Consultório do Doutor Velopata

O Velopata não queria acreditar. Nem 1 mês passou após a inauguração do seu blog e recebia a primeira mensagem com um pedido de ajuda;

“Caro Velopata, do alto da sua magnificiência e conhecimentos metafísicos desta mui linda actividade que é o ciclismo, venho pedir-lhe ajuda e conselho. Estou no mercado à procura de uma bicicleta de estrada para triatlos e passeios longos. Sabe onde poderei arrranjar semelhante montada, mesmo em segunda mão? Que bicicleta aconselharia? Muito obrigado.”.

A primeira reação foi de choque e horror.

Um batráquio wannabe a pedir ajuda ao Velopata? Isto será sério ou estão só a gozar?  É que já é senso comum que o Velopata não confia em ninguém que diz “fazer a parte do ciclismo”. Ou é ciclismo ou então é outra coisa qualquer que será sempre um desporto menor. O código deontológico do Velopata proíbe-o de nadar e/ou correr. Apenas pode nadar para evitar o afogamento e correr, só no caso de estar a ser perseguido e não ter nenhuma bicicleta por perto. Além de que correr faz mal aos joelhos e articulações. Não acreditam? Vão rever a etapa deste ano do Tour em que o Froomster decidiu deixar a escavacada Pinarello de carbono, 100% carbono daquele que é mesmo só carbono, full carbono e full aero carbono, e correu em direção ao cume. Lá está, estava a ser perseguido pelo pigmeu colombiano, caso contrário teria ficado à espera que o carro de apoio lhe fornecesse uma nova Pinarello daquelas de carbono, 100% carbono daquele que é só carbono, full carbono e full aero carbono. Digam o que quiserem, a sua técnica de pedalada pode lembrar um louva-a-deus com epilepsia mas o moço sabe que as leis do ciclismo são para se cumprir.

O Velopata divaga. Regressemos então ao assunto que nos traz aqui hoje; que bicicleta recomendar a um futuro (engulo em seco), batráquio.

Caro leitor, parece-me que estáis um pouco confuso. Uma bicicleta para triatlo e uma bicicleta para passeios longos são duas categorias de bicicleta distintas. Para as batraquices quererás uma bicicleta rija que transfira toda a potência que lhe aplicas nos pedais para a estrada, e principalmente um quadro aero. Ou mesmo full aero. Também quererás uma bicicleta leve, apesar da maioria dos triatlos ter pouca ou quase nenhuma subida mesmo – o Velopata não conhece nenhum triatlo que decorra na Serra da Estrela ou na Senhora da Graça.  Neste caso o conforto será a tua última preocupação – a maioria das provas anfíbias são menos de 30 quilómetros e como tal dificilmente farás mais de 40 ou 50 quilómetros de “treino” de uma só assentada.

Para passeios longos, actividade da qual o Velopata é apreciador e entusiasta, a tua prioridade deverá ser o conforto. O aero e o full aero não têm aqui lugar – até porque é senso comum que uma bicicleta bonita deve ter os tubos redondos e não em formato de cunha e o que mais por aí se inventa. Relembrando um dos slogans do Velopata – As bicicletas querem-se como as mulheres! Com curvas!

Vamos por partes então;

Quadro

Actualmente é possível fazer quadros com praticamente todo o material conhecido pela humanidade. Desde o bom e clássico Aço passando pelo Ferro, até ao Titânio, Bambú, Alumínio, Carbono e materiais que não estão na Tabela Periódica recolhidos de meteoritos caídos na terra (como é o caso da Estrela Vermelha), os construtores de bicicletas inventam quadros de tudo e mais alguma coisa. A minha opinião? Opta por Alumínio ou Carbono daquele que é mesmo só carbono, 100% carbono, full carbono. Só não necessita é de ser full aero carbono. Tendo em conta a vasta experiência do Velopata com quadros podemos clarificar as suas características do seguinte modo;

  • Aço e Ferro – qualquer buraco na estrada te fará sentir que descobriste a cratera do meteorito que extinguiu os dinossauros;
  • Alumínio – qualquer buraco na estrada te fará pensar que mais valia teres comprado um BTT;
  • Carbono – qualquer buraco na estrada te fará sentir que não vais ter filhos;
  • Titânio – é tão barato que o Velopata nunca viu sequer à venda uma bicicleta em titânio. Mas reza a lenda que parece levitar na estrada.

Grupo e componentes

Em relação aos componentes da futura máquina o Velopata recomenda tudo em aero. Selim aero, guiador aero, pedais aero, espigão aero e avanço aero. De preferência tudo em carbono daquele que é só carbono, 100% carbono, full carbono e full aero carbono.

Mentira.

Tudo o que é componente em carbono daquele que é só carbono, 100% carbono, full carbono e full aero carbono é provável que se parta ao primeiro encontro com o asfalto. São opções financeiro monetárias. O selim é muito importante no caso de ainda pensares reproduzir-te.

Quanto ao grupo o Velopata recomenda Shimano 105 ou Shimano Ultegra. O 105 é mais leve na carteira e bem afinado funciona na perfeição. Deixa o Shimano Dura-Ace para os profissionais. O Ultegra é para um ciclista que já sabe o que quer – funciona ligeiramente melhor que o 105 e aguenta porrada a monte sem desafinar – o Velopata sabe que no pelotão profissional português são muitos os ciclistas que utilizam Ultegra nas suas binas de treino. Quanto ao número de velocidades, 10 ou 11, o Velopata acredita que tal não faz diferença. Importante mesmo será a pedaleira. O Velopata é fã da relação 52/36 T. Assim não ficas sem poder pedalar numa descida e o sofrimento a subir é o mesmo, com a diferença que vais mais depressa. Quanto à cassete, a relação ideal será 11-28 T que é a mais comum e nenhuma montanha te meterá medo. Importante também são uns bons travões e respetivos calços. Esta magnífica peça é muitas vezes descurada mas pode salvar vidas – a tua e a dos desgraçados que estão na tua roda. O Velopata é fã dos Sram Red com calços Swiss Top mas com uns Ultegra também ficarás bem servido. Já os 105 não travam, apenas abrandam a bicicleta e com isto a tua confiança a pedalar no maralhal de batráquios pode ficar sériamente comprometida. Na tua relação com a tua montada, sempre importante são os pedais. Neste caso, não só o Velopata como muitos outros ultra ciclistas recomendam os Shimano PD-R540 SPD SL. O Velopata era uma larva pré-ciclista quando os adquiriu e ainda hoje não apresentam folgas e prendem o sapato ao pedal qual mexilhão nas rochas.

Rodas

Diz-se que a maior invenção da humanidade foi a roda. Juntar duas foi o auge evolutivo do engenho humano. O Velopata recomenda qualquer roda que não as Shimano R500 ou as Mavic Aksium que são os modelos de entrada mais comuns. Se a bicicleta que adquirires vier equipada com estas rodas – troca-as quanto antes! Numa relação preço-qualidade as rodas Shimano batem a concorrência e o Velopata é fã das Shimano Ultegra – não sendo as mais leves do mercado saberás que com estas rodas poderás pedalar num holocausto nuclear que elas não te deixarão apeado. Outra boa opção serão as Mavic Ksyrium. Como todos saberão foi a Mavic que inventou a roda – procurem nos desenhos animados dos Flinstones e verão nas rodas dos seus carros o famoso “M” negro em fundo amarelo. Em caso de dúvida opta sempre por seguir o já famoso ditado velocipédico que todos os mecânicos ouvem pelas oficinas por esse mundo fora – “Se são estas que a Team Sky usa, então são boas!”.

Pneus

Do topo da sua experiência e magnificiência o Velopata recomenda 4 pneus;

  • Vittoria Rubino Pro
  • Continental Grand Prix
  • Michelin Lithion 2
  • Schwalbe Marathon

Também aqui a questão triatlo/passeios longos se torna pertinente. Para batraquices o Velopata recomenda pneus standard de 23″. Para as longas distâncias os pneus de 25″ ou mesmo 28″ aumentam bastante o comforto. Das 4 marcas de pneus acima descritas, os Michelin e os Schwalbe apresentam um ponto negativo – em caso de furo a meio de uma prova anfíbia mais vale desistir pois quando os conseguires remover do aro já com certeza os organizadores da prova estão a arrumar os pódios e a remover as barreiras da meta. Resumindo, são rijos que nem cornos. Já os Vittoria e os Continental estão entre os melhores pneus do mercado sendo praticamente anti-furo. Infelizmente são pro-furo na carteira. Quanto à longevidade os Schwalbe são considerados dos mais duradouros. Lá está, é optar por um compromisso.

Em jeito de remate uma coisa é certa na tua próxima bicicleta. Se o quadro, componente ou peça apresentar um nome que te faz pensar em naves espaciais ou parece saído de uma série de ficção científica – então é bom. E caro.

Tendo em conta o preço, que aqui não revelarei por questões político-partidárias, que disseste querer gastar, o Velopata poderá recomendar-te algumas bicicletas. O mais difícil será recomendar segunda mão pois o Velopata desconfia sempre de alguém que se quer desfazer de uma bicicleta. E esse alguém poderá dizer que a bicicleta tem 100 quilómetros negativos quando na realidade tem mais de 10 vezes 10 elevado à quinta potência de 10 quilómetros já feitos. Nunca saberás. Pode ter experimentado o asfalto 50000 vezes e dir-te-ão “Nunca caíu!”. Resumindo, ou é de confiança ou… Além de que, como já referido anteriormente, as bicicletas são como as mulheres e o Velopata não conheçe nenhum homem que tenha uma mulher-helicóptero (inteligente, gira e boa), que a queira despachar.

Assim sendo, a melhor bicicleta que poderás adquirir será…

(Pausa para o rufar dos tambores)

BH PRISMA!

prisma
A BH Prisma é considerada uma das melhores bicicletas do mundo. O facto de ser a bicicleta do Velopata é apenas uma feliz coincidência.

Com ela poderás desancar a maioria dos batráquios que se coloquem na tua roda e é confortável para longas distâncias – até hoje nunca falhou ao Velopata. Poderás sempre adquirir à parte uns extensores de guiador aerocoisos para conectar ao guiador e assumir uma posição full aerocoiso. Só não sei se conseguirá caber dentro do teu orçamento mas o Velopata já encontrou na internet uns sacristas que queriam vender modelos idênticos. Perdoa-os Santo Joaquim Agostinho que eles não sabem o que fazem!

Se optares por modelos de marcas inferiores o Velopata recomenda também as Cannondale, modelo Caad. São quadros em alumínio mas apresentam pesos inferiores a algumas máquinas de carbono e certos conhecidos do Velopata admitem ser das bicicletas mais confortáveis que já pedalaram. A taiwanesa Giant também tem boa relação qualidade-preço.

A opção é tão vasta que agora depende de ti. Corre as lojas do Algarve e arredores. Pergunta aqui e ali e se puderes pede para fazer uma test-ride. Pesquisa na net. Lê reviews.

O último conselho que te posso dar é o seguinte; deixa-te de batraquices e vem mas é pedalar com o Velopata!

Abraços Velocipédicos,

Velopata

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