Velopatia – O início (parte 1)

Perguntam vocês “O que é um Velopata?”.

Tal como a descrição acima indica um Velopata é alguém que sofre de Velopatia, uma condição em que o indivíduo sofre de um amor incondicional por bicicletas. É alguém que acredita que o mundo seria um local bem melhor se TODOS andassem de bicicleta.

Não acreditam?

Vejamos uma análise dos principais problemas que afligem a humanidade;

– Poluição e alterações climatéricas; esta é óbvia, não irei perder tempo a explicar.

– Habitação; se retirássemos os locais de estacionamento para as latas, sobraria espaço urbano para se poderem construir mais habitações.

– Alimentação; esta é lixada pois é certo e sabido que os ciclistas, regra geral, seguem a conhecida “dieta do porco”, ou seja, comem tudo o que lhes metam à frente. Mas lá está, havendo menos espaço urbano dedicado às latas sobraria espaço para maior produção agro-pecuária.

– Saúde; esta também tem uma lógica bastante óbvia, mais actividade desportiva praticada pela população diminuíria a carga sobre o nosso sistema de saúde. Estudos daqueles da internet afirmam que a prática de actividade desportiva promove um melhor desempenho cerebral. A menos que começem a sofrer de velopatia, corridopatia (runnopatia em inglês), crossfitopatia, enfim vocês entendem. Já diziam os antigos “tudo o que é demais enjoa”. Claro que os antigos que escreveram isto nos anais do tempo não tinham experimentado andar de bicicleta.

– Guerras e Terrorismo; este é um assunto que actualmente aflige a humanidade. Pensem comigo, alguém teria paciência para andar à porrada depois de 150 quilómetros de bicicleta? Ou de se fazer explodir depois de ter pedalado pelas colinas de Lisboa? Andar de bicicleta assemelha-se em tudo ao cachimbo da paz dos índios. Quando muito as guerras seriam resolvidas à boa maneira velocipédica. Imaginem o Obama e o Putin numa disputa de bina subida acima. Ganharia o gajo que chegasse primeiro ao topo. Simples, não?

– Energia; circulou pela net um vídeo onde um ciclista pedalava num rolo de treino ligado a uma torradeira. Minutos depois lá saltou a bela torrada já pronta. Conseguem imaginar um gajo como o sprinter André Greipel (ou Gorila como lhe chamam), a pedalar em vossa casa? Com os mais de 2000 watts de potência que é sabido que ele produz poderiam alimentar todas as necessidades energéticas de vossa casa. Zás! Problema energético resolvido.

Se assim fosse uma coisa vos garanto – até os extraterrestres iam querer aprender a andar de bicicleta quando cá chegassem.

Perguntam vocês “Ó Velopata quando é que descobriste que padecias dessa condição?”

Eu explico, mas não vamos saltar etapas.

Corria o ano de 2013 sendo o motivo o habitual nestes contos épicos.

Dinheiro.

Luís de Camões escreveu os Lusíadas porque estava à rasca de dinheiro, o Almada Negreiros falou mal do Dantas porque este ganhava mais dinheiro que ele, Romeu e Julieta conheceram-se numa festa de ricos e deram o problema que deram porque eram de famílias ricas, caso contrário eram só mais uma manchete do Correio da Manhã, o Pingo Doce afinal é holandês porque assim paga menos impostos, os jogadores de futebol piram-se para o estrangeiro porque além de ganharem mais pagam menos impostos e muitos ciclistas vivem na Suíça porquê? Porque além de ganharem mal – pagam menos impostos. Lá está, dinheiro.

O dinheiro não era muito, dava para a casa, contas – agora tenho de engolir em seco e admitir – para a minha lata. Era um Ford Fiesta côr de laranja. 1200 de cilindrada mas como não era; nem carbono daquele que é 100% carbono full carbon, nem full aero, chupava gasolina como um cigano chupa subsídios.

Um amigo conhecia o meu passatempo hortofrutícola nas vanrandas lá de casa que pareciam autênticos jardins de ervas aromáticas – não, não eram daquelas para fumar, não se ponham já com ideias; tomateiros, alfaces, cenouras, courgettes e tudo o mais que desse para plantar. Sendo um porreiro esse amigo decidiu “emprestar-me” um lote de terreno para os lados do Principado do Chelote onde poderia praticar um pouco de crossfit aproveitando para produzir produtos biológicos.

Um mês depois percebi que o custo em pitróleo era elevado. Muitas vezes eram 4 viagens por dia, o crossfit que lá fazia puxava à larica, e ir a casa almoçar e regressar à horta perfazendo 16 quilómetros por dia com a lata tinha os seus custos.

“Tenho de arranjar uma mota ou algo que me faça gastar menos”.

Procurei preços de motas na internet, novas, em segunda, terceira e quarta mão mas era tudo muito caro para as minhas possibilidades. Poderia ter comprado uma sim, mas depois iria dar razão ao ministro que dizia “vivermos acima das nossas possibilidades”.  Notem; sabendo o que sei hoje as bicicletas são bastante mais caras que motas, além de que as motas são um veículo ainda mais primitivo que as latas – poluem tanto ou mais e transportam menos humanos; mas onde é que eu tinha a cabeça? Enfim, acho que todos temos direito a momentos de fraqueza.

Notem que até esta fase da vida o Velocipata era adepto de tudo menos desporto. E adorava conduzir.

“Bem, como uma mota está fora de questão e que tal uma bicicleta? Deixa ver o que há por aí.”.

Um belo dia peguei na Srª Velopata e fomos até à Decathlon mas nem ia com intenções de ver bicicletas.

Foi amor à primeira vista.

cappuccino

Lá estava ela com o seu belo quadro cor de cappuccino, rodas de 20″, 7 mudanças Shimano Tourney, selim super confortável e até já trazia umas luzinhas. Fui para casa ver vídeos e ler reviews. Vários prémios ganhos e considerada uma das melhores bicicletas da B´Twin. Até sonhei com ela.

Dias depois já pedalava até ao Principado do Chelote com um rasgado sorriso na cara.

Os primeiros sintomas de Velopatia, sem que me apercebesse revelaram-se. Adquiri um porta-bagagens porque era melhor para levar tralha para a horta. Capacete e luvas. Luzes melhores. Conta-quilómetros todo supimpa para fazer médias de 18,5 km/h – andava a dar-lhe muito!

Dei por mim a fazer o trajecto casa-horta-casa por outras estradas que levavam mais tempo. Cheguei a sair de casa e “ir dar uma volta” sem destino nenhum só para poder pedalar.

Em Agosto desse ano, com o calor que se fazia sentir, decidi fazer um intervalo no crossfit hortícola e ir almoçar a casa. Sempre era uma desculpa para passar mais um tempo montado na minha Cappuccino. Confesso que nunca fui muito de televisão mas nesse dia, enquanto almoçava, liguei a televisão. Zapping rápido e adivinhem o que transmitia a RTP2?

A Volta a Portugal em bicicleta.

Aquelas imagens mexeram comigo. “Se andar na Cappuccino é fixe, ó Velopata imagina lá a sensação que deve ser pedalar numa bina daquelas!”.

E assim se iniciaram os planos para a aquisição de uma bicicleta de estrada.

Sabem o que aconteceu à lata Ford Fiesta côr de laranja? Esteve 2 anos completamente parada até que recebi uma aviso da câmara em como a iam rebocar. Acabou vendida por duas tutas e meia ao ferro-velho. Desde então só voltei a conduzir uma vez, por alturas do Audace Espiche-Fóia-Espiche organizado pela Federação Portuguesa de Ciclismo e só porque a Srª Velopata não me quis levar até lá porque “Estar em Espiche às 07 da manhã?!? Isso é muito cedo. Deixa-me dormir. Se queres mesmo ir a essa corrida pega no carro e vai tu”. E assim foi. Um horror. Ali enclausurado dentro da lata. Não sei onde andei com a cabeça durante todos estes anos. Assim que pude meti-me na autoestrada porque conduzir no meio da cidade ou na N125 ia ser um suplício. Nunca mais precisei de conduzir – já lá vão quase 4 anos!

Abraços velocipédicos,

Velopata

2 comentários sobre “Velopatia – O início (parte 1)

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