Análise anual velopatóide 3 – Maio e Junho

Chegava o mês de Maio e juntamente com as boas temperaturas que restavam da Primavera, o aguardado mês do Love Tiles Douro Mediofondue 2016.

À partida e como já será óbvio do leitor, o Velopata ia em protesto;

“Desculpem mas para mim não faz sentido.”.

“O que é que foi agora?” – perguntaram Canhão de Lagos e Rei do Barranco em unísono. A viagem era longa, seiscentos e tal quilómetros enlatados até à zona de partida da prova. As Bicicletas, pobres coitadas, expostas solitáriamente aos elementos, fora de qualquer contacto com o alcatrão e presas no tejadilho de um enlatado chocalhante que nem de carbono é. Um degredo.

“Fazermos tantos quilómetros enlatados para depois pedalar só cento e dois quilómetros de prova não faz sentido.” – o Velopata expunha o seu ponto de vista.

“São cento e quatro quilómetros de prova.” – notou o sempre minucioso Rei do Barranco.

“Grande diferença. Continuo a pensar que devíamos ter ido ao grandefondue. Tanto quilómetro de carro fica injustificado por tão pouco quilómetro de bicicleta.”.

“É esse o problema.” – apontou o Canhão de Lagos.

“Acho que da parte da organização não há problema. Podemos pedir para trocar de percurso.” – um breve sorriso iluminou a face do Velopata.

“Não, o problema é que não te calas.” – rematou.

Maio – O acontecimento-cujo-nome-não-se-diz.

Não existe ciclista no mundo que não o tema. É o Voldemort, Sauron ou mesmo o Lance Armstrong do ciclismo, o termo condenado à exclusão no léxico velocipédico.

Acontecimento-cujo-nome-não-se-diz.

Pior que isso. Acontecimento-cujo-nome-não-se-diz provocado por um colega de equipa em fuga a um enlatado.

Inadmissível.

Numa volta que se previa à chuva, para o Canhão de Lagos era necessário fazer o percurso até Tavira de bicicleta. O Rei do Barranco nem o aconchego da cama abandonou e o Velopata, por honrosos princípios, não conseguiu recusar o convite de uma simples pedalada até Tavira com o Canhão de Lagos, regressando depois sozinho a Faro.

O Velopata não escreve que o plano é sempre simples?

Seguiam lado a lado no final de uma descida. No outro sentido, uma velha carrinha de distribuição frigorífica e traço contínuo. A última imagem que o Velopata registou foi a de uma massa gigante com colossais holofotes na sua direção. Fração de milésimos de segundo depois, um Canhão de Lagos empânicado saltou para a trajectória do Velopata, a sua roda traseira embatendo violentamente na roda dianteira do Velopata.

 

Pausa dramatúrgica que permite ao leitor visualizar o Velopata a voar, rebolando e derrapando pelo alcatrão.

 

O Canhão de Lagos, imune, só conseguiu imobilizar a bicicleta um pouco à frente. Regressou para junto do Velopata para verificar o seu estado;

“Eu estou bem. Vê-me a bicicleta.” – o Velopata sabia que a primeira preocupação do Canhão de Lagos seria o humano e não a Estrela Vermelha. Com amigos destes quem precisa de inimigos…

“Sentes-te bem? É melhor sentares-te.”.

“Não, eu estou bem. Vê-me a bicicleta.”.

“Tens o joelho a sangrar.”.

“Mas eu estou bem. Vê-me a bicicleta”.

“Tens o cotovelo a sangrar.”.

“Eu estou bem porra. Vê-me a bicicleta.”.

O Canhão de Lagos afastou-se. Levantou a moribunda Estrela Vermelha do chão para depois a encostar na berma.

“Então?” – questionou um Velopata dorido e de coração nas mãos.

“Está tudo bem.”.

“Não está nada. Vê lá bem.”.

“Já vi pá! Está tudo bem!”.

“Não está nada que eu vi que tu não lhe ligáste nenhuma.”.

“Mas tu estás bem?” Estás a sangrar!”.

“Epá já te disse que estou bem. Não tenho nada partido, são só arranhões.”.

“Tens a certeza? Queres que chame uma ambulância”.

“Qual ambulância homem! Eu quero é que me vejas a bicicleta!”.

Após minuciosa análise a Estrela Vermelha respirava sã e salva, pronta para outra.

Mais calmo o Velopata pode inspecionar os estragos no seu corpo de divindade abissínia.”Só chapa!”, como dizem os heróis. Linguagem técnica à parte, só chapa na realidade significa que a pele foi arrancada sendo substituída por pequenos pedaços de alcatrão que terão de ser raspados. A sorte do Velopata, a estrada ainda húmida permitiu que fosse derrapando e não raspando o alcatrão logo as áreas afetadas, principalmente cotovelo e joelho, eram de reduzidas dimensões. O Velopata tem fotos para mostrar, no entanto, para não ferir a sensibilidade das leitoras que se poderão babar involuntariamente para cima do smartphone, opta por não as divulgar.

Testemunhas não as houve e preocupados em não morrer nenhum dos dois conseguiu ver matrículas.

Ao que o Velopata e o Canhão de Lagos apuraram, um enlatado branco decidiu ultrapassar uma velha carrinha de distribuição frigorífica sobre o traço contínuo. Que o Velopata e o Canhão de Lagos estivessem ali, naquele momento, problema deles, terá pensado o enlatado. E ultrapassou para nunca mais parar. Também a carrinha não parou.

O Velopata consultou especialistas, G-Ride e Bike Lounge Café que em conjunto apuraram; a roda dianteira da Estrela Vermelha sofria de um empenão vertical e o drop-out estava torto. O Velopata apurou depois que o melhor capacete do mundo não era o Giro que usava e sim o Kask Mojito, edição especial La Vuelta. O Giro tinha cumprido o seu papel e encontrava-se rachado. Seguiu para o Museu Do Velopata, em memória de bravura no brilhante desempenho das suas funções.

A duas semanas da sua primeira participação no Douro Mediofondue um acontecimento-cujo-nome-são-se-diz. Não satisfeitas, suas Altas Iminências Velocipédicas decidiram ainda que do Além o São Pedro interviesse pelo mal. Choveram cântaros nas semanas seguintes e o Velopata deu por si enlatado a caminho do Douro, ainda ressacado do acontecimento-cujo-nome-não-se-diz.

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Linha de partida do Love Tiles Douro Mediofondue 2016.

Três mil e quinhentas cabeças.

A expectativa da organização; três mil e quinhentos malucos iam gladiar pelo título de gajo mais magro e mais solteiro do Douro. Já com cotos no lugar das unhas, um Velopata impaciente questionava-se onde ficaria a linha de partida e onde estaria realmente a cauda do pelotão. Não importa para onde movesse o olhar, a perder de vista a imagem era idêntica; gajos vestidos com licras apertadas e bicicletas que pesam menos que o smartphone que o leitor utiliza para ler este artigo e custam mais que o enlatado que o leitor teima em fazer mal e conduzir. E claro, há sempre um gajo que tem na bicicleta rodas mais caras que toda a coleção de bicicletas do Velopata. Para o leitor acreditar que não é exagero dramatúrgico, quando soou o tiro de partida o Velopata demorou dez minutos a atingir a linha e iniciar efetivamente a prova.

Primeiros três quilómetros neutralizados para que os muitos civis presentes pudessem apreciar o circo de multicoloridas licras enrolando presuntos e carbono absurdamente caro, pela bela localidade de Peso da Régua. Mas para o Velopata não havia tempo para saúdar a populaça, só interessava chegar o mais velopatamente possível à frente da corrida. O que se revelou merckxiano tendo em conta que o dorsal do Velopata, nrº. 2528, significava que para o Velopata atingir a frente da corrida teria de ultrapassar dois mil quinhentos e vinte e sete gajos.

O percurso inspirava algum medo; quinze quilómetros a rolar, seguidos de duas contagens de montanha de primeira categoria, intervaladas por uma descida abissal e com uma passagem pelo famoso Muro do Cadão, anunciado como uma parede onde as inclinações rondavam os vinte e dois por cento, terminando novamente com quinze quilómetros a rolar num falso plano ao longo do rio, numa das estradas mais bonitas do Mundo e talvez até de Portugal.

Reconhecimento na manhã da véspera, banhoca de piscina à tarde e um jantar manhoso à noite. Se há facto que os membros da Evo Team concordaram foi o seguinte; no Douro sabem fazer bom líquido alcoolizante à base de uva, já a comida não puxa carroça e muito menos bicicleta.

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O Velopata e o Canhão de Lagos aproveitam a piscina da Quinta do Fôjo na véspera do grande evento. O Rei do Barranco, devido a compromissos gripais optou por não ir a banho.

A Quinta do Fôjo recebeu os três gatos pingados que representaram a Evo Team com honras de reis de outrora e campeões velocipédicos estrangeiros do sul do país; uma limonada gourmet sunset lounge on the house, que neste caso foi on the piscina e um pequeno-almoço de enfardar brutos. Nada faltou à Evo Team excepto pernas. Pernas e alguém que silenciasse o Rei do Barranco que admitiu ter sido o único Evo a não usufruir de uma noite descansada pois o Velopata até a dormir parece praticar rolos de treino. Note caro leitor que se tratam de injúrias ao Velopata, ou mesmo não-verdades como dizem os políticos na tv. Perguntem ao Eu-vi-a-luz, só ele poderá esclarecer o mito.

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Embaixada oficial Evo Team ao Douro Mediofondue 2016; Canhão de Lagos, Rei do Barranco e Velopata. Ao lado do Velopata podem ver um moço que travou simpático conhecimento com os Evos durante a tranquila estadia na Quinta do Fôjo. Ao que conseguiram apurar o moço pertence à elite dos pros ressabiados no estrangeiro do norte do país. O Velopata não sabe mas onde quer que estejas moço, o Velopata espera que estejas a ressabiar à grande. Velocipédicamente falando claro.

Enclausurado entre três mil e quinhentos ciclistas o Velopata percebeu que a partida simbólica tinha terminado quando se entrou a fundo na descida que deixa Peso da Régua e o massivo pelotão esticou. No seu âmago o Velopata sentia algo estranho. O pelotão movia-se de um modo pacífico e tranquilo, sem disparates ou jogadas malabaristas. Onde estariam os ressabiados, os que apenas tiram a bicicleta da varanda ou garagem nestes dias, os que gostam da pompa e circunstância de um bom cavalinho sem dentes, os que não conseguem pedalar em linha recta? Sem sinal de nenhum ciclocoiso à vista o Velopata  ganhou confiança e carregou com o objectivo de chegar à frente.

“Volta para o Algarve pá! Não vens aqui fazer nada! Isto é para homens!” – alguém gritou.

Casualmente o Velopata olhou na direção da voz para com um rasgado sorriso encontrar o Bombeiro.

Atenção gajos magros e solteiros presentes na corrida, Fucking Bombeiro rules is in da house!

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O Bombeiro carrega Douro acima acompanhado logo atrás por um conterrâneo algarvio do Velopata cuja alcunha é desconhecida mas representa a equipa JIC Racing Team onde todos os atletas partilham um fetiche com alumínios ou lá o que é.

A verdade é que o Velopata é como todo o ser humano e gosta de encontrar referências culturais e gentes semelhantes à sua quando viaja pelo estrangeiro. Mas é especialmente porreiro encontrar ali o Bombeiro quando ele segue a todo o gás na roda de um grandalhão que o Velopata pensa ser o Carteiro. Neste caso, grandalhão é a tradução para civil da palavra velocipédica “canhão”. Rolar a quarenta e cinco quilómetros por hora, desviando aqui e ali de três mil e quinhentos ciclistas. Épico e top e totilcoiso. O ritmo manteve-se forte até chegar à base da primeira contagem de montanha onde, por instantes, o Velopata acreditou que os croissants ingeridos nessa madrugada seguiriam borda fora a qualquer instante. Salvo pela gigante montanha do gigante rolador.

Ou não.

Três mil e quinhentos ciclistas, o Velopata já referiu?

Apesar do brilhante trabalho cavalgante do Carteiro, que permitiu subir um infinito número de posições no pelotão, quando deu entrada na primeira subida o Velopata percebeu que tinha bilhete para o filme errado. A primeira subida seriam uns constantes cinco por cento durante oito quilómetros. Este é o terreno predilecto do Velopata, subidas longas mas sem inclinações exageradas. No momento em que o Carteiro desviou para o lado o Velopata sentiu o que pode referir agora, após ponderada meditação, como uma ejaculação velocipédica precoce.

O plano do Velopata simples era; lançar-se desvairado subida acima, de modo a tentar chegar à frente de corrida onde o ressabiamento devia ir ao rubro. O problema é que entre o Velopata e a frente da corrida estava agora uma subida onde nem um milímetro de alcatrão era possível enxergar. Um colorido enxame de licras coloridas, carbono, plástico e esferovite tinha alastrado pela paisagem.

Estrada totalmente entupida e o Velopata foi forçado a aguentar a bucha – pedalar a um ritmo mais fraco do que se sentia capaz e tentar, pouco a pouco, furar subida acima.

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Início da primeira subida que o Velopata veio depois descobrir ser para Tabuaço e mais um momento Where´s Velopata?

“Pelo menos esta malta é bem comportada, não há-de haver stress.”.

O Velopata e a sua grande boca, por vezes o Canhão de Lagos tem razão.

Já foi referido acima que o Velopata pedalava entre três mil e quinhentos ciclistas com noção do que é pedalar em prova e acima de tudo, em pelotão. Esse número não era o correto. Eram sim três mil quatrocentos e noventa e nove.

O leitor certamente conhecerá as aventuras do Homem-Aranha, personagem de livros de banda desenhada e filmes de qualidade duvidosa. Saberá também que este super-herói possui um poder premonitório, o “sentido de aranha”, activado na mente do herói quando este é ameaçado. O Velopata e a sua Estrela Vermelha partilham um tipo de conexão neuroencéfalofullcarbónicaero cuja função é a semelhante – na presença de jericos velocipédicos, o alarme cerebral do Velopata dispara.

E aí estava ele ecoando em mega decibéis pelo cérebro do Velopata. Pela vista periférica conseguiu identificar o perigo; a pedalar a seu lado um energúmeno decidiu tirar ambas as mãos do guiador e procurar a única coisa smart que nele existia, o smartphone. Não é que aquela alminha ia caíndo para cima do Velopata na sua tentativa frustada de tirar uma selfie? O Velopata confirmava agora que afinal nem todos os três mil e quinhentos ciclistas eram gajos com noção. Se ave rara como esta se escondia entre o pelotão outras deveriam existir, todo o cuidado é pouco e o seguro morreu de velho.

Em terra de descidas, ciclista gordo é rei.

Se o ditado velocipédico acima não existe – deveria. Velopata sempre a contribuir.

Chegado o final da primeira contagem de montanha, seguia-se uma vertiginosa descida de oito quilómetros.

A verdade é que aqueles três mil e quinhentos ciclistas partilhavam um sem número de características mas verdade é que nem todos eram muito ou pouco smart, outros eram só pura e simplesmente suicidas. Tipo Estado Islâmico das bicicletas.

O Velopata nunca tinha visto nada assim.

Gajos que o Velopata tinha desancado no final da subida, no miolo da subida e mesmo no início da subida, oito quilómetros atrás. Lançavam-se descida abaixo como se algo tivessem roubado no topo da montanha. Ultrapassavam o Velopata pela direita, pela esquerda, cortavam trajectórias de curvas. E o Velopata, ainda ressacado do acontecimento-cujo-nome-não-se-diz sentia-se apreensivo e incapaz de se deixar guiar descida abaixo confiando na Estrela Vermelha.

Nem quatro quilómetros se rolaram após o final da descida e já o grupo onde o Velopata se inseriu abeirava-se da segunda contagem de montanha. Sofrendo pesadas baixas o Velopata percebeu que aquele ainda não era o grupo ideal onde se entrumar e aproveitando o descongestionamento do alcatrão empregou o seu velopatus style montanha acima. Recebeu do restante grupo o que não era uma ovação de pé mas sim um xinganço majestral;

“Olhem lá, aquele ali deve ter motor!” – exclamou em cerrado sotaque de estrangeiro do norte do país um estrangeiro do norte do país.

“Apanhem o gajo! Não o deixem fugir!” – berrou um outro.

“Ich bin ein berliner!” – gritou um outro estrangeiro, este provavelmente do exterior do país. A sua língua lembrava alemão ressabiado. Parecem sempre comandar ordens quando abrem a sanfona.

O Velopata não se dignou a olhar para trás pois segundo sabedoria popular, a corrida pedala-se para a frente.

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As placas que o Velopata por vezes tem vontade de ir arrancar à dentada.

Muro do Cadão.

Horrível mas não é o que pintam. Morre-se uma e outra vez mas consegue-se ressuscitar sem necessitar eletrocussão e nem por sombras é um Alto do Malhão no querido algarve do Velopata. Mentalizado deste facto o velopatus style engrenou.

Um a um o Velopata descarregou todos para no topo do famigerado monte se sagrar Rei do Muro do Cadão. Infelizmente os quatrocentos-e-muitos gajos que seguiam à frente e que o Velopata nunca mais viu não concordaram com o título.

Conhecido pelos comparsas de pedalada como possuíndo características de um Trepador Puro, o Velopata sabe que rolar não é o seu forte. E trepar muito menos mas se dizem por aí que o Velopata é Trepador, quem será ele para contradizer o povo. Afinal, Trepador Puro não significa que se é necessáriamente bom a subir.

Tal como o Velopata os havia feito passar as passas do algave na famosa subida do Cadão, os estrangeiros do norte do país fizeram o Velopata passar as vinhas do socalco ou coisa que os valha. Lá regressavam eles serra abaixo a velocidades estonteantes, talvez por conhecerem as curvas e percalços da estrada ou apenas porque o Velopata tem trabalho para onde afincadamente regressar, para além de um lar onde se encontram outras bicicletas e uma Srª Velopata. Great balls of carbon ou só vontade de cometer suicídio feliz; que ninguém é infeliz a pedalar, o leitor opte.

Final de descida, apenas quinze quilómetros e não-sei-quantos-mil-gajos na frente. Preocupar-se com a classificação seria só ridículo. Lançados vinham mais três gajos que o Velopata nem chegou a perceber que tipo de estrangeiros eram. Era rolar rápido, trabalhando e alternando na frente. Mas no trio encontrava-se um tubarão que captou a essência de Velopata ferido na atmosfera. Pena foi ter decidido que uma dentada só não faria mal quando essa mesma dentada seria o golpe de misericórida. Nem uma mudança de ritmo foi necessária. Meia mudança de ritmo depois e um Velopata pedalava sozinho no falso plano que o transportaria rio acima até á meta. Ao longe o tubarão e ambas as rémoras seguiam no horizonte.

Um assobio soou atrás do Velopata. Um grupo de maiores dimensões de estrangeiros de todo o lado aproximava-se, galopante mas confortável.

“Embarca aí!” – gritou alguém na frente do grupo.

O Velopata assim fez. Entrou no grupo e seguiu em ritmo confortável até à meta onde deixou os membros do grupo que mais trabalharam bater-se ao sprint.

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O Velopata abandona o sprint por motivos deontológicos.
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É um Velopata escaldourofado que atravessa a meta.

Uma palavra de apreço à organização que fez a troupe velopatóide sentir-se em casa nas vossas estradas, salvo o sofrimento infligido na alma e pernas.

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Canhão de Lagos e Bombeiro atravessam a meta em amena cavaqueira.

Nota ultra-mega-hiper-giga-positiva para a empresa do catering do evento que foi capaz de providenciar aos Evos a melhor refeição de todas as que tiveram lugar no Douro.

Nota do autor para o autor: aprender e treinar descidas, voltar e fazer o grandefondue.

Junho – Até os profissionais chamam o INEM.

Seguindo a crescente tendência dos machos que fogem das mulheres com outros machos para partilharem quartos de hotel e de seguida pedalarem juntos em licras coloridas apertadas com ainda mais machos, a Evo Team seguiu a moda e engrenou motores nos granfondues que pelo país polulam, eventos supimpas e velopata friendly.

Sem pensar duas vezes, Canhão de Lagos, Rei do Barranco, Pro Ressabiado, Velopata, Batráquio e Eu-vi-a-luz estavam inscritos no Granfondo SkyRoad Serra da Estrela 2016.

Nas palavras da Srª Velopata, o Velopata estava insuportável e não falava noutro assunto. No início de 2016 um dos objetivos já alcoolizados de meia-noite de 1 de Janeiro do Velopata foi tentar de algum modo, ao longo do ano, fazer a mítica e emblemática e gloriosa e majestosa e torturante subida à Torre. Dezasseis quilómetros de impetuosa subida, terminando no mais épico local velocipédico de Portugal Continental.

“Estás doente?”.

Foi a questão que o Velopata mais ouviu no intervalo temporal decorrido entre o desfecho misericordioso do Douro Mediofondue e o promissor Skyroad Serra da Estrela. O Velopata sabia que esta seria uma dura provação com quatro mil e quinhentos metros de subida acumulado em apenas cento e e vinte e nove quilómetros. Era necessário transformar o corpo de etíope em algo mais arrojado.

A Srª Velopata não tinha memória de um jantar assim. O Velopata saciar-se com apenas duas a três doses do que as habituais quatro ou cinco – estando o actual recorde em sete doses consecutivas de uma refeição. Tal facto é repescado e apontado sempre que o discurso monetário-finançeiro assim obriga a Srª Velopata.

E treino. Como o Velopata treinou. Sempre entre cem a cento e vinte quilómetros nos rolos repartidos de segunda a quinta-feira. Sexta, dia de descanso. Sábado e domingo a carregar pela serra algarvia sempre com doses que deixam o corpo mastigado e cuspido. As subidas do Centro do Universo Conhecido do Velopata fê-las todas. Por vezes de seguida, one shot.

Chegando finais de Junho foi um Velopata transmorfado que se observou ao espelho. Sentia-se em forma. Capaz de trepar a Serra da Estrela como as lendas do passado.

“Estás é magro que nem um tísico! Olha-me para isto, vê-se as costelas todas.” – rematou a Srª Velopata terminando o momento de auto-adoração do Velopata.

Terminando o mês chegava o primeiro revés na nova aventura Evo Team. Compromissos familiares retiravam o Pro Ressabiado da equação Evo. Seria substituído por nada mais nada menos que o Terror das Furgonetas. Que os deuses do velódromo estejam com ele. Se com inclinações de 0,05% o homem necessita um guindaste e não um elástico para entrar novamente no grupo, como iria ele sobreviver à Torre?

Perto do final do mês, aquando da sua presença num jantar oferecido pela Cunhada do Velopata, este travou conhecimento com um amigo de um primo da amiga que era casado com a amiga do primo do maridão da Cunhada e claro, o tema Serra da Estrela surgiu;

“Sério? Vais mesmo subir à Torre de bicicleta a pedal?”.

“Sim.”.

“Como os profissionais?”.

“Mais ou menos sim. A diferença é que eles sofrem mais rápido.”.

“Mas… Não tens medo?”.

“Uai, medo do quê?”.

“Eu já participei na Volta a bordo do carro de apoio da Boavista e justamente nessa etapa. Epá… Até os profissionais chamam o INEM quando chegam lá acima.”.

Poderá existir melhor chavão motivacional?

 

Link para actividade Douro Mediofondue 2016 no Strava.

 

Abraços velocipédicos,

Velopata

4 comentários sobre “Análise anual velopatóide 3 – Maio e Junho

  1. Pingback: A última pedalada de 2016 – Blog do Velopata

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