Brevemente serão 3 anos que pela primeira vez pedalei com esta troupe.
Foi numa das falecidas provas do Transroad, a etapa Faro-Alcoutim, organizada pela Altimetria Associação Desportiva. O acto de inscrição foi à herói – não conhecia ningém e esta prova assemelhava-se a um contra-relógio por equipas. Ser-me-ia atribuída uma equipa com base no tempo que esperava demorar a fazer os cerca de 98 quilómetros do percurso. Lembro-me de ficar pasmado a olhar para a ficha de inscrição – Ritmo intermédio – pareceu a melhor opção.
E com esta escolha quis o destino que me saísse na rifa a Evo Team.
Não trocaria a Evo por nenhuma outra das equipas que entretanto descobri existirem pelo reino dos algarves. Com eles aprendi muito; percursos, caminhos, estradas boas e más, manhas e desculpas esfarrapadas.
É então justo que apresente a minha equipa, em gesto de agradecimento e dedicatória, aos milhares de leitores que já acompanham este blog por esse mundo fora.
Pro Ressabiado
Seria o chefe de fila da Evo Team se esta não fosse uma comuna anarco-sindicalista esquizofrénica. Pedala, treina e coloca o grupo em sofrimento como um profissional. Não distingue passeio, cicloturismo e treino leve de uma corrida ou competição. Nas suas próprias palavras “Média abaixo de 35 km/h é vergonha e não se coloca na net!”. Podem encontrá-lo nas folgas a passear de bicicleta com a filha – já estão a ver a pobre coitada na sua roda em sofrimento. Ainda a pequena não tinha tirado as rodas de apoio do triciclo e já o Pro Ressabiado lhe exigia recordes (KOM´s), nos segmentos do Strava. Espera-se que aos 18 anos de idade esta jovem seja já capaz de competir com os melhores do mundo na Volta a França femenina. O nível de ressabiamento é tal que esconde os seus treinos dos outros colocando-os como privado no Strava que relembro ser uma espécie de rede social para ciclistas. O que é tão útil como ter um facebook privado. É o Evo que menos noção das suas capacidades tem; por norma ouvimo-lo dizer “Epá ´tou todo roto, já não treino há 2 semanas”, enquanto descarrega todo um pelotão subida acima. Ou então é só falsa modéstia. Dada a sua espectacular técnica de controlo da bicicleta e as velocidades que é capaz de atingir é claramente o Evo que mais vezes testou a densidade do alcatrão algarvio. E percebeu que era bem rijo. Se não acreditam perguntem-lhe à clavícula.
Rei do Barranco
Se o Pro Ressabiado é o chefe de fila então o Rei do Barranco é o capitão da Evo Team. É quem mais domina as estatísticas, teorias e metafísicas do ciclismo. Em rapazote assistiu a etapas finais da Volta à França nos Campos Elísios e quando a crise da meia idade se instalou (algo comum a quase 90% do pelotão velocipédico amador), optou pelo desporto do ciclismo, possivelmente por nostalgia. Gasta pouco dinheiro com a bicicleta pois está convicto que melhores peças e componentes não terão expressão na estrada; “O que conta são as pernas!” é um dos seus slogans. Por esta razão trocou o simples GPS que tinha por um de topo – com certeza irá melhorar a sua performance na estrada… É um ciclista bastante completo pecando apenas no ponto de vista psicológico; prepara-se afincadamente para as corridas e chegando a hora da verdade, mal é dado o tiro de partida, conclui que não está para sofrer desligando-se da prova. Ainda assim é um dos Evos que contribuíu para o palmarés da equipa ao vencer o Passeio da Volta ao Algarve 2016 tendo-se coroado Rei do Barranco. É também o ciclista que mais vezes tem acompanhado o Velopata nas suas aventuras terminando-as sempre com expressões como “Estou escalfadinho…” ou “Morri três vezes…”. É castigo por te andares a gabar de nunca ter visto nenhum Senhor dos Anéis seu blasfemo!
Canhão de Lagos
Todas as equipas têm um bon vivant e esta expressão avec assenta-lhe que nem uma luva. Se meter copofonia e/ou comidofonia é garantido que o Canhão de Lagos marcará presença. Gaba-se de ser um melhor ciclista quando não treina o que rapidamente é comprovado ao ficar para trás quando a estrada se apresenta com inclinações de 0,001 %. O seu terreno predileto são as descidas onde se torna difícil de acompanhar pois é detentor de uma boa técnica. É também um bom rolador. É um Evo dedicado à equipa tendo sido o principal responsável pela participação da equipa em provas como o Douro Granfondo e o Granfondo Serra da Estrela. Ainda assim o Velopata tem uma pequena quezília com este membro da Evo tendo em conta a frase certa vez proferida pelo Canhão de Lagos ao chegarmos a Monchique – “Já estou farto de andar de bicicleta!”. Na humilde opinião do Velopata isto é pura e simples blasfêmia.
Terror das Furgonetas
Reza a lenda que uma furgoneta se deslocava na estrada do aeroporto em Faro quando foi atingida por um cometa? Um asteróide? O condutor, a medo, saíu da esfrangalhada carrinha e para seu espanto encontra o Terror das Furgonetas, impávido e sereno, apenas com uma das mãos fustigada. A furgoneta, pobre coitada, nunca mais foi a mesma precisando de meses no estaleiro para recuperar. Ainda assim é o Evo que mais vezes falta às pedaladas pois descobre sempre uma nova lesão. A sua principal lesão, na opinião dos restantes Evos, é mesmo a hipocondriquice. Percebe muito de bicicletas e componentes mas percebe pouco de ciclismo. Usa os óculos por cima das fitas do capacete, anda na meia-roda enfim, o leque de ofensas à lei velominati perpetradas não caberia neste post. Detentor de uma visão raio-x aprimorada, consegue identificar qual o modelo e componentes de uma bicicleta num vislumbre de escassos segundos. Gosta de bicicletas vistosas. A par do Canhão de Lagos é também um bom ciclista a descer, sendo um dos piores Evos a subir – basta a estrada inclinar 0,000001% e lá está o Terror das Furgonetas a ficar para trás. Tem 2 particularidades engraçadas e únicas no pelotão amador algarvio – as suas médias são medidas em “Número de fotografias por quilómetro” e é um dos ciclistas que mais barras energéticas consome podendo mesmo dizer-se que os seus treinos, ao contrário de todos os outros ciclistas, terminam com saldo positivo de calorias. Juntamente com o Rei do Barranco é o outro detentor das duas únicas vitórias em provas que a Evo Team obteve, tendo vencido a IX Edição da Benção dos Ciclistas realizada em Loulé neste ano de 2016. Foi uma vitória inesquecível para a Evo Team especialmente por ter sido ao sprint e ter batido categoricamente um senhor de 80 anos e uma criança de 10.
Batráquio
Quando ser mau num só desporto não é suficiente os ciclistas procuram outras áreas. Foi o que aconteceu ao Batráquio que decidiu ser mau em três desportos distintos, optando assim por se especializar no triatlo. É um dos estrangeiros da equipa; holandês de nacionalidade destesta pedalar à chuva. Percebem? É holandês e no entanto é o Evo que menos gosta de pedalar à chuva. Um pouco como o Rei do Barranco que é de origem africana, vive no Algarve e detesta calor – é a já famosa lógica esquizocoiso da Evo Team. A par do Velopata e do Pro Ressabiado é um dos Evos que mais treina mas raramente distâncias superiores a 30 quilómetros que é no que consistem a maioria dos triatlos. A sua bicicleta anteriormente era reconhecida por andar sempre… Uhm, como direi… Toda cagada. Entretanto trocou a BH por uma Canyon (passou de cavalo para burro na minha humilde opinião), e começou a prestar mais atenção à limpeza da montada. A identificação da sua bicicleta é fácil; é a única na Evo Team que tem barras aerocoiso conectadas ao guiador. É caso para dizer, à boa maneira Óbelixiana “Estes holandeses são doidos!”.
Pipoca
O outro estrangeiro da equipa. Proveniente de uma região de nome impossível de pronunciar na Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia, é um Evo que, à primeira vista, se parece mais com um campeão da musculação do que um ciclista. Ou um crossfitercoiso. Mas não se deixem enganar pelo tamanho e musculatura; é capaz de descarregar muita gente nas mais inclinadas subidas. Dono de um excelente humor apelidou o Pro Ressabiado de “Anti-Socialista” dadas as suas já referidas aptidões sociais. Atravessa neste momento uma fase negra da sua vida pois tentou trocar a bicicleta por uma mota. Felizmente parece ter-se arrependido e começou novamente a treinar. A seu tempo veremos se temos o Pipoca de outros tempos de volta. Sei que falo por toda a Evo Team quando espero que isso aconteça rápido. Só não acontece mais cedo pois o seu principal companheiro de pedalada/treino é o Pro Ressabiado que é uma força motivacional da natureza, só que ao contrário.
Espadachim
Também conhecido por Eu-vi-a-luz, é o Evo que mais experiência em cima (e por baixo), da bicicleta tem. O Velopata só tem uma coisa a dizer quando alguém passou por uma experiência de quase morte com a bicicleta – Respect! Já pedalou por estradas e míticas montanhas Europa fora mas infelizmente teve de abandonar os Algarves tendo-se mudado para Lisboa. Ocasionalmente regressa o que é sempre razão para uma boa pedalada onde aparecem quase todos os Evos, que muito o respeitam. O Velopata nutre uma simpatia diferente por este Evo apesar de o conhecer pouco – é o outro Evo que gosta do seu cigarrinho pré e pós-volta!
Papa-Alfaces
Papa-Alfaces é o alter ego do Velopata na Evo Team. A alcunha pegou rapidamente ao saberem que é vegetariano. Juntamente com o Batráquio é outro ciclista com especialização na Evo Team sendo a sua as longas distâncias. Pelo menos ele quer acreditar que assim o é. Sendo o Papa-Alfaces le moi, não irei perder tempo a descrever o quão espectacular sou. Deixo apenas uma lista das coisas que o vosso amigo Velopata já ouviu dos comparsas;
- Tens falta de vitamina B12! – Pro Ressabiado, tu é que tens falta de B12 e é no cérebro.
- Qualquer dia tenho de te ir buscar a casa! – Rei do Barranco, pois como não viu o Senhor dos Anéis não sabe que o Velopata é como o Gandalf.
- Treinas muito mas andas pouco! – o Canhão de Lagos é outro especialista em motivação.
- Dói-me o joelho, não posso ir. Dói-me a tíbia, não contem comigo! Dói-me o perónio, estou fora! – Terror das Furgonetas, porque a hipocondriquice não tem limites.
- É a primeira vez que te vejo sem licras! – Batráquio, durante uma reunião de equipa no Bike Lounge em Faro. Ainda bem ninguém ouviu, caso contrário, poderiam surgir dúvidas quanto à nossa sexualidade.
- Tás armado em anti-socialista comó outro? – Pipoca aquando da fuga de vários quilómetros do vosso amigo Velopata num treino conjunto com outras equipas.
- Vamos mas é fumar um cigarrinho antes disto começar. Vamos em jejum mas não faz mal! – Espadachim, pouco tempo antes do pequeno almoço que serviria de fuel para a participação Evo no Granfondo Serra da Estrela.
Podemos parecer poucos mas na realidade a Evo Tem divide-se em 2 categorias;
- os ciclistas que realmente pedalam, descritos acima.
- os que nunca pedalam e só aparecem nas jantaradas.
Este segundo grupo pouco conheço para poder ofendê-los como já ofendi os acima.
Mas se trocava esta equipa por outra?
Não, apesar dos altos e baixos, porras e maus feitios que por vezes mostramos uns aos outros na estrada não trocaria nenhum Evo. Aprendi muito com eles (e acho que também aprenderam qualquer coisa comigo).
Deixo a foto que capta um dos únicos e inesquecíveis momentos em que grande parte da Evo Team se juntou para um treino. Claro está que como boa comuna anarco-sindicalista esquizofrénica alguns membros não aparecem na foto. Mas serve para mostrar o equipamento que é bem bonito e alvo de inveja de outras equipas algarvias.
Abraços velocipédicos,
Velopata
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