O Velopata passeava descontraídamente pelo seu Facebook quando se deparou com a imagem abaixo, partilhada por alguém num dos muitos grupos de coisas das bicicletas aos quais o heterónimo do Velopata pertence;

O dedo que repousava sobre o botão esquerdo do rato começou a tremer.
Do dedo, a tremedeira passou para a mão.
Da mão, aquele tremelicar passou para o braço.
Aquilo continou a retesar e segundos depois já o olho direito do Velopata tremia incessantemente e tal só poderia indicar uma coisa; o crash cerebral era iminente.
O Velopata refugiou-se na casa de banho, ligou a torneira da água quente, despiu-se e encolhendo-se na banheira começando a chorar, uma tentativa frustada para que a água, de algum modo, pudesse limpar a alma e eliminar do cérebro a imagem acima apresentada.

Como é possível; uma conceituada revista, que por várias vezes o casal Velopata confiou e trouxe para o seu lar, ser capaz de publicar tamanha barbárie? A um Velopata desaustinado e encolhido na banheira a chorar só ocorria uma hipótese; algures na redação desta revista alguém tinha sofrido uma poderosa e devastadora disenteria cerebral.
Mas antes que o leitor diga “Ó Velopata não estás a exagerar?”, vamos analisar esta capa por partes, não vamos queimar etapes.
“Cercados por multas” é à partida uma boa metáfora; sugere que o prevaricador (o Velopata adora este termo técnico), é um pobre coitado. Porque todos sabemos o quão difícl é controlar a velocidade a que as latas se deslocam. Ou como o Velopata ouviu um conhecido seu dizer;
“O problema do código da estrada é que é muito difícil de cumprir.”.
(um minuto de silêncio para deixar esta afirmação singrar no cérebro do leitor)
Depois vem a estatística; um aumento de 1600% no número de enlatados prevaricadores.
Para os menos atentos, recentemente passou uma reportagem num dos vários canais televisivos onde se noticiou que esses mesmo radares estavam fora de serviço. Ora se estes mesmo radares estavam desligados e foram agora ligados é normal que se tenha um aumento de não-sei-quantos-por-cento. O Velopata também se pode gabar que nos últimos 4 anos teve um aumento de quilometragem feito em bicicleta na casa dos 10005000%. E como foi isso possível? Fácil, antes ele não andava de bicicleta. Percebem a lógica desta estatística? O Velopata também não.
Interessante também é que o gajo que teve o desarranjo redactorial publique a localização dos novos radares bem com os pontos críticos – que o Velopata deduz sejam os locais onde se pode circular a menor velocidade sob risco de se estar a prevaricar. Esta atitude é de uma inteligência tal que o Velopata propõe que a Visão publique também um guia para assaltantes à mão armada, bem como a nova categoria que são os assaltantes à botija de gás, indicando quais os Multibancos sem câmeras de vigilância, em que esquinas e ruas das cidades estão os agentes da autoridade posicionados, que ourivesarias têm menores medidas de segurança e em que ruelas e becos estão os vendedores das melhores drogas. Com certeza essa edição teria uma das maiores tiragens da história.
Segue-se a que é uma das preferidas do Velopata; as técnicas para contestar as multas. Mas que país é este em que uma revista dá dicas a prevaricadores para se livrarem de um quase-crime que cometeram? O Velopata já está a ver as manchetes das próximas edições a chegar às bancas;
- É Presidente da Câmara e corrupto? A Visão tem 10 dicas para não ser apanhado!
- Violou, estropiou e matou? A Visão ensina-o a provar que tudo não passou de um mal-entendido.
E para finalizar claro, os casos insólitos. Com certeza a revista irá apresentar casos de erros de sistema tais como enlatados que já se encontram na sucata há mais de 10 anos mas ainda recebem multas por ter passado nos radares há 2 dias atrás; como se todo o sistema de controlo de velocidade e multas fosse uma anedota, apenas para transmitir a ideia de que tudo funciona ridiculamente mal.
Isto lembra o Velopata de uma situação que passou num dos vários telejornais. Um ignóbil qualquer de 60 e muitos anos foi condenado a 6 anos de prisão por ter violado 2 meninas de 8 e 9 anos. À saída do tribunal o advogado de defesa ainda teve a lata de dizer em frente às câmeras que ia recorrer pois acreditava que 6 anos era muito tempo. Gostava de saber a opinião deste desperdício de oxigénio e merda de pessoa se alguém lhe tivesse feito o mesmo às filhas dele… O que tem isto a ver, pergunta o querido leitor? Já irá perceber, é a velha lógica das “estradas perigosas”.
Curiosamente vivemos num país catalogado pela União Europeia como sendo o quarto melhor na qualidade das estradas. É no mínimo interessante que lideremos o ranking dos países com maior número de acidentes de viação.
É também interessante que dados recentemente divulgados pela UE mostram que só a cidade de Madrid tem mais multas por habitante que toda a população de Portugal.
Mas não deixa de ser engraçado que em Portugal continua a imperar a teoria de que as estradas são perigosas. Antes de ter descoberto que sofria de velopatia este vosso amigo chegou a fazer 200000 quilómetros em 4 anos a bordo da sua lata. Percorreu muito do nosso país na sua lata e até hoje ainda está a tentar perceber o que é uma estrada perigosa. Será uma estrada com curvas? Com semáforos, traços contínuos e rotundas? Será uma estrada com entradas e saídas para outras estradas secundárias? Deve ser e o Velopata aposta que no estrangeiro as estradas não são assim – só assim se justifica.
E não venham com a desculpa que temos maus pisos. Se a estrada está em mau estado o Velopata deixa aqui um conselho; conduz mais devagar e com atenção redobrada ó palhaço!
O que há sim neste país é um desrespeito total pelo código da estrada e muito animal selvagem ao volante (os animais não-humanos selvagens que me desculpem a comparação), como o vizinho anormal trumpiano do Velopata. Que pelos vistos, de acordo com o retardado responsável por este artigo na famigerada revista, é um pobre coitado que é obrigado a conduzir assim porque “as estradas são perigosas”.
Por estas razões o Velopata tomou uma decisão, tendo prontamente notificado a Srª Velopata;
“Essa merda dessa revista nunca mais entra cá em casa.”.
“Ohhh… Mas eles até vão oferecer uns livros porreiros com a revista e apenas por duas tutas e meia.” – reclamou a Srª Velopata.
“Sabes onde é que eles podem enfiar os livros?”.
Uma nota final para os fiéis leitores do Velopata; muito mais haveria a dizer sobre este artigo mas escrever no pc enquanto se está na banheira, com a água corrente proveniente do chuveiro e dos olhos não é fácil. Mas como poderão ver de futuro, mais posts serão publicados incidindo sobre este tema.
Abraços velocipédicos,
Velopata
Sinceramente estou contigo em toda a linha de raciocinio e digo mais, um papel de cidadao activo numa cidadania proactiva era imprimir este post e envia-lo com aviso de recepcao para a revista e depois publicar a resposta dos gajos num outro post. Portugal sofre ha anos e anos de um incrivel problema que tem vindo a atrasar o pais em todos os seus sectores, e esse problema e facilmente apelidado de esperteza tacanha. Porque todos julgam que ser esperto e tornear as leis e a resposta mais inteligente e adequada. Esta esperteza saloia tem atrasado o pais ha seculos e so pode ser vista como algo frutifero por pessoas que tem um “complete disregard” pelos demais cidadaos portugueses. Mas assim como os politicos populistas emergentes de direita estao a fazer por esse mundo desenvolvido fora no que toca a demonstracoes de total desrespeito pelos emigrantes, vulgo Nigel Farage, Donald Trump, etc e tal, o mau exemplo por eles dado legitima o comportamento erroneo, individualista, egoista e ate anarquico da restante populaca.
Em Portugal so havera uma mudanca seria no caracter da pessoa-cidadao comum quando os nossos exemplos superiores forem eles proprios eximios praticantes desse bom exemplo. A corrupcao simples, mas super activa que existe nos quadrantes mais basicos da nossa sociedade em Portugal, vai beber a ressaibos constantes da impunidade que os nossos politicos desfrutam. Apesar desse artigo ser em toda a sua linha quase que um manual de terrorismo urbano, e creio nao estar a exagerar quando o apelido dessa forma, nao creio ser uma revista cujo principio primeiro e vender (e muito), o agente responsavel pela educacao das pessoas.
Concordo que numa sociedade de direito essa revista tinha sido ja culpabilizada por uma fiscalizacao independente do seu conteudo, uma auditoria de principios bem realizada, mas na realidade em Portugal o que de menos activo temos e a consciencia de grupo, a consciencia da mudanca comecar no individuo. Todos querem ser sorrateiramente lideres do melhor esquema para ‘sacar net a borla’, ‘fugir aos impostos’, ‘nao pagar a TV por cabo’, ‘receber o subsidiozinho por cima do salario’, ‘ter SASE sem o merecer’, ‘etc etc etc’. Nestas pequenas atitudes que na sua singularidade parecem nao ter repercussao imediata no nosso quotidiano, tem-se perdido a prosperidade do pais. Mas vai la dize-lo a quem quer que seja. Riem-se de ti na tua cara enquando chupam mais um cigarro, esses mamantes da nossa lucidez. Porque tu chegas a um estado tal de desanimo que por breves momentos sentes-te tu, praticante eximio e simples da verdadeira cidadania pro-activa, como que um imbecil por seres honesto.
As pessoas honestas em Portugal ocupam os mais baixos niveis de importancia social e preponderancia politica. Os chicos-espertos nao pagam as dividas que geram em exponencial. Quem as vai pagar e novamente o tipo que nao se alinha com esquemas. O errado somos nos, o individuo comum chatear-se com as coisas e deixa-las assim no breve suspiro desanimado do “e o que temos”. Essa revista deveria receber centenas de emails, senao milhares a criticar o seu comportamento. Isso e pura e simplesmente terrorismo urbano mascarado de desinformacao inconsequente por parte da Visao.
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