalharem o caos pelas cidades do mundo, onde curiosamente o espectador nunca chega a ver as reais consequências das desgraças que aquela troupe provoca, é fixe. É curioso que no filme nunca mostrem como aquela velhota que atravessava a passadeira com os medicamentos genéricos para as artroses que conseguiu comprar com a mísera reforma que o governo lhe proporciona, morreu atropelada pelo enlatado do Vin Gasóleo, quando este ia com pressa para vender televisões roubadas. Ou como aquela menina fofinha no passeio que comia um gelado em forma de Bob Esponja, acabou trucidada por baixo da roda do enlatado conduzido pelo O Calhau enquanto este fugia da “bófia”. Entertenimento puro.
O Velopata pede então ao querido leitor que faça um exercício mental. Consegue imaginar um filme onde os heróis fossem um grupo de violadores e pedófilos, também carecas e de músculos oleados, que viviam com um código marado lá entre eles, espalhavam o caos e o horror pelas cidades do mundo e, no final, viviam felizes para sempre? Decerto entendem onde o Velopata quer chegar.
Mas perguntam os amados leitores; ó Velopata, haveis visto os filmes?
Claro que não!
Mas uma questão maior coloca-se.
Poque razão são os rapazes Velozes? Mais, porque razão andam Furiosos?
O Velopata partiu a cachola a pensar nisto durante dias. Noites sem dormir. Até que uma bela noite, durante o intervalo de um daqueles programas televisivos de culinária chique que a Srª. Velopata tanto gosta, onde tudo deve ser realmente muito saboroso mas os chefs achincalham sempre, fez-se luz no cérebro do Velopata.
Já algum dos mui queridos leitores parou para realmente observar, com olhos de ver, um anúncio televisivo de enlatados?
Aquilo é lindo; paisagens verdejantes lindíssimas, o enlatado não toca o alcatrão – levita por entre belos vales e montanhas, é tudo muito verde e muito bonito. Sorrisos de crianças e casais apaixonados. A música é sempre bonita, nem se ouve o primitivo ronco do motor. Se cheiro houvesse seria a jasmim. Liberdade. O enlatado é amor. É vida.
Mas estão a gozar com quem?
Todos sabemos que o dia-a-dia de um enlatado é na realidade assim;

Deve ser essa a razão pela qual os moços andam tão Furiosos. Prometeram-lhes uma coisa e afinal a realidade é bem diferente.
Parece que afinal não podem conduzir as suas latas todas turbinadas com xuning a 200 km/h na cidade, pois parece que andam por lá mais seres humanos como a velhinha reformada e a menina do gelado e é uma chatice matar esta gente na vida real. Até porque depois tem de se gastar mais dinheiro a substituir aquele aileron e não se pode mais levar a dama às compras à Primark.
E depois aparecem ainda os ciclistas que, esses sim, são Velozes. E não estão Furiosos porque parece que pedalar faz bem à saúde e estudos daqueles da internet mostram que pedalar torna as pessoas mais felizes. Felizes sim, até ao momento em que vem de lá um destes raros autocolantes, como a nova personagem da franchise, aquele actor de filmes de porrada que, como muito bem disse o Rei do Barranco, não se consegue perceber onde termina o cabelo e começa a barba, e nos passam uma razia ou tentam mesmo matar porque parece que a estrada e o alcatrão são deles por direito divino.
Na humilde opinião do Velopata as autoridades responsáveis deviam fazer um estudo que incidisse sobre este filme e o seu impacto na sociedade. E antes que venham com um “Ó Velopata lá estás tu…”, leiam com calma.
A verdade é que o Velopata, durante largos anos, afincadamente trabalhou num cinema daqueles de centro comercial. E sempre que estreava mais um desta já longa lista de filmes educativos, duas coisas eram certas. A clientela ia piorar, tornava-se uma espécie de mistura entre a Casa dos Degredos e um concerto de Kizomba, as salas de cinema e espaços comuns iam ficar uma miséria de cagadas e até os seguranças do referido espaço comercial sabiam-no; após as primeiras sessões do filme, iríamos ter acidentes entre enlatados no parque de estacionamento. Entre enlatados e não só; certa vez o Velopata viu um destes raros autocolantes enfiar a lata contra um dos pilares do parque, pois tentou fazer uma curva a alta velocidade usando apenas as duas rodas do lado direito da lata em contacto com o piso. O que exemplifica bem o tipo de comportamentos que este filme incita.
E antes que venham com um “Ó Velopata mas isto é só um filme…”, atentem ao seguinte pormenor que o Velopata detectou durante a sua vida académica. Como alguns dos queridos leitores saberão, o Velopata estudou afincadamente o curso de Biologia Marinha e Pescas. Todos os anos, o curso era brindado com 20 a 30 novos alunos, desejosos de daí a 5 anos poderem engrossar as filas do Centro de Emprego. Até que, no ano seguinte após a estreia da novela cuja acção decorria no MarineZoo, o curso foi presenteado com 80 novos alunos. Já dizia o Cherne, quando questionado sobre o deficit – “3 vezes 6 é 18, logo é só fazer as contas.”. Para bom leitor, meia matemática basta.
Sim, os filmes, novelas e séries têm o poder de influenciar quem os vê. Resta saber se na estrada, nos primeiros dias após a estreia do filme, o número de acidentes também não aumenta. Acidentes, não. Como o Velopata já referiu em anteriores publicações, um acidente é algo que acontece que não se espera. Conduzir um enlatado cheio de ailerons, entradas de ar no capot, bufadeiras ensurdecedoras e luzes néon por baixo, ao som de batidas kizombóides a 200 km/h no perímetro urbano não é um acidente. É uma consequência direta da estupidez.
Com isto tudo o Velopata só espera que não venha daí um Veloz e Furioso passar o Velopata a ferro como retaliação. Mas se tal é o destino do Velopata então que seja um enlatado com luzes néon por baixo – sempre se vai desta para melhor com mais bling-bling.
Abraços velocipédicos,
Velopata
Muitos Parabens puto, este e certamente o teu post mais conseguido ate hoje. Todo ele com uma lucidez e criatividade impares. Eu que tambem fiz vida nisso dos cinemas, se bem que por apenas 2 anos e meio, tambem vi algumas dessas situacoes onde os espectadores se motivavam organicamente com as sugestoes cinematograficas acabadas de assistir, e depois dava sempre confusao. Os filmes de porrada de tres em pipa davam sopapo entre os putos e mais graudinhos (sem serem ainda adultos pais de criancas), os filmes mais sexuais apressavam os jovens casais a voarem dali para fora rumo a casa com o saco das pipocas na mao e as hormonas a slatar como o milho quente. As peliculas mais dark, mais aterrorizantes sempre me fizeram pensar “sera que este imberbe me sai daqui com este cabelo pre-emo e avacalha amanha a turma toda a machadada?”. Felizmente nao aconteceu, que eu saiba! Mas no que concerne a BMP, ao Zoomarine e a actrizes tontas a mandar mergulhos com golfinhos em frente a camara… nunc ame surpreendeu a capacidade irreflectiva dos jovens para se atirarem a cursos da moda e enterrarem o seu futuro; a ver bem eu estive 8 anos a tentar ser um engenheiro biotecnologico sem perceber que aquela ansia de vomito que sentia nao era depressao era nojo daquilo tudo. Mas voltando ao Zoomarine, quando entrou realmente na moda com as camaras a filmar la o director daquilo, ele homem ja passado dos trinta cheio de gloria no rosto ao ser entrevistado pelas camaras e a dizer em pleno jornal nacional (pese embora fosse a TVI o que por si so corrige a frase para “Pasquim televisivo nacional”) – “O gofinho ja bebeu o seu leitinho e agora vai dormir”. Vejamos bem, nao havia nenhuma crianca ali ao lado deles, era o jornal das 9 ou la o raio que o parta e o gajo vem-me com dois diminutivos suis generis, um aceitavel porque toda a gente evita dizer delfim, e o outro uma paralisia emocional que o senhor deve ter tido desde os 11 anitos e da qual nunca recuperou.
O que esses momentos cinematograficos geram e uma nocao de hiper-realidade. As pessoas sabem que ao sairem do filme vao imbuidas de uma motivadora energia de se reverem naquele personagem. Eu tambem ai aos meus 18 aninhos quis ser o Ron Jeremy!!! Bom, querer ser nao queria, mas dar-me com as amigas dele nao me tinha importado naquela idade.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Nem mais! Tão bom ou melhor que o texto do Velopata!
CurtirCurtir
Tirando as biqueiradas “irreflectiva” e “gofinho” de escrever a pressa, gostei de comentar. Mas realmente farto-me de rir com o blogue. So nao percebo porque e que as vezes e em Ingles e outras em Portugues. Mas la devera ter uma explicacao.
As biqueiradas no comentario e de viver a mil, sempre as pressas, os putos a espera de biquinho aberto para o pessoal lhes dar o jantar. Nao da para um gajo fazer as coisas com a calma de outros tempos. E a tua miuda, ja tem data marcada?
CurtirCurtido por 1 pessoa
Está quase. Está atento ao blog que muito em breve serão publicadas novidades no campo prenho-parento-maternidadológico!
CurtirCurtir
Ja me contaram do sexo do rebento. Nao estava mesmo nada a espera, que surpresa. sempre pensei que fosse ao contrario :DDDDD
CurtirCurtir
Mete mais tabaco ou muda de marca de mortalhas. No post “No Tour de 2042…”, o Velopata já havia contado á nação velopatóide que era um Velopatazinho que vinha aí!
CurtirCurtir
Bulls eye. Mais um excelente texto.
Às vezes acredito que esta minha vida velovivida também dava um filme, o qual teria sempre uma assinalável carga melodramática, velodramático, assim a roçar o thriller carromântico (já perdi a noção de quantas sequelas).
No commuting, mas não só, lá me vejo por vezes no meio de um bom filme de acção, obra de ficção onde qualquer semelhança com tunning e azeiteiros da vida real, nunca é mera coincidência.
Vem isto a propósito de uma das minhas aventuras, blockbuster de sucesso, e se há coisa que não refuto é um bom desafio quando sei que tenho boas probabilidades de o ganhar. mas tem de ser da marca do cavalo empinado!
CurtirCurtido por 1 pessoa