O Velopata sabe; o título deste post lembra o leitor dos títulos dos livros do António Lobo Antunes mas em versão literatura fraquinha de bolso ou mesmo de wc, que o Velopata acredita ser o local da casa onde os leitores mais têm contacto com as bizarrias escritas no espaço internético deste vosso amigo.
“Eu no Verão pedalo menos porque arranca a minha época de SUP.” – disse o Pata Negra.
“Época de quê?” – questionou um Velopata aturdido por não acreditar ser possível que alguém se mostre disposto a pedalar menos trocando este nobre desporto por um outro de categoria inferior.
“SUP. É Stand-up paddle pá.”.
“Isso é aquilo dos índios, não é?”.
O Pata Negra soltou uma sonora gargalhada antes de continuar;
“Sim, é. Acho piada que digas que isso é dos índios. Não me digas que tens algo contra a malta que faz SUP?”.
“Não tenho nada contra, só acho piada aos nomes que se inventam para criar modas e catalogar algo que já existe há… Bem, andar de canoa ou prancha ou lá o que chamam a isso deve pré-datar a invenção da roda pela Mavic, mesmo quando estas ainda eram quadradas. E na realidade o que tu queres dizer é que vais fazer menos cycling e mais suping“.
“Suping?”.
“Sim, não confundir com souping.“.
“Hã? Souping?” – o Pata Negra estava à nora.
“Sim, comer sopa.”.
O Pata Negra riu novamente sendo desta vez acompanhado pelas gargalhadas do Falso Lento que, terminada mais uma subida, se assomou novamente ao trio que combinou um passeio de bicicleta até ao mítico Alto do Malhão para ver a chegada e consequente término da Volta ao Algarve 2017.
“Acho que vão ter de continuar sem mim.” – o Falso Lento interrompeu o silêncio após a concentração necessária dos três estarolas para fazer uma rápida descida e iniciar uma nova subida.
“Então?” – questionaram Velopata e Pata Negra em uníssono.
“Estou a ficar sem bateria no Di2. A partir de agora vai ser só prato pequeno e não quero atrasar ninguém”.
Velopata e Pata Negra trocaram olhares cúmplices e claro, tendo em conta o eletrotécnicocoiso, as larachas seguiram-se em catadupa;
“Ah e tal, mudanças electrotécnicoiso é que é… Vê lá se as minhas deixam de funcionar?” – disparou o Velopata.
“É o que dá encomendares bicicletas no chinês. Tudo bem que são baratas, 100 euros mais portes, mas depois não te queixes de só conseguires carregar o Di2 na voltagem chinesa!” – o Pata Negra espezinhou o que restava.
“Lá estás tu com essa conversa… Isto é uma Pinarello e não uma Chinarello!” – retorquiu o Falso Lento com o orgulho da sua montada ferido.
“Também não é preciso desaustinares dessa maneira. Já só falta esta subida e depois é descer e rolar até ao Malhão. De certeza que os enlatados gigantes das equipas que lá estão te poderão ajudar.” – o Velopata sempre a contribuir com boas ideias.
“Epá, boa ideia! É isso mesmo que vou fazer.” – o brilho regressou à face do Falso Lento.
“Resta só saber se a malta pro tem lá carregadores chineses…” – o Pata Negra não dá hipótese tendo sido recebido por um esgar do Falso Lento que lembrou o Velopata das cobóiadas do esparguete do Sergio Leone com o Clint Eastwood.
A verdade é que a meio da última subida o Falso Lento e o seu Di2 ficaram de tal modo almariados que o pobre coitado foi forçado a fazer o resto da subida a pé enquanto Velopata e Pata Negra, já no cume, aguardaram mas não sem proferir mais um quantas chalaças
Seguiu-se viagem e a determinado ponto a bela paisagem serrana algarvia foi substituída por enlatados que ocupavam todas as bermas. Era o aguardado sinal de que se estava já próximo do Malhão e a partir daqui todo o cuidado era pouco pois os ajuntamentos humanóides desta natureza possuem a particular tendência de trazer o melhor do ser humano à tona – uma enlatada distribuía gratuitamente chapéus manhosos com publicidade à Câmara Municipal de Loulé e vários energúmenos quase atiraram o trio velocipédico ao chão na tentativa de obter um desses chapéus. É o que dá juntar as palavras “português” e “de borla”. Também engraçado eram os muitos casais jovens que para ver a chegada da Volta aproveitaram para passear os seus canídeos pois como todos sabem, se há utilizador da estrada com que o melhor amigo do homem simpatiza são ciclistas, inclusivé a Cadela Descontrolada, para mal dos pecados do Velopata.
Numa zona da subida estrategicamente selecionada o trio encontrou a restante troupe companheira de pedaladas. A maioria tinha-se deslocado de lata de modo a poder transportar as toneladas de comida, bebida, mesas, cadeiras e dois belos fogareiros que para além de chamuscarem pequenos pedaços de cadáveres de animais ainda deixaram as licras do Velopata com um estranho cheiro a uma espécie de Quaresma velocipédico mas sem a lágrima tatuada no canto do olho que o Velopata não matou ninguém, exceptuando uma aranha que certa vez apareceu na banheira.

O trio foi recebido com tanta pompa e circunstância como se de heróis se tratassem. O primeiro a cumprimentar o Velopata foi o Aero Boy que de imediato sacou de um maço de tabaco e ofereceu um cigarro ao Velopata. Aceitando o cigarro a restante troupe explodiu em gargalhadas, habituados estão às pit-stops do Velopata e seus cigarritos.
“Merda. Um gajo não traz tabaco porque está a fazer um esforço para deixar esta pôrra mas já criou uma imagem da qual não se livra facilmente… O que um gajo faz para não desiludir os fãs…” – foi o pensamento que assolou o Velopata, agradeçendo enquanto acendia o dito cujo e que, na realidade, soube a gratinado de courgette.
As minis rolaram, os pedaços de cadáver de animal chamuscado também, tendo sido recusados pelo Velopata devido aos seus princípios, o que serviu de desculpa para carregar nos saborosos bolos que lá se encontravam e a cavaqueira fluíu. Também lá estavam o Mini Pro Ressabiado, o Chora-meninas e o Moço do Treco que, especialmente este, não perde uma oportunidade para achincalhar a Estrela Vermelha e lembrar o Velopata das várias carochas que já fez o Velopata engolir. Calma leitor civil, o Velopata explica. Uma carocha é o termo técnico que esta troupe tem para quando um ciclista desanca outro durante uma subida. Diz-se que o ciclista que ficou para trás acabou de engolir uma carocha. Daí a piada de ir ver os profissionais ao Malhão, há sempre a promessa de ocorrer distribuição de carochada em monte.

Passaram a alta velocidade os primeiros veículos primitivos de duas rodas da polícia indicando que a prozada não pedalava longe. Lembrando-se porque razão estava ali e sabendo estar a Volta já lançada, o Velopata perguntou para a geral;
“Alguém sabe como está a corrida?”.
Cri-Cri, Cri-Cri (onomatopeia do som dos grilos à noite no campo).
“Isto é que vai aqui uma coisa bonita. Então a malta vem para aqui para ver a Volta e ninguém sabe como é que está a corrida? Parecem os hooligans, vão à bola só para o espectáculo sim, mas da porrada!”.
Foi gargalhada geral abruptamente interrompida pelo som do helicóptero da transmissão televisiva que assomou por detrás de um monte – a prozada estava a chegar.
E assim foi, segundos depois já a fuga do dia subia as primeiras paredes do Malhão e o Velopata não pode deixar de reparar na absurda diferença de velocidade a que os profissionais pedalam quando comparada com a que o Velopata considera agora a sua miserável velocidade. Bateram-se palmas, gritaram-se palavras de encorajamento enquanto eles sofriam a uma velocidade estonteante Malhão acima. Após a sua passagem o Velopata não conseguiu deixar de notar o estranho cheiro a electrólito de bateria de motor na atmosfera.

Escassos minutos depois seguia-se o pelotão que, dadas as circunstâncias de corrida e o conhecimento de anos anteriores, se esperava compacto. O problema é que o pelotão trazia um senhor de nome Amaro Antunes que, como dizem os jogadores da bola, estava com vontade de querer. Como tal a sua equipa já ressabiava na frente do pelotão impondo um ritmo tal que as acima referidas carochas começavam a ser distribuídas à lagardere.
Foi um desses pobres encarochados da equipa francesa Fêdêjê que numa desesperada tentativa de colar novamente no pelotão passou a um dos companheiros do Velopata um dos seus bidons completamente cheio. Claro está que todos rapidamente rodearam o moço na tentativa de descobrir o que bebem estes gajos.
A primeira sensação, nomeadamente olfativa, era que aquilo não passava de uma variante de Ice Tea de pêssego. Sempre fanfarrão e mesmo contra o aviso do Velopata para não provar aquela bebida sob risco de nos próximos meses as análises ao sangue apresentarem valores que levariam os médicos a interná-lo para posteriores experiências científicas, o Pata Negra provou o conteúdo.
Borra de café. Segundo o Pata Negra beber aquele translúcido líquido dourado era o equivalente a comer borras diretamente do saco dos restos de um tasco ao final do dia.
A galhofa em torno do bidon cessou quando o público na estrada abaixo se começou a afastar do alcatrão. O Velopata achou aquele comportamento estranho mas quando viu quem era o ciclista que lá vinha, já com uma bela quantidade de carochas no bucho, hesitou, teve medo e também se afastou. Era o Nacer Bouhanni e com ele todo o cuidado é pouco. Um encorajamento mal interpretado ou um olhar de soslaio e qualquer fã se arrisca a levar uma valente punhada ou cabeçada. Por essa mesma razão todo público ficou em silêncio deixando o encarochado moço passar.
Na roda do Nacer Bouhanni vinha o que o Velopata percebeu ser ainda um adolescente de uma qualquer equipa holandesa que decidiu marcar presença na Volta. O pobre moço ainda aparentava marcas de acne na face e barba nem vê-la. O que se via sim era a sua boca torcida e respiração totalmente descontrolada no que se assemelhava a um pré-fanico. O que se passaria na mente daquele teenager? Que provavelmente teria tido um futuro mais risonho se tivesse aceite aquele trabalho na caixa do Lidl lá no estrangeiro da Holanda do que sujeitar-se a isto…
Minutos depois passava já a gigantesca caravana de enlatados de apoio que acompanha a Volta quando o Velopata recebeu o que apenas pode ser interpretado como um sinal de Suas Altas Iminências Velocipédicas.
Por algum motivo os enlatados foram forçados a parar na estrada e mesmo em frente ao Velopata parou a lata da equipa Continental Profissional (leitor civil esta é uma espécie de segunda liga do ciclismo profissional), a russa GazProm-Rusvelo. No tejadilho, resplandecentes como sempre, várias e belíssimas Colnago cujo única imperfeição, se é que as palavras “Colnago” e “imperfeição” podem ser usadas numa mesma frase, era o logotipo do cavalo preto sobre fundo amarelo da marca das latas que auxiliou à produção desta maravilha da humanidade com duas rodas.
Aquilo só podia ser um sinal que o Velopata podia interpretar de duas maneiras;
- um dia, de preferência num futuro não muito distante, vai ser dono de uma destas máquinas;
- jamais vai sentar as nalgas em semelhante beldade e pode continuar a babar-se.
Resta agora saber se do inatingível cume da montanha onde se sentam Suas Altas Iminências Velocipédias, estas sorrirão ao Velopata. Notem que sorrir não é gozar. Que é o que 99,9% das vezes fazem com este vosso desgraçado companheiro.
Absorto nestes pensamentos o Velopata foi interrompido pelo Pata Negra;
“Olha, já passou o Carro Vassoura e o Falso Lento já seguiu para baixo para procurar um camião que tenha transformadores chineses para a bateria lá do electrocoiso dele. Se calhar vamos andando, não? É que esperar pela segunda passagem dos pros leva a que fique muito tarde e não trouxe luzes.”
“Sim, é melhor. Já me chegou ver a humilhante velocidade a que pedalamos quando comparada com a deles.”.
“Eh, eh, é mesmo. Só preciso é que me faças um favor.”.
“Diz.”.
“Faz tu a descida à frente. É que com a quantidade de minis que já bebi o Malhão parece-me ter bem mais curvas!”.
“Tu e as minis pá…” – o Velopata abanou a cabeça em negação.
“Não sejas assim. Há vários estudos que dizem que são a melhor bebida de recuperação que existe.”.
“Pois… Então antes de irmos deixa-me só fazer mais uma coisa.”.
“O quê?” – questionou o Pata Negra.
“Cravar mais um cigarrinho.”.
E assim foi. O Velopata cravou mais um cigarro que desta vez não foi cedido pelo Aero Boy e sim pelo pai do respetivo que quando sorriu na direção do Velopata fez-se imediatamente luz na alcunha de ciclista que o senhor deveria ter; o Aero Cremalheira. O que é sempre agradável pois fica-se a pensar no que é mais um espectacular benefício do tabaco.
Desceu-se o Malhão não sem antes provar mais um pouco da ignobilidade humana, neste caso infantil. Várias crianças não-tripuladas pelos pais brincavam numa das rápidas zonas de descida e assomaram-se à estrada provocando tremores no dueto que descia a alta velocidade. Gritou-se, exigindo que se afastassem da estrada sob pena de não verem o Vitinho, o Noddy ou a Casa dos Degredos ou seja lá o que for que a miudagem vê actualmente antes de ir para a cama.
Velopata e Pata Negra percorreram a parada dos vários enlatados gigantes, que mais se assemelham a cidades ambulantes, das equipas World Tour estacionados na base do Alto do Malhão, no entanto, nem sinal do Falso Lento. E tanta bicicleta bonita que o Velopata viu. Vontade dava de deixar lá a Estrela Vermelha e rapidamente pegar numa daquelas beldades de duas rodas e fugir serra fora mas, após curta meditação, o Velopata percebeu que provavelmente ficaria a perder pois a Estrela Vermelha não é para as unhacas de qualquer um e o seu valor é incalculável.
Chegava-se assim ao cruzamento em que Velopata e Pata Negra separavam caminhos para o regresso a casa. Preocupados com o Falso Lento e o seu eléctrocoiso, a sua ausência e falta de comunicação apontavam numa só direção; seguiu para casa sozinho ou então… Estava num tasco qualquer a carregar no frango assado e a ver a volta numa televisão que, com certeza, ainda não era smart. O que não surpreenderia o dueto tendo em conta o ocorrido aquando da ida a Alcoutim pela N122, que os caros leitores podem visualizar num dos muitos vídeos que o Velopata disponibiliza no seu facebook.
Sozinho no seu regresso a casa, o Velopata seguia com atenção redobrada à estrada pois a qualquer momento a prozada faria a segunda passagem nesta mesma estrada, antes de se dirigirem à última escalada do Malhão. Já sabendo o caos que uma desatenção poderia provocar o Velopata não pode deixar de sorrir enquanto pensava na publicidade que este seu espaço internético teria se fosse ele o responsável por um acidente com os pros, semelhante aos que viu na televisão nas míticas etapas das grandes voltas.
Ainda de sorriso parvo na face, foi sem muita surpresa que após uma ligeira curva, ao olhar para um tasco que pululava de espectadores que aguardavam a segunda passagem da prozada, o Velopata descortinou por entre a troupe o Falso Lento que já carregava numa sandes de pequenas fatias de perna de porco curadas o que, na modesta e singela opinião do Velopata, não é muito melhor que frango assado.
“Então pá? Estávamos preocupados contigo, não davas sinal de vida!” – exclamou um Velopata arreliado.
“Como é que queriam que vos avisasse? Infelizmente os 99,9% de cobertura nacional, os 3G, os 4G e o resto dos G´s por aí fora e coiso não funcionam no Malhão… Mas eu mandei-vos mensagem a avisar que vinha pedalando de regresso. Não recebeste?”.
Parecendo ouvir as palavras do Falso Lento, o smartphone do Velopata acusava a recepção de uma mensagem o que levou o Velopata a produzir um sorriso amarelo na direção do Falso Lento.
“E a bina?”.
“O que tem?”.
“Sempre conseguiste que os gajos do World Tour te ajudassem?”.
“Claro, ficou a carregar a bateria durante algum tempo, deve ser suficiente para chegar a casa.”.
“Então o Pata Negra tinha razão.”.
“Como assim?”.
“Os gajos também usam voltagem chinesa.”.
Com esta chalaça foi o Falso Lento que brindou o Velopata com um rasgado sorriso amarelão.
“Bem, como é, acabas de comer e seguimos ou esperamos pela segunda passagem?”.
“Esperamos, não? Faltam 3 quilómetros para a corrida acabar, eles devem estar mesmo a passar aqui.”.
Pela segunda vez o Falso Lento aparentava possuir poderes premonitórios e segundos depois passavam a alta velocidade os primeiros veículos primitivos de duas rodas da polícia. Acorrendo ao exterior o Velopata e o Falso Lento ficaram boquiabertos perante a velocidade estonteante a que a frente da corrida passou naquela zona plana, não se conseguindo descortinar quem era quem por seguirem em modo full ressabianço na frente da corrida.
Regressados ao interior do café foi em êxtase que o Velopata, Falso Lento e restantes civis que lá se encontravam assistiram ao senhor que mostrou great balls of carbon e atacou toda aquela troupe de estrangeiros para mostrar quem é rei e bota discurso no Alto do Malhão. Distribuíndo uma enorme e indiscriminada quantidade de carochas o senhor Amaro Antunes venceu a etapa, algo que um português não fazia há 11 anos, mostrando aos estrangeiros do norte do país bem como aos estrangeiros lá de fora, de que cepa são os algarvios feitos.

“Já me esquecia! Tenho aqui uma prenda para ti. Quando passaram por mim na base do Malhão atiraram estes dois bidons na minha direção. Fica com um.” – exclamou o Falso Lento enquanto o dueto se preparava para sair.
Nas mãos do Falso Lento estavam dois bidons da equipa do vencedor da Volta, a Lotto-Jumbo e o vencedor de estranho nome, o Primo do Rogil.
“Obrigado! Eh lá, este bidon está pesado! Já viste o interior?”.
“Só cheirei.”.
“É o quê?”.
“Deve ser um isotónico qualquer.”.
Com receio o Velopata inspecionou o estranho conteúdo do bidon. Era uma espécie de leite amarelado com cheiro a laranja.
“Não vais provar?” – questionou o Falso Lento.
“Tenho medo.”.
Hesitante o Velopata levou os seus lindos lábios ao bidon.
“Blaarrrgh! Que horror! Isto é intragável!” – o Velopata ainda conseguiu orquestrar estas palavras enquanto se cuspia todo.
“Então?”.
“Sabe a medicamento chungoso de laranja… Acho que já percebi porque razão estes gajos pedalam tão rápido, devem estar desejosos que a prova termine e possam voltar a beber e comer algo com sabores que não induzam o grégo!”.
“Deve ser isso sim.”.
“Agora no regresso vai com atenção às bermas.” – pediu um semi-recomposto Velopata que afinal se viu forçado a pedir uma cola no tasco de modo a poder limpar aquele sabor hediondo da boca.
“Então, o que têm as bermas?”.
“Como os gajos vão no acesso à subida final é provável que tenham atirado mais bidons para as bermas e assim ajudas o je a aumentar a coleção.”.
O regresso a casa foi lento de modo a inspecionar as bermas da estrada mas nem sinal de nenhuma souvenir perdida por entre a parca vegetação das bermas. Só uns quilómetros à frente é que o Velopata percebeu a razão;
“Merda, já ali vão duas à nossa frente.”.
“Duas?!?! Mas são dois gajos…” – indagou o Falso Lento.
“Desculpa, queria dizer duas gaivotas velocipédicas que vão ali à frente.”.
“Que é isso da gaivota velocipédica?”.
“São os gajos que pedalam atrás do pelotão a recolher o que eles deixam na estrada mas nota que não os estou a criticar. O ano passado também o Velopata foi uma gaivota velocipédica e ainda sacou uns quantos bidons.”.
A verdade é que a estrada já havia sido rapinada por aqueles dois. Carregavam sacos às costas que se notavam carregadinhos de souvenirs. Velopata e Falso Lento aceleraram para os passar na esperança de chegarem primeiro ao desejado lixo de uns e tesouro de outros, no entanto, rapidamente se chegou ao cruzamento onde a estrada por onde a volta passava era diferente da estrada por onde o dueto teria de seguir no regresso a casa.
“Bem, mesmo assim não foi mau. Com a tua prenda e a ajuda do Pata Negra o Velopata não se pode queixar. Ainda conseguiu sacar um chapéu, ou melhor, um cycling cap, da Katusha.”.

Velopata e Falso Lento separaram-se após um calmo e descontraído regresso a casa.
“Mas isto é que são horas? Disseste que vinhas cedo!” – questionou uma irritada Srª Velopata.
“Desculpa mas ficámos a ver o final da etapa num tasco e fez-se tarde.” – tentou desculpar-se o Velopata enquanto pousava a Estrela Vermelha no seu pedestal.
“Mas tu foste pedalar para ver a Volta ou foste a um concerto dos Gipsy Kings?”.
“Hã?” – o Velopata apanhado de surpresa.
“Cheiras a cigano.”.
Abraços velocipédicos,
Velopata
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