To Pro or not to Pro

Se há pergunta que todo o ciclista já ouviu, seja de um colega de métier, amigo ou até mesmo familiar, é a seguinte;

“Olha, esta semana começa a Volta ao Algarve. Vais participar?”.

(Nota velopatóide: podem substituír Volta ao Algarve por Volta a Portugal que a lógica é a mesma).

A sério?

Mas que raio de pergunta é esta?

Será que este nosso mui nobre desporto chegou a um estado tão deplorável que qualquer gajo que pega numa bicicleta ao fim de semana para competir (deve ler-se brincar às bicicletas), com os seus párias pelo título de gajo mais rápido a atingir o tasco na serra já é considerado apto para participar numa prova de ciclismo profissional?

Ou será que os civis não têm a mínima noção de que existem mais desportos profissionais no planeta para além daquele onde vinte e dois gajos andam a chutar um objecto esférico de poliuretano de um lado para o outro?

O Velopata conhece muitos doentes de futebol que chegam mesmo a congregar-se para “dar uns toques” em amena cavaqueira. E a esses o Velopata nunca ouviu ninguém perguntar se quando a seleção nacional de futebol vai para o Mundial ou Europeu, se tinham sido convocados. Ou mesmo se nesse fim de semana, já que o Freixo-De-Espada-À-Cinta Futebol Clube joga contra o Clube Desportivo de Cabidelos de Baixo, esse grande derby, se iam participar.

Quando confrontado com esta pergunta, regra geral, o Velopata responde uma das duas opções abaixo;

“Não, este ano já não vou. Venci tantas edições nos últimos anos que a organização pediu-me para deixar de participar e dar oportunidade a outros.”.

“Epá não posso (e reduzindo o volume vocal como se partilhásse um segredo), é que sabes… Este ano estou a fazer um tratamento à base de… Bem… Enfiar 1 beterraba por dia no cú que diz que aquilo dá um power… Só que é considerado doping e acusa se me fizerem análises por isso para o ano, com este tratamento, vou lá para ganhar e o caneco é meu de certeza!”.

Claro está que o semblante de quem fez a ignóbil questão muda radicalmente enquanto enfiam a viola no saco. Alguns ficam claramente ofendidos, outros há que se riem e há os que ainda não satisfeitos se tentam justificar – “Também não é preciso responderes assim. Como às vezes dizes que participas em corridas…”. O que é engraçado pois os Granfondues que pululam pelo nosso belo país têm todos uma característica comum que é sempre referida pela organização – o evento não é de carácter competitivo. Esta alínea dos regulamentos deixa sempre o Velopata com um nó no cérebro – se o evento não é de carácter competitivo porque razão está a organização, num momento em que as bicicletas cada vez mais se assemelham a i-bicicletas com uaifai, dente azul e medidores de todos os parâmetros que o leitor possa imaginar além do tempo total de pedalada, a cronometrar os tempos que os atletas-de-fim-de-semana demoram a completar o percurso?

E já agora; se o evento é não competitivo porque razão existe um pódio onde se atribuem prémios aos 3 primeiros gajos, por norma os mais solteiros e mais magros, que passam a meta?

 

Abraços velocipédicos,

Velopata

5 comentários sobre “To Pro or not to Pro

  1. Nao vejo mal na pergunta. Contrariamente ao futebol, esse sim desporto rei, o ciclismo permite a participacao sem convocacao. E arranjar uma equipa e dinheiro e ja esta. Tenha-se ou nao a qualidade necessaria. Se o ciclista depois morre no Barranco-do_velho por paragem cardiaca ja e problema dele. Agora, nem que queira um futebolista domingueiro pode ir jogar com a seleccao… tem de atempadamente federar-se, arranjar clube (nao exactamente por esta ordem), jogar no estrangeiro ou num dos tres grandes e ter o Jorge Mendes como empresario… e depois la para o fim e que chega a seleccao.

    Nao vejo mal na pergunta. E quase como perguntar “Pa, tu que gostas de correr aos domingos, vais participar no cross das amendoeiras”, e um gajo responde “vou, mas so por pirraca vou ficar em ultimo que e para os gajos da meta anharem la ao frio ate eu chegar”.

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    1. Errado. No ciclismo existem escalões, como no desporto onde passam 45 dos 90 minutos a atirar-se para o chão fingindo lesões. Há World Tour, Continental Pro, Continental… Também as corridas têm escalões, limitando os acessos das inúmeras equipas. E achas que existe uma Federação de ciclismo para quê? Tens de estar federado tb!

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