O que é a ANSR?
Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária.
Qual a sua actividade? Está escrito no site – a ANSR é um serviço central de administração direta do Estado, dotado de autonomia administrativa. Tem por missão o planeamento e coordenação a nível nacional de apoio à política do governo em matéria de segurança rodoviária, bem como a aplicação do direito contraordenacional rodoviário.
Perceberam? O Velopata também não.
Autonomia administrativa realmente significa o quê? Quem é que manda lá no boteco?
O Senhor Jorge Jacob. O Presidente que convocou uma conferência de imprensa para anunciar o novo PENSE 2020.
ANSR?
PENSE 2020?
MAI?
Realmente estas coisas dos governos até parece que foram feitas para complicar.
O PENSE 2020 é na realidade o Plano Estratégico Nacional de Segurança Rodoviária, com determinadas e corajosas metas a atingir até 2020, encomendado pelo Ministério da Administração Interna à ANSR.
Claro está, sendo Alta Iminência Velocipédica, o Velopata foi convidado VIP, Very Important Pata; da conferência de imprensa tendo mesmo conseguido acesso privilegiado para uma entrevista com este tal senhor de José Jacob.
VP: Boa tarde, é um prazer estar aqui consigo.
JJ: Boa tarde, para mim também é um prazer.
VP: Bem, se começa já com as provocações… Por acaso sabe como vim para aqui?
JJ: Não faço ideia. De carro?
VP: Não, que horror! Vim de Bicicleta a Pedal.
O Velopata entrou a pés juntos. Do outro lado não houve reacção.
VP: Está a desejar que esta entrevista acabe já não?
JJ: Posso dizer desde já que quer em meu nome quer em nome da ANSR, cumprimos sempre com todos os compromissos.
VP: Ainda bem, fico muito contente por todos vós menos um. Quem é que teve a brilhante ideia do slogan PENSE 2020?
JJ: O que tem o PENSE 2020?
VP: Bem, PENSE é Plano Estratégico Nacional de Segurança. O correto seria PENSER 2020. O que fizeram ao “R” de Rodoviária?
JJ: Os nossos mais prestigiados técnicos trabalharam horas e horas debruçados sobre milhares de estudos e cenários possíveis para a população aquando da elaboração do artigo, agora entregue para discussão pública. Parece-me que o tema PENSE é forte pois queremos que os cidadãos pensem.
VP: Parece-me mais é que vocês não pensem muito.
JJ: Estou plenamente confiante no trabalho dos meus técnicos.
VP: Quando diz técnicos na realidade quer dizer advogados certo?
JJ: Sim, na sua maioria.
VP: Que se deslocam todos os dias para o escritório num bruto de um enlatado topo de gama state of the art, cheio de extras e coiso.
JJ: Não tenho ideia que meio de transporte os nossos advo… Técnicos preferem para usufruir na sua mobilidade urbana mas deduzo que o carro seja opção maioritária.
VP: Maioritária sim… Parece-me é que deve ser totalitária, alguns com chófer e tudo.
JJ: Desculpe mas não percebo onde quer chegar.
VP: Não ligue, só que o Velopata acha estranho o que é que advogados que apenas conhecem no seu quotidiano a lata como meio de transporte percebem disto da segurança rodoviária para poder opinar.
JJ: Desculpe mas quem?
VP: Velopata, o meu alter ego do blog.
JJ: Ah. Estou a ver que talvez não seja um prazer tão grande fazer esta entrevista com ele.
VP: Com quem?
JJ: Vo… Você, o Velopata.
VP: Ah sim, ele. Mas também tem de ver o seu historial. Aqui há uns tempos as suas delcarações incendiaram as redes sociais e não foram só os indignados que se indignaram. Aquilo foi tiro no pé, total indignation.
JJ: Não tenho bem memória do que possa ter sido.
A moderna técnica amnésica inventada pelo Zeinal não pega com o Velopata;

“Um dos principais problemas de insegurança que temos nas estradas portuguesas são os ciclistas que não cumprem o código da estrada”.
Para que o leitor registe foi mais ou menos isto que este raro espécime proferiu em anterior entrevista.
VP: Vamos lá a ver uma coisa e fazemos um passo de cada vez como se faz com as crianças, bem devagarinho que é para não falhar nada. Morrem mais ou menos 2 pessoas por dia, vítimas de acidentes de viação em Portugal, é correto?
JJ: Sim são esses os números que temos registo.
VP: Isso não me parece muito bom para a sociedade. Podemos também dizer que essa média de 2 mortes por dia se devem na sua vasta e absurdamente larga marioria a acidentes entre enlatados ou atropelamentos.
JJ: Desculpe acidentes entre?
VP: Car… Ca… Os ca… Carr…
JJ: Carros?
VP: Isso.
JJ: Sim, é seguro dizer que serão acidentes entre veículos motorizados.
VP: Mais, estatísticas da União Europeia mostraram mesmo que em todo o espaço europeu 98,9% dos acidentes de viação que ocorrem entre enlatados e bicicletas são culpa do condutor do enlatado.
JJ: Acho que já percebi onde quer chegar. Sim, 98,9% dos acidentes são imputáveis aos automobilistas.
VP: Então diga-me uma coisa, QUAL É O CARALHO DO TEU PROBLEMA COM AS BICICLETAS?
O Velopata saltou da sua cadeira, esperneou e gritando feito harpia dos infernos lançou-se sobre a sua presa, o indefeso Jacob. Sacando da roda pedaleira que trazia escondida por entre o seu corpo somali velopatóide (a entrevista é de inverno e está frio por isso dá para disfarçar uma roda pedaleira na roupa que outrora serviu), agride com violência o Jacob nos queixos, de imediato libertando da prisão imunda daquela boca dois dentes.
Mentira. O Velopata não disse nada disto e não é nada pela violência mas era o que este Jacob merecia. Umas belas bofetadas.
VP: Por estas e por outras razões é que discordo totalmente da sua afirmação.
JJ: Mas tem de ver que a percepção que os ciclistas emanam é extamente essa; a que não cumprem o código.
VP: Já experimentou mover-se num sistema que não foi pensado para si?
JJ: Como assim?
VP: O sistema rodiviário em si. Está centrado na lata; o espaço urbano é pensado, planeado, desenhado e executado para uso exclusivo dos enlatados e não para gloriosas bicicletas e peões que ainda vão descobrir a bicicleta.
JJ: Mas os utilizadores de bicicleta são uma minoria em Portugal.
VP: Mais razão me dá. Se somos um país cujos números apontam para uma espectacular classificação de penúltimo lugar no uso de bicicleta na Europa, QUAL É O TEU PROBLEMA COM AS BICICLETAS Ó MEU PALHAÇO DE MERDA?
O Velopata saltou novamente sobre a sua presa mas desta vez não havia nada á mão de semear para agarrar e agredir aquele gajo. À punhada seria.
Não foi assim. Foi parecido mas sem os gritos, blasfémias e violência. Na realidade o Velopata terminou com;
VP: …Por isso não percebo qual o fundamento da sua questão.
JJ: Olhe não posso precisar muito mais sobre a questão até porque já não tenho memória da entrevista. Talvez seja uma não-verdade que tenha sido proferida, sinceramente não me recordo.
VP: Vocês da política e essa história das não-verdades…
O Velopata sabia que aquela entrevista se poderia prolongar por dias, semanas e anos a fio que a besta não ia vergar, estava mais que na hora de analisar o PENSE 2020.
VP: Estive a ler o vosso documento com o inominável título e tirei umas notas que gostava de esclarecer consigo.
JJ: Sim, prossiga.
VP: Explica lá isso da capacete obrigatório.
JJ: Na ANSR estamos preocupados com a saúde dos cidadãos portugueses e são vários os estudos que apontam para o capacete com uma mais valia no que toca à segurança dos utentes mais vulneráveis da via, os ciclistas.
VP: E eu que julgava que os mais vulneráveis da via eram os peões.
JJ: Sim, também o são, é correto e peço desculpa, mas não o são no sentido de transitarem na faixa de rodagem.
VP: Mas atravessam-na certo?
JJ: Sim, claro.
VP: Então também estão susceptíveis a atropelamentos, cacetada e porrada da parte de enlatados.
JJ: Infelizmente ainda temos números muito elevados de atropelamentos em Portugal.
VP: Podemos mesmo dizer que com as nossas calçadas e passeios um peão tem algum risco de queda. Nessa queda pode bater com a cabeça no chão, não concorda?
JJ: É um cenário plausível sim.
VP: ENTÃO SABES ONDE É QUE PODES ENFIAR OS CAPACETES OBRIGATÓRIOS?
Não foi assim mas devia ter sido. O Velopata tem de aprender a controlar estes impulsos, diz a Srª Velopata que é psicóloga de formação, ela lá saberá.
VP: Veja lá se não concorda comigo… Para aumentar a segurança dos peões e evitar quedas com potenciais lesões graves na cabeça, deveríamos obrigar todos os seres humanos que deixam as suas casas no dia-a-dia a utilizar capacete. Para aumentar a segurança.
JJ: Não acredito que nenhum dos nossos técnicos não tenha pensado nisso antes. É uma óptima ideia!
VP: E mais lhe digo; vão ver as estatísticas de mortes com danos cerebrais por quedas em banheiras escorregadias. Aquilo é upa! upa! comparado com as lesões cerebrais provocadas por bicicletas!
JJ: Concordo mas aí a ANSR já não tem jurisdição.
VP: Não se preocupe, não tem importância. O Velopata logo comunica as suas ideias à ANSBPC.
JJ: ANBPC? Desconheço.
VP: Não, é ANSBPC É um organismo novo do estado semelhante ao vosso. Autoridade Nacional de Segurança de Banheiros, Polibans e Chuveiros. Mas olhe que não ficamos por aqui com a história dos capacetes… Já reparou que os condutores de Fórmula 1 e os de Rallie usam capacete?
JJ: Olhe que nunca me tinha lembrado disso mas tem razão!
VP: Pois… Parece que há mais lesões cerebrais em acidentes entre enlatados que de ciclistas no total…
JJ: Começo a pensar que você deveria trabalhar conosco.
VP: Aguente lá os cavalos que o Velopata ainda não acabou. Sabe-me dizer o limite de velocidade nas cidades?
JJ: Não lhe posso precisar esse valor não tendo aqui os dados para consulta.
VP: É 50 quilómetros por hora homem! Deixa-me adivinhar; chófer?
JJ: Sim, por norma não conduzo, tenho um condutor privado.
VP: AINDA POR CIMA ÉS FACHO MEU NAZI ENLATADO!
O Velopata acredita que um dia deveria despistar estas filoxeras. Talvez precise de uns comprimidos quaisquer.
VP: Tendo em conta que a maioria dos enlatados portugueses circulam em excesso de velocidade nas cidades portuguesas, segundo relatórios do governo, podemos dizer que se um ciclista levar com um enlatado no focinho a 50 quilómetros por hora, é o capacete que o vai salvar?
O gajo enfiou a viola no saco. Atrapalhado não sabia o que responder. O Velopata sentiu sangue na água e lançou-se feito tubarão;
VP: Mais, você diz que o capacete aumenta a minha segurança na estrada correto?
JJ: Sim é isso que a ANSR defende.
VP: Porque se o Velopata levar capacete os enlatados que todos os dias se atiram para a sua frente nos sinais de stop, não passam a pelo menos 1,5 metros de distância, não respeitam a sua prioridade nas rotundas, viram à direita enquanto ultrapassam, buzinam quando o Velopata se desvia dos buracos na berma e é forçado a ir para o centro da faixa; o que me está a dizer é que se o Velopata usar capacete tudo isto vai acabar? A minha segurança real aumenta?
JJ: Está a descredibilizar o bom nome do trabalho da ANSR?
VP: Não… Mas o Velopata ia jurar que o que lhe aumentava a segurança nas estradas seria;
- redução do limite de velocidade para 30 km/h em zonas “agitadas” da cidade;
- reduzir o tráfego promovendo a mobilidade sustentável – menos enlatados leva a maior segurança, é um facto;
- maior ênfase na fiscalização dos enlatados;
- aumento das tarifas de estacionamento no interior das cidades;
- melhoria das redes de transportes públicos;
- e se tudo o resto falhar criem ciclovias que a malta vai pedalar para ali para aquele cantinho e tenta-se não estorvar ninguém numa espécie de ghetto velocipédico;
- duas chapadas bem assentes no focinho deste Jorge Jacob.
Antes isto tudo que um pedaço de plástico e esferovite com apliques em carbono absurdamente caro e OBRIGATÓRIO. Que o Velopata usa. Sempre.
Pormenor engraçado que o cromo deste post também tenha de iniciais JJ como o cromo do desporto menor da bola.
Abraços velocipédicos,
Velopata