A UCI, para quem não sabe é a União Ciclísta Internacional, uma espécie de FIFA do ciclismo mas com um nível de mafiosidade semelhante, está neste momento reunida com vários representantes das equipas e organizadores das provas, numa tentativa de implementar medidas que permitam o aumento da segurança dos atletas.
Como bom serviço público que é, o Blog do Velopata tem já preparada uma série de recomendações que irá expor à UCI, equipas e organizadores. Aqui ficam algumas das ideias do Velopata que serão com certeza muito acarinhadas e bem vindas no pelotão velocipédico internacional;
Redução do número de atletas por equipa.
Muitos leitores podem não saber mas nas principais provas velocipédica de três semanas; Giro, Tour e Vuelta, o número de ciclistas por equipa é atualmente 9. O Velopata acredita que de modo a aumentar a segurança dos atletas esse número deveria ser reduzido para…
1 único atleta.
Deixaríamos de ter equipas a trabalhar na frente do pelotão e era cada atleta por si só. Acabar-se-ia o andar na roda, à mama dos colegas de equipa, durante 180 quilómetros para, nos últimos 2 quilómetros, acelerar e enxovalhar tudo e todos levantando os braços em glória gritando “Sou o maior!”. Não, não és. Caso os teus colegas de equipa não trabalhassem e te protegessem nos primeiros 5 quilómetros da corrida, já tinhas perdido 10 quilómetros para o pelotão. Nos tempos de outrora, quando as rodas ainda eram quadradas e os ciclistas puxavam por uma bicicleta que pesava o que a coleção toda do Velopata pesa, não existiam equipas. O espectáculo era garantido desde o primeiro ao último quilómetro.
Deixar vencer o Mark Cavendish.
Esta é uma outra regra importante para etapas ao sprint e aquando da presença do Mark Cavendish no pelotão. A regra é simples; se ele estiver presente é deixá-lo ganhar. Isto para evitar aquelas espectaculares cenas de pugilato que o rapaz pratica quando não consegue posicionar-se para lutar por um sprint, resultando assim numa amálgama de carbono e membros decepados espalhados pelo asfalto.

Deixar vencer o Nacer Bouhanni.
Quando a menina referida na recomendação anterior não estiver presente e sim o franco-argelino Nacer Bouhanni, é melhor para a saúde do pelotão deixá-lo vencer. Isto se não quisermos ver cabeçada, pugilato e carbono daquele que é 100% carbono, full carbono e aero carbono amarfanhado pelo alcatrão. Ou dentes a voar.

Nota do autor: Caso na mesma corrida estejam presentes as duas mimadas acima descritas o mais prudente para a organização será atiçá-las mutuamente antes da etapa. A que continuar de pé depois do forrobodó terá direito a vencer a etapa.
Competição apenas nos intervalos de temperatura entre os 20 e os 25º C.
Em tempos idos a lenda Bernard Hinault perdeu grande parte da sensibilidade numa das suas mãos devido ao frio extremo e chuva sofridos durante uma das clássicas da primavera, a Liége-Bastogne-Liége. Também o campeão da esquizo-pedalada Froomster já sofreu queimaduras imediatas de terceiro grau ao pedalar sob um sol tórrido. De modo a aumentar a segurança dos atletas o Velopata propõe que todas as corridas de ciclismo se realizem apenas no intervalo de temperatura entre os 20 e os 25 ºC, sendo que deve estar sol mas não muito, de preferência com umas nuvens ocasionais. Onde é que já se viu pedir aos atletas que se equipem dos pés à cabeça para estar quentinhos ou que pedalem como vieram ao mundo? Ninguém quer ver um escanzelado quase etíope todo nú. E todos equipados dos pés à cabeça não se conseguem ver as caras de sofrimento nem os logotipos dos patrocinadores. E todos sabemos que com chuva ou neve a estrada parece manteiga fora do frigorífico no verão. Como tal proibíam-se as corridas à chuva. Lixados iam ficar os belgas.

Substituir motas por drones e cameras nas bicicletas.
Esta pode gerar muita discussão mas faz sentido. As motas que acompanham as provas seríam substituídas por drones e as bicicletas seriam equipadas com várias câmeras que permitissem ao espectador “sentir” o atleta. Colocar-se-iam câmeras que permitissem ver; a face do atleta, o interior do nariz, o dente chumbado, que mudança e relação ele estaria a usar em determinado momento, a sua posição no selim bem como se posicionam as partes baixas do atleta no interior da licra (se para a esquerda ou para a direita). Com umas 7 a 8 câmeras em cada bicicleta poderíamos ter uma noção do que se estava a passar na prova. Esta medida seria com certeza muito acarinhada pelos canais de televisão que teriam de contratar um elevado número de editores de vídeo. Aumentava-se assim a segurança dos atletas e reduziam-se os índices de desemprego. O Velopata sempre a contribuir com ideias para melhorar a sociedade.

Substituir carros de apoio por outros ciclistas.
Quem quer que já tenha visto uma prova de ciclismo já reparou que se estão 200 ciclistas na estrada então o número de carros e motas que os acompanham será o dobro multiplicado pela potência de dez elevado à quinta. O Velopata acabava com tudo; este desporto é tão bonito e ecológico que não faz sentido nenhum andarem lá veículos primitivos como carros e motas e seria muito mais engraçado (isto no caso da redução de elementos de uma equipa não ser 1 elemento), ver os colegas de equipa do chefe de fila a transportar tudo do início ao final da etapa. Bicicletas suplentes, rodas, câmeras de ar, bidons, comida, doping, enfim, o básico.

O diretor desportivo da equipa também deve seguir de bicicleta.
Os diretores desportivos passariam a deslocar-se de bicicleta pasteleira atrás do pelotão. De modo a passarem instruções aos seus atletas deveriam escrever em papelinhos as instruções que seriam recolhidas por um dos colegas de equipa do chefe de fila, que teria depois de levá-las à frente do pelotão. Nessas pasteleiras deveria ser carregado todo o material que a equipa considerasse necessário – rodas suplentes, bidons e doping.

Importar os espectadores do Ruanda para substituír os europeus.
Uma recente foto do Tour do Ruanda, esse país menos civilizado que França, Itália ou Espanha, evidencia claramente o comportamento típico desse povo africano sem lei; na foto podemos ver como os selvagens agitam as Kalashnikov e as catanas à passagem dos ciclistas, colocando-os em perigo ao encher a estrada em delírio.


Uma outra opção que poderá ser mais barata, uma vez que transportar toda uma nação de ruandeses para França e exportar franceses para o Ruanda deve sair caro, podendo mesmo ser perigoso; em caso de dúvidas olhem para a recente migração de sírios para a Europa; o Velopata acha que atravessar o mediterrâneo de barco, que até é um mar calminho, não é fácil e ao que parece os esclavagistas vendedores de passagens e barcos cobram preços um pouco elevados. Os organizadores da provas podem abdicar da polícia como elemento de segurança e proteção e contratar o Chuck Norris ou o Steven Seagal para batedores. Com certeza sairá mais barato e a proteção dos atletas é 200% mais eficaz. Os ciclistas só não podem é olhar para eles “daquele jeito”. Nacer Bouhanni e Mark Cavendish, ponham-se a pau.
Não competir nas montanhas evitando assim as descidas.
Quem viu o Esteves Cruchevique espalhar-se ao comprido e perder assim as aspirações a vencer o Giro de 2016 sabe do que está o Velopata a falar. Lançar-se a 90 ou mais quilómetros por hora serra abaixo num veículo que pesa pouco mais de 6 kg pode parecer uma maneira divertida de suicídio. Uma luta com o asfalto a velocidades vertiginosas normalmente dita que o vençedor é… O alcatrão. De modo a aumentar a segurança dos atletas o Velopata propõe que as descidas vertiginosas que abundam por essas míticas serras sejam retiradas das provas, fazendo-se assim apenas as subidas ou os planos.
Aumentar a neutralização da fase final da corrida.
Muitos não saberão mas em etapas planas que terminam ao sprint, as organizações providenciam uma “zona neutra” a partir da qual e no caso de queda, um ciclista não perde tempo para o grupo onde estava inserido. Essa zona corresponde a 3 quilómetros da meta. De modo a aumentar a segurança dos ciclistas o Velopata propõe que essa “zona neutra” seja estendida a toda a prova, evitando assim que as equipas dos ciclistas que lutam pela classificação geral tenham de se intrometer nos comboios dos sprinters, prejudicando o espectáculo. É que depois é uma confusão. Nunca ninguém viu um jogo entre o Real Madrid e o Barcelona em que o Cristiano Ronaldo tentásse fintar o Messi, certo? É seguir a mesma lógica.
Criar categorias de peso como no boxe.
O que é que o André Greipel (cognominado O Gorila; 2 metros de altura e quase 120 kg), e o Nairo Quintana (1,50 metros de altura e 40 kg), têm em comum, para além do facto de ambos vestirem licras apertadas? Nada. O ciclismo devia aprender com o boxe, existiriam categorias de peso sendo os participantes nas corridas atletas compreendidos na categoria de peso específica. Assim teríamos o Tour de França dos 40 kg, o Giro dos 50 kg…
Obrigar as bicicletas a virem equipadas com luzes bem como piscas.
Outra ideia óbvia e sensata. Quando um ciclista fizesse determinada borreguice poderiam os restantes espetar-lhe com os máximos nas trombas. Poderiam existir multas para os ciclistas que não sinalizassem devidamente as suas intenções por falta de utilização dos piscas. Haja bom senso se faz favor.
Alimentação idêntica e regional para todos.
Um dos problemas que gera atritos são as diferenças de orçamento entre as várias equipas presentes numa prova. Já os romanos diziam; quanto pior a comida, melhor o exército. Só mais tarde na vida é que o Velopata percebeu porque razão a comida, na cantina da escola secundária e na da universidade, era uma bela trampa. Nestes termos o Velopata propõe que todos os atletas sejam alimentados de igual modo, devendo essa alimentação ter como base a alimentação regional onde decorre a prova, ou seja;
- No Giro apenas comeriam pizza e eventualmente massa com massa, para desenjoar;
- No Tour apenas comeriam baguetes ou croissants simples;
- Na Vuelta apenas comeriam tortillas ou paellas simples.
A alimentação seria única e exclusivamente a acima descrita todos os dias e a todas as refeições – não só melhorava o ambiente competitivo mas também aumentaria exponencialmente a motivação dos atletas para que a competição chegásse ao fim, de modo a poderem voltar a fazer uma refeição em condições. Os produtores de alimentos locais sem dúvida agradeceriam esta medida. O Velopata sempre a contribuir com ideias para melhorar a sociedade.
Com as medidas acima descritas pelo Velopata, a UCI pode ter a certeza absoluta que as competições de ciclismo se tornarão mais seguras.
Fica apenas uma questão pertinente. A prova Paris-Roubaix. Também conhecida como O Inferno do Norte, é iniciada por 200 atletas mas terminada apenas por uma meia dúzia – os restantes ou desistem ou acabam na UCI, que neste caso não é a União Ciclísta Internacional e sim a Unidade de Cuidados Intensivos. Nesta prova a questão não é se este ou aquele ciclista vai cair, é sim quando é que ele vai cair. E se fica paraplégico ou se dá para continuar. Perguntem a qualquer ciclista o que ele pensa desta prova e a resposta no pelotão é unânime “Espectáculo! Mal posso esperar pela edição do próximo ano!”. O leitor deve ter em conta que esta é uma prova disputada com bicicletas de estrada, que poder-se-á dizer estão para o meio velocipédico como os Fórmula 1 estão para os carros. Alguém viu uma prova de rally com carros de Fórmula 1? O Velopata também não mas aguarda com expectativas elevadas que esse dia chegue. Mas eles estão é preocupados com a segurança…

Se alguém tiver mais ideias é deixar um comentário aqui no blog ou mesmo no Facebook do Velopata. A carta ainda não seguiu para a UCI pois parece que querem chamar o Velopata para ir lá botar discurso.
Abraços velocipédicos,
Velopata
Confesso que me fartei de rir do primeiro ao ultimo paragrafo, mas fiquei sem perceber muito bem se as propostas sao intencionalmente tontas ou fazem sentido mas cunhadas com humor.
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Este é o chamado post-shampoo, ou seja é um 2ein1 como diria o eloquente Lauro Dérmio!
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