Análise anual velopatóide 1 – Janeiro e Fevereiro

Depois da romântico-lamechice que foi a última postagem Velonatal, afinal este é um blog para machos de perna depilada que vestem licra justinha ao corpo, é chegada a hora de dizer adeus 2016, olá 2017!

Fui um ano coiso e blá, blá, blá, whiskas saquetas.

Nos próximos dias, o blog do Velopata apresentará uma retrospectiva faseada do que foi a época velopatóide de 2016, culminando com o post onde o Velopata anunciará os seus objectivos para 2017.

Sem mais demoras, siga para Janeiro de 2016.

Janeiro – Um presente envenenado.

O Velopata entrou no ano a pés juntos. Literalmente. O árbitro viu e foi falta. Expulso de vermelho direto, acabou no balneário, triste só e abandonado, gelado sob duche de água fria.

2 provas no calendário. O Altimetria Faro-Fóia 2016 e o Passeio da Benção do Troféu da Diocese da Competição da Igreja da Mãe Soberana da Prova da Nossa Senhora da Piedade dos Ciclistas Amadores de Loulé 2016.

Com base em argumentos mais manhosos que científicos, a Evo Team conseguiu dividir-se pelas duas provas, representando-se pelo Velopata e Rei do Barranco no Faro-Fóia e o Terror das Furgonetas no Passeio da Benção do Troféu da Diocese da Competição da Igreja da Mãe Soberana da Prova da Nossa Senhora da Piedade dos Ciclistas Amadores de Loulé.

Altimetria Faro-Fóia 2016.

Cem quilómetros dos quais os primeiros setenta e cinco a oitenta são praticamente planos, bons para rolar a alta velocidade, atravessando maioritariamente a N125. Deixando o Porto de Lagos para trás entra-se na derradeira subida à Fóia e é o salve-se quem puder.

A tática para esta prova seguiria a tradição. – simples. Encontrar um grupo com uma forte quantidade de roladores e tentar não morrer quando as hostilidades tivessem o seu formal início.

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O Velopata a rolar forte na N125.

Atingiu-se a base da Fóia com média de trinta e oito quilómetros por hora. O Boss do Caffe & Cycles (o Velopata desconhece a alcunha), desviou na frente, terminando o seu trabalho de ser o canhão de serviço do grupo. A vasta experiência do Velopata sabe que aquela agitação de testosterona inicial é de pouca duração e decidiu permanecer sorrateiro no grupo, esperando reações aos primeiros ataques que sucederam e em nada se desenrolaram. Não tardou e mais três bravos se lançaram, criando um fosso que de pequeno se tornou gigante, corridos escassos segundos. Reconhecendo um dos três nomes que saltavam do grupo, o PP, o Velopata tentou a sua sorte. E pegou. Os quatro escapavam-se com boa pedalada.

Que nem tubarões, os dois ciclistas companheiros do Velopata e do PP perscutaram o ar e sentindo o cheiro a sangue no quarteto, lançaram-se ao ataque. Primeiro um, depois o outro, em vagas sucessivas. Não resistindo aos ferimentos, o PP perdeu-se para trás, sempre labutando para não perder contacto visual.

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O Velopata auxília um já amassado PP.

O Velopata estudou os dois adversários, um cota com uma Colnago, um ícone de bicicleta que é velopata friendly; o outro era menos cota e armava-se de uma Scott, marca que o Velopata reconhece como foleira porque ninguém gosta de ter o nome de outro homem escrito no quadro. E todos sabem que o nome de outro homem no quadro só fica bem se eese mesmo nome possuir proveniência italiana. Colnago. Bianchi. Purpurinarello. Até porque, assim de repente, não ocorre ao Velopata nenhuma vitória ou história de vida emocionante desse tal de Scott. Colnago, Bianchi e Purpurinarello. Se não é lei, devia ser. Note, caro leitor, que existem Bianchi em outras cores.

Eles brincaram. Primeiro acelerava um, depois atacava outro. O Velopata manteve a compostura e ritmo enquanto analisou a situação friamente. A brincar deste modo aquelas duas alminhas estavam a passar um cheque que o corpo não poderia levantar.

A Fóia chegou e cobrou. E o Velopata sorriu.

Para trás ficavam duas almas penadas, despidas de toda a licra e carbono, rendidas à força das pernas e psique velopática.

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Velopatus style a dar show.

2 quilómetros para a meta. O Velopata entra na fase final de aproximação à Fóia, aqueles famigerados últimos quilómetros onde a estrada inclina novamente e o vento dilacera as já fustigadas pernas.

E o Velopata teve uma ideia de jerico.

Olhando para trás percebeu que o perserverante PP ainda se mantinha no seu encalço e decidiu esperar. O problema é que o PP não regressava sozinho, trazia um escalfado e rescalfado gajo da linda Colnago na sua roda. Por respeito ao fabricante da bicicleta o Velopata deixou que seguissem os 2 na frente. Peito ao vento o gajo da belíssima Colnago e o PP no meio. Com o PP o Velopata já havia partilhado momentos e existindo conhecimento pessoal prévio, era um ciclista que, à partida, não iria atacar o Velopata. O gajo da Colnago com a geometria clássica lindíssima, o Velopata nunca havia visto mais cota. Poderia trabalhar com o PP e em conjunto descarregarem o gajo, mostrando como dói andar na roda de malta de Faro.

Como se dotado de percepção extra-sensorial o gajo da Colnago adivinhou as intenções do Velopata e decidiu invocar os espíritos velocipédicos italianos adormecidos no quadro da sua máquina para lhe fornecerem a confiança e energia necessárias para fazer tombar Velopata e PP.

Pregados ao alcatrão. Um ataque de sniper. Furtivo e incisivo.

O PP ainda tentou comunicar mas o discurso saíu offline. Sobrou para o Velopata que mordeu o guiador e carregou, motivado em reduzir a diferença.

“Merda, o gajo tem uma Colnago.”.

Foi um comiserado Velopata que assistiu enquanto o gajo da belíssima Colnago passava a meta com uma diferença mínima. A humilhação não se ficou por ali. Também o PP decidiu truçidar a já mortalmente ferida alma do Velopata e atacou sem receber nenhuma resposta.

Bastará dizer que um radiante PP sugeriu que um dos heterónimos do Velopata fosse “O Homem da Fóia”. Quando questionado sobre a justificação respondeu;

“Para mim é e será sempre O Homem da Fóia! Fartou-se de trabalhar na frente e acabou papado por todos!”.

PP, isto significa guerra velocipédica.

O Velopata apontou o teu nome na lista. Descansa bem que na próxima haverá tête à tête.

Foi ou não uma entrada em 2016 a pés juntos?

Digno de chicotada psicológica se isto fosse futebol. Mas ia melhorar.

Quis o destino que nesse mesmo dia se disputasse o Passeio da Benção do Troféu da Diocese da Competição da Igreja da Mãe Soberana da Prova da Nossa Senhora da Piedade dos Ciclistas Amadores de Loulé.

Já de regresso a Faro, zombificados com cento e cinquenta quilómetros na perna, incluíndo uma subida à Fóia, o Velopata e o Rei do Barranco receberam um telefonema do Terror das Furgonetas em estado de orgasmo velocipédico.

Não é que o Terror das Furgonetas, o Evo que com uma inclinação de estrada de 0,05% desaparece para trás, venceu uma prova?

O Passeio da Benção do Troféu da Diocese da Competição da Igreja da Mãe Soberana da Prova da Nossa Senhora da Piedade dos Ciclistas Amadores de Loulé tinham coroado o Terror das Furgonetas vencedor após bater um senhor de noventa anos e uma criança de quinze anos ao sprint. Épico, brutal, top e coiso para a Evo Team! Respect ao Terror das Furgonetas que ofereceu a primeira e muito provavelmente única vitória no vasto currículo nulo da Evo Team.

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Photo-finish da vitória do Terror das Furgonetas no PBTDCIMSPNSPCAL 2016.

Importa notar que até este ponto da vida velopática e civil, o Velopata nunca havia tomado contacto com o licor alemão Killetsphincter que chegou à garrafeira através de um leilão de garrafas oferecidas a todo o departamento, lá onde o Velopata afincadamente trabalha.

Perto do final do mês, após um esgotante treino acompanhado pelo Rei do Barranco e o quebra-pernas de serviço Pro Ressabiado, com o Allgarve Roadfondue Paulo Martins 2016 em vista, o Velopata deu por si deitado no seu antigo sofá. Apetecia-lhe algo e não eram bombons.

Quis o destino que o Velopata decidisse experimentar o tal licor alemão Killetsphincter.

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Aviso; beber por sua conta e risco. Nem a heroína deve fazer tão mal.

Borbulhas no peito ao final das primeiras 24 horas.

Do peito aquilo espalhou para costas e braços.

Borbulhas formam micro-pústulas que rebentam deixando a pele inferior exageradamente seca que cai lembrando neve. A Cadela Esgroviada e a Gata gorda fogem com medo que a neve lhes toque o pêlo. Cada vez que muda de roupa, empapada em restos de creme, o Velopata imediatamente varre o chão. Lembrava um nevão de pele velopática ressequida.

Ao final de 48 horas todo o corpo do Velopata era uma imensa chaga, acima descrita.

E a Srª Velopata lá o levou ao veterinário.

Psoríase.

Fucking psoríase.

Talvez fosse o choque de se descobrir padecer de psoríasite, carregar a condição de psoríacofíliaco, ser psoríacofílico, ou mesmo sofrer de psoríacofilice, ser até portador de psoríacofilizia ou psoríacorise, esta não é uma notícia facilmente digerível.

Pior mesmo era saber quanto tempo o Velopata não poderia treinar.

E não poderia trabalhar, na empresa onde afincadamente trabalha.

E não poderia sair de casa.

E não poderia sair da cama.

Fevereiro – Pode-se morrer disto?

A primeira quinzena do mês foi ainda mais psoríase. Todo o corpo continuava o que parecia a ser a desconstrução da pele velopatóide. Aterrorizado, o Velopata chegou mesmo a consultar o Doutor Google para óbviamente descobrir que se pode morrer de psoríase. Poderia mesmo ser maleita pior e o Veterinário ter apresentado um prognóstico daqueles que só se dão no final do jogo. O Velopata podia bater a bota. Medo.

A segunda quinzena do mês reservava duas oportunidades para os amadores medirem carbono; o Allgarve Granfondue e a Etapa da volta. Toda esta actividade velocipédica inserida no programa da Volta-ao-Algarve-dos-profissionais-que-eram-drogados-mas-agora-até-motores-usam. Um mês de pompa e circunstância no Algarve, a créme de la créme velocipédica.

Fucking psoríase.

De tão seca que estava a pele do Velopata psoríacofélico, as suas virilhas finalmente começaram a poder mover-se em velopatus style a escassos dias da Etapa da volta. O Granfondue já se encontrava nos anais da história mas também já todos sabiam quem ia ganhar, o gajo mais magro, mais solteiro e mais ressabiado.

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Senhoras da equipa 5Quinas no pódio do Allgarve Granfondue 2016. Por óbvias razões o Velopata prefere deixar para a posteridade uma foto de senhoras no pódio, independente da classificação, a colocar uma foto de gajos solteiros, magros e vestidos em licra apertada.

Na Etapa da Volta um Velopata psoríasíaco arrastou-se pela Serra algarvia, rodeado por um excêntrico grupo de lunáticos entusiastas de ciclismo. Colocado na grupo traseiro, atrás da parte traseira de um outro grupo que perseguia o gruppetto que há muito se tinha separado do pelotão, que vinha atrás do último grupo, a última coisa que o Velopata psoriático viu foi um Rei do Barranco coroar-se Rei do Barranco.

Cabisbaixo por não ser oficializada uma classificação no evento, o Velopata esforçou-se por terminar em último;

“É o dobro da publicidade para o patrocinador. Assim que alguém for verificar as classificações lê Evo Team em primeiro e último classificados. É um bom resultado.” – justificou à restante equipa.

Em dois meses, logo nos primeiros dois meses do ano, a Evo Team contava já com duas vitórias e um último lugar. Poderia ser este o ground zero de um ano de glória Evo Team?

“Isso lá são provas de jeito? Vençer isso não conta para nada.” – o próprio Rei do Barranco contestava o seu valor. A falsa humildade do ciclista vitorioso.

“Sabes quem vençeu o Troféu do Alpendre?” – questionou o Velopata.

“Não.”.

“Por isso é que não conta para nada. Afinal é só uma das sete ou oito provas profissionais de ciclismo portuguesa. E estou a falar de uma prova para profissionais que têm um calendário um bocado mais cheio que o nosso.” – o sarcasmo é sempre um ponto forte no discurso velopático.

E por uma vez, contra factos do Velopata, não há argumentos.

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Na Etapa da Volta o Velopata psoríacóolico, porque é como o Gandalf e nunca chega atrasado, conseguiu sair na frente do pelotão. Segundos depois estava já para trás e só voltou a ser visto pelo Carro Vassoura.
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O Velopata psoríacofilíaco já descai no grupo. Destaque para um bom companheiro de pedalada, o Bombeiro, ciclista da Mil Trilhos, que marcou a sua presença atacando fortemente a 1 quilómetro da meta para terminar batido com 2 quilómetros de atraso para o primeiro classificado. Fucking Bombeiro rules!
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O Rei do Barranco decide que está na hora de separar os meninos hirsutos dos homens de perna depilada. E os gajos com psoríacofilinite também devem ser deixados para trás.

O Velopata psoríacopátrico arrasta-se do elevador para o hall de entrada para ser brindado com;

“Foste porque quiseste. Eu disse-te que tu ainda não estavas bem. Agora devias ficar pior para castigo por seres estúpido.” – a sempre motivadora Srª Velopata que tanto ajudou o Velopata durante as crises psoríacosomáticas noturnas.

Para completar a humilhação o Strava registou vários PW – Personal Worst. Média de vinte quilómetros por hora num total de sessenta quilómetros e nem com quinhentos metros de acumulado. Uma miséria. O Velopata ainda pensou em apagar esta do Strava, como faz o Pro Ressabiado. Mas o Velopata não tem vergonha nenhuma.

O dia foi salvo pela única passagem que o Velopata conseguiu ver da Volta-ao-Algarve-dos-profissionais-que-antes-eram-drogados-e-agora-até-motores-usam. Vinham lançados na descida do Barranco do Velho pela Eira da Cevada e pouco mais o Velopata tem a dizer. Adeus World Tour e até para o ano.

Foi ou não um mês em grande?

E o licor era uma bela merda. Não admira que os alemães andem ressabiados.

O Veterinário diz que não foi do licor, é mesmo psoríase.

Fucking psoríase.

Abraços velocipédicos,

Velopata psoríasíte free

8 comentários sobre “Análise anual velopatóide 1 – Janeiro e Fevereiro

  1. Mas faz assim tanta diferenca montar uma Bianchi ou a Scott? Nao sera uma daquelas veleidades manientas das pessoas do desporto. E quase como que jogar com uma bola Adidas e uma bola Nike, se e que eles fazem bolas, sei la.

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